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Monumentos históricos estão abandonado – DN Cidade

By 25/10/2009janeiro 18th, 2011No Comments

FALTAM CUIDADOS (25/10/2009)

Apesar de estar em melhor estado, a estátua em homenagem ao escritor José de Alencar sofre com a sujeira

Praça da Lagoinha: estátuas estão sendo usadas como apoio para exposição de produtos de ambulantes KID JÚNIOR

Praça da Lagoinha: estátuas estão sendo usadas como apoio para exposição de produtos de ambulantes KID JÚNIOR

O que poderia servir para contar a nossa história, inclusive a turistas, anda muito mal cuidado, depredado ou incompleto. Em algumas praças do Centro, os monumentos históricos que fazem alusão a grandes personalidades do Estado estão pichados, quebrados, com peças furtadas e sem placas de identificação. O Diário do Nordeste visitou cinco estátuas em espaços públicos e constatou que faltam cuidados por parte do poder público e da população.

Tanto que bastou chegar à Praça Dom Pedro II para constatar que a espada do imperador não estava mais em suas mãos. Já as placas de identificação foram arrancadas, restando apenas marcas, pichações e buracos dos pregos na parede branca. Na popular Praça da Lagoinha, talvez esteja um dos piores exemplos de depredação. No local, há três estátuas: do médico Abdenago da Rocha Lima; do escritor Capistrano de Abreu; e do atleta João Jucá.

No momento, até o acesso a elas é difícil, devido a partes soltas do piso e a buracos na praça. Além disso, as obras estão pichadas, descascando e apenas servindo de apoio às cordas de sustentação das barracas dos vendedores ambulantes. Salvo a do médico Rocha Lima, as outras duas estão sem placas de identificação. O mesmo problema acontece com a estátua da mártir Bárbara de Alencar. Nela, localizada na Avenida Heráclito Graça, não há nada que indique quem produziu a obra ou a quem ela se refere.

“Não sei se é homem ou mulher, mas, por estar de vestido, deve ser mulher mesmo. Não sei quem é ela, se houvesse uma identificação ajudaria a gente a conhecer nossa história, a procurar saber mais”, reclama a assistente administrativa Érica Dias, 32 anos. Na Praça dos Leões, a escritora Rachel de Queiroz continua sem os óculos, além de a placa informativa estar sem algumas letras.

Por fim, o monumento em homenagem ao escritor cearense José de Alencar, na praça que recebe seu nome, até que encontra-se em melhor estado se comparado aos demais. Contudo, é possível ver manchas e restos de comida nas bases do patrimônio público. “Não considero que os monumentos estejam bem cuidados. As autoridades não dão atenção necessária às nossas cultura e história, e a população também não se encarrega de preservá-los. Eles servem para relembrar fatos históricos, mas acho que é da nossa cultura não valorizar esses patrimônios”, critica o empresário Rodrigo Sabóia, 32 anos.

Assim como Rodrigo, o mestre em História Social e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Francisco Moreira, também atribui à cultura o descaso e o abandono do espaço público. Conforme considera Moreira, o poder público está numa “fase” de abandono total em relação à manutenção de praças e patrimônios históricos.

Desvalorização
Por outro lado, comenta, a partir do momento em que a população também não ocupa os espaços de forma regular, há a ocupação irregular por parte de moradores de rua e ambulantes, resultando em furtos, pichações, depredações etc. “Os monumentos fazem parte da história da cidade. A gente está passando por uma fase, que acredito passageira, de abandono total pelo poder público”.

Ainda na opinião do especialista, mesmo que a população não cuide ou lute pela preservação do patrimônio histórico-cultural, só o fato de estar usando o espaço de forma regular já impede que aconteçam os problemas, hoje, enfrentados.

JUSTIFICATIVAS
Manutenção só em 2010, diz Prefeitura

Embora a situação dos monumentos esteja lamentável, a titular da Secretaria do Centro (Secefor), Luiza Perdigão, informou que os reparos e a manutenção das praças e dos monumentos somente acontecerão em 2010. De acordo com ela, “não há mais verba para este ano”. Até porque, justificou, Fortaleza sofreu, em 2009, uma grande redução de verba no Fundo de Participação dos Municípios, repassada pelo governo federal.

“A Prefeitura teve uma perda muito grande. Então, há obras e manutenções que tivemos de deixar de fazer”. Entretanto, como antecipou, o edital de licitação para obras de manutenção dos locais no Centro já está sendo finalizado. A expectativa da Prefeitura é de que, ainda este ano, ele seja lançado para que as obras iniciem em 2010.

“Estão previstas obras de manutenção, limpeza, consertos e reparos nas praças do Centro”. Inclusive, Luiza Perdigão comentou que haverá um equipe responsável para averiguar, com frequência, a situação das praças e como a população se comporta, para que a Prefeitura possa “monitorar” a necessidade de intervenções.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Questão de educação patrimonial

O Centro é o bairro que mais concentra edificações antigas, em Fortaleza. São mais de 200. Em todas as praças, encontramos problema de conservação. Tanto que, praticamente todos os monumentos, como as estátuas, estão com as placas de identificação arrancadas. Isso porque, em boa parte, falta fiscalização do poder público.

Esses problemas de conservação acontecem por falta de educação patrimonial. Isto é, nas escolas, não se criam projetos nem realizam campanhas para que os alunos possam conhecer e valorizar a própria história da cidade, do Estado e da importância desses monumentos. Sem educação, não será possível ver os monumentos preservados. Isso envolve, inclusive, moradores de rua em projetos para que se tornem guardiães do espaço público.

As praças e os monumentos históricos precisam de um olhar mais cuidadoso. Não é apenas limpar, mas incentivar ações que garantam uma mudança na forma de as pessoas observarem a cidade. Como não há campanha forte, a população não aprende a valorizar esses patrimônios. A Prefeitura de Fortaleza não apoia programas como o “Fortaleza a Pé” que percorre o Centro, com turistas. Infelizmente, quando percorremos a área central, tentamos amenizar as mazelas que há. Entretanto, nosso papel, não é se desculpar pela má educação e pela falta de atenção do poder público. Precisa haver um incremento na educação patrimonial de crianças e jovens. Com educação, tudo vai para frente.

Gerson Linhares
Pesquisador e turismólogo

ENQUETE
O que você acha desse descaso com o patrimônio?

“As estátuas não são bem cuidadas. Todos esses monumentos têm um significado importante”
Ana Cássia Lima Abreu
45 ANOS
Vendedora

“Falta mais cuidado do poder público com a manutenção. Isso é triste porque o turista, com certeza, critica muito”
Maria de Lourdes Matos de Sousa
62 ANOS
Ambulante


JANINE MAIA
REPÓRTER

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=683567

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