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Ir ao Centro da Capital: autoflagelação

By 03/03/2016março 4th, 2016No Comments

Ontem, fui mais uma vez ao Centro de Fortaleza na visita quase mensal a Gilberto, o talentoso barbeiro do salão

Jornalista Luiz Sérgio Santos

Jornalista Luiz Sérgio Santos

Presidente, que frequento há décadas. Ir ao centro da cidade poderia ser uma catarse mas, nos dias de hoje, é pura autoflagelação. Mesmo assim, pontos como o salão Presidente e o sebo do Sebo O Geraldo, na Rua 24 de Maio, 950 são apelos irrefutáveis assim como o caldo de cana do Leão do Sul e, agora, o espetacular Museu da Indústria, em frente ao Passeio Público.

O salão Presidente não tem cabeleireiro, tem barbeiro — o nome fundador da profissão —, e tem muita história. Por aquelas cadeiras, passaram políticos e empresários que ajudaram a fazer a história do Ceará, como Plácido Castelo, como Clóvis Rolim, dentre tantos. Quando a vida da cidade era polarizada pelo centro, o salão Presidente era um polo de poder ambulante. Até hoje, o advogado Ernani Uchoa Lima, parte vida da história dessa cidade, é cliente regular do lugar. Mas, como falei, ir ao Centro da cidade é um ato de autoflagelação. A gente vê como a cidade está largada.

É preciso caminhar pelas calçadas, sempre cabisbaixo, pra não ser surpreendendo por aclive ou por buraco e eles são tantos e são constantes. É preciso se desviar das dezenas de obstáculos, de toda ordem. É preciso não olhar para a sujeira e para a poluição visual e, se você procurar uma lixeira, não vai encontrar.

No entorno da Catedral da Sé, uma feira indiana avança na faixa de rolamento dos veículos. Todo o entorno da catedral está tomado por vendedores ambulantes. Dá para entender porque a Arquidiocese mandou construir uma consistente cerca de ferro no entorno da catedral. É uma maneira de protegê-la da ausência de autoridade municipal e do excesso de vandalismo em uma cidade largada ao deus-dará.
A cem metros do gabinete do prefeito da cidade, uma cena dantesca.

Dezenas de pombos se alimentam de restos de comida jogados pelos feirantes na calçada leste da Catedral em frente ao Palácio do Bispo — sede da administração [administração?] municipal da cidade. A dezenas de pombos têm na fachada do Palácio do Bispo seu entreposto de decolagem e também o ponto predileto de onde marcam, com suas fezes, a parte mais elevada do edifício.

É possível que os pombos estejam, com esse ato, querendo dizer alguma coisa. É possível que eles estejam gritando e pedindo algum tipo de cuidado. Mas, certamente, os pombos estão obrando no vazio — quem não cuida das pessoas, e da cidade, vai cuidar de aves tão indesejáveis? Não à toa as portas e janelas frontais do Palácio do Bispo estão lacradas. O prefeito adentra o prédio — diferentemente de antes —, sempre pelos fundos. O que os olhos não veem…

Fortaleza já teve grandes prefeitos, e muitos deles andavam no meio do povo — o último foi Juraci Magalhães. Prefeitos que construíram a Avenida Bezerra de Menezes, a Avenida João Pessoa — toda concretada construída por Álvaro Weyne —, a Avenida Aguanambi, a Avenida Leste-Oeste. Hoje, até as obras de restauro da Avenida Beira-Mar são superfaturadas. O Passeio Público, a chamada Praça dos Mártires, está largada e tem até criadouros do mosquito.

Bancos da Praça do Ferreira, nosso marco zero, estão quebrados, e a própria praça, a partir de 18 horas, todos os dias, é terra de ninguém – cheia de zumbis, drogados. Idem, a Praça José de Alencar.
Tudo muito deprimente. Não menos deprimente que a omissão do gestor municipal.

Luís Sérgio Santos
Jornalista

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