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Cadê as calçadas do Centro? DN Cidade

By 15/03/2010janeiro 10th, 2011No Comments

OCUPAÇÃO IRREGULAR (15/3/2010) diariodonordeste.com.br

Panelas e outros produtos à venda impedem que os pedestres andem nas calçadas e na faixa, na General Sampaio  MARÍLIA CAMELO

Panelas e outros produtos à venda impedem que os pedestres andem nas calçadas e na faixa, na General Sampaio MARÍLIA CAMELO

Por todos os lados, é possível ver, nas já apertadas e inadequadas calçadas, manequins, varais de roupas, carrinhos de cocos, frutas, verduras, e até veículos. O comerciante Antônio Santos comenta que sempre faz compra no Beco da Poeira. Ele diz ficar revoltado com tanta impunidade. “Os motoristas não respeitam os pedestres e param em qualquer lugar. Para eu pegar ônibus, preciso ir à rua”, diz.

As críticas de Antônio são válidas, já que até mesmo o espaço das paradas são usados pelos vendedores e veículos, impedindo o acesso do transporte. De acordo com o arquiteto e urbanista Edilson Aragão, professor da Unifor, a situação existe porque “o poder privado ocupa o espaço e expulsa os pedestres, que são os mais frágeis”.

Mesmo na faixa, pedestres são obrigados a desviar de carrinhos de catadores de lixo, na Rua Barão do Rio Branco

Mesmo na faixa, pedestres são obrigados a desviar de carrinhos de catadores de lixo, na Rua Barão do Rio Branco

Por conta disso, como se pode observar nas vias, o pedestre não dispõe de faixas de pedestres livres e calçadas ideais. Na opinião do promotor de Justiça Gilvan de Abreu, do MPCE, as Regionais precisam intensificar a fiscalização. Segundo ele, a medida não seria, simplesmente, expulsar os comerciantes dos espaços, pois eles precisam do trabalho. “O ideal era encontrar locais adequados. Podia fazer como na Liberato Barroso, em que a via é fechada. Falta apenas boa vontade”

Com opinião semelhante, Aragão indica que os comerciantes devem ser “acolhidos” e receber locais adequados. Segundo ele, Fortaleza sempre foi vocacionada para o comércio, sendo esta uma atividade importante para a economia local. Porém, com a falta de fiscalização e de espaço, os pedestres sofrem para se locomover. “A sensação é que prevalece a lei do mais forte. Feira existe em todos os países, mas tem hora para começar e terminar”.

Como ainda defende Aragão, é preciso que haja uma política de engenharia de trânsito urgente na Capital. Para Abreu, este ano de eleições é o momento propício para se discutir novas alternativas, como o rodízio. Conforme Aragão, é preciso intervir com mudanças de sentido das vias, criação de acessos com outras ruas, inclusive com a retirada de canteiros das vias, que servirão para que as calçadas sejam alargadas e feitas com qualidade superior. Além de, como defende, a demolição de prédios que não têm valor histórico para colocar os ambulantes.

Na Rua Senador Pompeu, até mesmo os veículos são estacionados na faixa que deveria ser de uso dos transeuntes

Na Rua Senador Pompeu, até mesmo os veículos são estacionados na faixa que deveria ser de uso dos transeuntes

Segundo ele, devido às recentes alterações ocorridas na Avenida Engenheiro Santa Júnior e na Barão de Studart, parte do efetivo que trabalha no Centro foi deslocado para orientar motoristas nos locais. Ele ressalta, que, diariamente, a fiscalização no Centro é feita por três viaturas, duas duplas de agentes de motocicleta, além de seis homens a pé. Para justificar alguns problemas, o coronel listou algumas dificuldades encontradas durante a fiscalização.

Sobre as irregularidades na Avenida Tristão Gonçalves, por exemplo, ele afirma que mototaxistas e motoristas, que estacionam irregularmente, têm informantes com equipamentos de rádio para avisá-los sobre os agentes. “É uma dor de cabeça, pois é impossível multá-los com esse esquema”, frisa. Sobre as motocicletas estacionadas irregularmente na Rua Clarindo de Queiroz, ele ressalta que é um problema antigo, mas afirma que a equipe de engenharia de trânsito da AMC está estudando propostas para solucionar os problemas existentes no local.

Também na Senador Pompeu, ambulantes utilizam a faixa de pedestres para comercializar frutas, verduras e atrapalhar o trânsito

Também na Senador Pompeu, ambulantes utilizam a faixa de pedestres para comercializar frutas, verduras e atrapalhar o trânsito

Já em relação à Rua Governador Sampaio, o coronel diz que reconhece a situação, mas não vê muitos problemas no local, já que não é comum o tráfego de carros pequenos. “Aquele comércio é antigo, e só quem passa por ali são caminhões para descarregar mercadoria”, diz. No que se refere aos ambulantes, a secretária do Centro, Luiza Perdigão, avisa que este ano será de reordenamento dos vendedores no bairro. Porém, como justifica, isso tem de ser feito de forma ordenada e estudada, já que se trata de uma cultura arraigada. Por conta disso, Luiza antecipa que após a transferência dos vendedores da Lagoinha e do Beco da Poeira, em abril, os trabalhos serão dirigidos às Ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso. Além disso, ela afirmou que um estudo já foi realizado para saber quais as concentrações e os principais problemas. Tanto que três imóveis já foram identificados e estuda-se a possibilidade que eles venham a ser tornar espaços extras.

ANÁLISE

Que tal ir ao Centro a pé, em vez de carro?

Janayde Gonçalves
Repórter de Cidade

Ainda na Rua General Sampaio, os idosos também precisam recorrer à via pública para passar, correndo o risco de serem atropelados pelos veículos e atrapalhar o trânsito

Ainda na Rua General Sampaio, os idosos também precisam recorrer à via pública para passar, correndo o risco de serem atropelados pelos veículos e atrapalhar o trânsito

Com a vida frenética que os cidadãos têm levado, não existe tempo para perceber o real significado da cidade, das ruas ou de cada espaço onde nos posicionamos. Ao adentrarmos o Centro, podemos entender que ali seja apenas uma concentração de lojas, serviços e comércio, mas não é. Atualmente, as ruas, único espaço “livre” entre as opressivas edificações, transformaram-se muito.

Quase não existe espaço de ventilação e de descanso para a visão. De um lado, vê-se painéis, toldos e fachadas poluídas com a publicidade. No meio, posicionam-se os postes de concreto, combinando com o cinza das calçadas. Elas, que deveriam ser o local de passeio, estão cada vez menores e estranguladas pelo comércio. Devido a essa situação, que se repete em muitos centros, alguns gestores têm tomado medidas severas.

Mais uma vez, os pedestres têm de desviar de ambulantes, que vendem frutas e verduras justamente na faixa de pedestres, impedindo também a visão dos motoristas, na Rua São Paulo

Mais uma vez, os pedestres têm de desviar de ambulantes, que vendem frutas e verduras justamente na faixa de pedestres, impedindo também a visão dos motoristas, na Rua São Paulo

No Centro de Recife, por exemplo, veículos automotores não entram. Ônibus e carros limitam-se a circular por fora do centro comercial, um quadrilátero de lojas, ruas, praças e igrejas. Assim, o fluxo nas ruas é livre. Mesmo com as edificações, temos a sensação de que o território é mais humano. Antes de existir a atual quantidade de carros em Fortaleza, as pessoas iam a pé ao Centro. Da década de 70 para cá, o homem não perdeu sua capacidade de caminhar, mas parece que perdeu a de entender o que significa espaço público.

JANINE MAIA E KARLA CAMILA

REPÓRTERES

Embora haja a placa proibindo estacionar, mototaxistas fazem ponto parando bem abaixo da sinalização. Para piorar, há carros parados na outra faixa da Rua General Sampaio

Embora haja a placa proibindo estacionar, mototaxistas fazem ponto parando bem abaixo da sinalização. Para piorar, há carros parados na outra faixa da Rua General Sampaio

Também na Guilherme Rocha, os pedestres precisam se arriscar entre os carros

Também na Guilherme Rocha, os pedestres precisam se arriscar entre os carros

Na Rua Clarindo de Queiroz, além do problema antigo das motos estacionadas, motoristas e pedestres ainda precisam disputar o espaço das vias com os carrinhos de ambulantes

Na Rua Clarindo de Queiroz, além do problema antigo das motos estacionadas, motoristas e pedestres ainda precisam disputar o espaço das vias com os carrinhos de ambulantes

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