CEARÁ – 23/01/2011 Diário do Nordeste]
[/Na Capital, a maior parte da população usa os coletivos e vem das classes C e D. Juntas, totalizam 75,70%
Mais da metade dos cearenses ainda dependente do transporte público. Isto porque 66,7% da população não possuem veículo automotivo particular, seja carro ou motocicleta.
Mesmo com o aumento anual da frota de veículos no Estado, o uso do transporte individual é ainda menor do que a utilização do transporte coletivo. Os dados foram revelados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no estudo "Mobilidade urbana e posse de veículos: análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009".
De acordo com a pesquisa, a taxa de motorização da população brasileira é crescente, mas no Ceará ela ainda é inferior à de outros estados nordestinos como Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Maranhão. Também de acordo com o Ipea, na área urbana, a posse de automóvel é quase o dobro da encontrada na zona rural.
Nos últimos anos, a possibilidade de adquirir veículos privados aumentou. Mesmo assim, parte da população cearense, seja no Interior ou na Capital, não pode contar com a alternativa de deslocar-se em carro próprio, revelou a pesquisa.
O resultado do estudo é confirmado pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza S/A (Etufor). De acordo com o órgão, na capital cearense o número de passageiros dos transportes coletivos é expressivo: são 1.037.362 pagantes das tarifas de ônibus, por dia, o que representa 42,38% da população. Isso sem contar aqueles que utilizam gratuitamente o serviço: idosos, crianças, pessoas com deficiência e seus acompanhantes, respectivamente.
As pesquisas feitas pela Etufor traçam um retrato ainda mais aprofundado sobre a importância dos ônibus para os moradores de Fortaleza. Os dados da Etufor sobre demanda de transporte público por classe econômica em Fortaleza revelam que a maior parte da população residente na Capital – que pertence às classes C e D – é também a grande usuária de ônibus. Juntas, somam 75,70% do total de passageiros.
Por outro lado, as classes A e B concentram a ocupação das vias públicas com seus veículos automotores particulares. E o reflexo da presença desses veículos de menor porte nas vias é evidente. Diariamente, as situações de congestionamento entre eles só aumentam, mostrando que o padrão de mobilidade urbana vem se alterando gradualmente ano a ano.
Sustentável
Para o coordenador do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), Daniel Lustosa, diante da atual situação existente em Fortaleza, um programa de mobilidade adequado deveria possuir uma visão de futuro e, ao mesmo tempo, ser factível no presente. Entretanto, "a escassez de recursos faz com que a garantia de uma mobilidade sustentável se dê através da otimização das infraestruturas existentes".
Conforme o gestor, baseado nos conceitos de coletividade, mobilidade urbana sustentável e acessibilidade universal, o Transfor irá priorizar o transporte público, implantando três corredores exclusivos para a sua circulação: Antônio Bezerra/Papicu, Augusto dos Anjos/José Bastos e Senador Fernandes Távora/Expedicionários. No total, são 45 km de corredores de transporte, 14 km de duplicações e alargamentos viários, 23 km de restaurações viárias, 30 km de ciclovias, 82 km de rede de drenagem, 164 km de calçadas padronizadas e acessíveis, ampliação e humanização de quatro terminais de integração, obras de arte – como túneis, viadutos e passarelas, 122 semáforos inteligentes.
O gestor acredita que, com a implantação do Transfor, o tempo das viagens diminuirá, o tempo de embarque e desembarque dos passageiros, aumentando a segurança no trânsito de veículos e pedestres. "Para concretizar tais quantitativos, várias obras já estão em andamento, incluindo drenagens, alargamentos e restaurações das vias, como: Sargento Hermínio, Domingos Olímpio, Bezerra de Menezes, Humberto Monte".
Fique por dentro
Mobilidade Urbana
Pensar em mobilidade urbana é refletir como se organizam os centros urbanos em relação ao deslocamento das pessoas e os meios de transporte em um espaço para a realização de suas atividades cotidianas (trabalho, educação, saúde, atividades culturais e lazer) em um tempo considerado ideal e de modo seguro e confortável.
Os estudos sobre o tema não podem deixar de avaliar as questões tecnológicas que envolvem desde os meios de transportes à qualidade da infraestrutura viária e ao controle do trânsito.
Grandes cidades, como Fortaleza, têm o problema da mobilidade urbana agravado, já que, além do fluxo cotidiano, apresenta um fluxo adicional, proveniente da sua condição de cidade turística.
Avaliação
Bom
Taxa congelada: Fortaleza permaneceu com sua tarifa de ônibus a R$ 1,60 por mais de quatro anos. Hoje, tem a tarifa mais barata entre as cidades com sistema integrado do País: R$ 1,80 a inteira e R$ 0,90 a meia passagem. A capital cearense é também a única onde a meia é ilimitada: o estudante paga meia quantas vezes quiser, em qualquer horário.
Mau
Velocidade média: é de apenas 12km/ hora nos deslocamentos feitos em transporte público na Capital. A lentidão no trânsito se dá pelo aumento de veículos na metrópole, a desproporção de vias para a quantidade de carros, bem como pela concentração de empregos e residências em pequenas áreas. A ausência de corredores exclusivos também é problemática.
FORTALEZA
2ª Capital com menor tempo de deslocamento
De acordo com a pesquisa "Mobilidade Urbana e posse de veículos", do Ipea, o tempo de percurso casa-trabalho de 62,9% dos moradores de Fortaleza é inferior a 30 minutos. O resultado representa o segundo menor tempo gasto, quando se comparam as dez maiores regiões metropolitanas brasileiras.
Em melhor eficiência de transporte, quando se fala do tempo de deslocamento, está a capital do Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, apenas 5,9% da população gasta mais de uma hora com transporte e 67,2% chegam em menos de 30 minutos aos seus destinos.
O Instituto de Pesquisa atribui diversos fatores aos resultados registrados nas cidades com menor tempo de percurso. Dentre eles, está a eficácia no sistema de trânsito e transporte destes municípios. A distribuição dos locais de empregos e residência da população também é um fator de beneficio considerado pelo Ipea.
Em Fortaleza, o que podemos observar, de acordo com o titular da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Ademar Gondim, é uma concentração de mobilidade da periferia para a região de produção econômica. A grande parte da população se desloca, nos mesmos horários, das Regionais mais distantes para a área central, e também para os bairros da Secretaria Executiva Regional (SER II), núcleo da cidade onde estão localizados os conglomerados de comércio e serviços. É o caso da enfermeira Flávia Gomes. Ela se desloca diariamente do bairro Autran Nunes para o Centro, onde trabalha. Acostumada com o longo tempo que leva entre pegar o ônibus, passar pelo terminal e chegar até o trabalho, ela discorda do resultado da pesquisa sobre o tempo médio de 30 minutos de deslocamento do cearense.
"Todo dia, para ir e para voltar leva um tempo, com certeza, mais de uma hora. E quem precisa caminhar muito para ir até a parada? Ou pegar mais de um ônibus?", indagou.
Ao falar de quem precisa tomar mais de um ônibus, a enfermeira adiantou uma das metas de melhoria da Etufor. De acordo com o diretor da Etufor, Ademar Gondim, a ampliação do serviço de integração temporal é uma das prioridades do órgão.
Atualmente, mais de 5.260 combinações entre linhas de ônibus estão disponíveis para a população, mesmo assim, o número ainda é pequeno para a demanda existente.
A integração temporal beneficia quem precisa usar mais de uma linha de ônibus, já que permite ao usuário do transporte coletivo, em um certo intervalo de tempo e pagando uma única passagem, utilizar uma combinação de dois ônibus na sua viagem, sem a necessidade de passar por terminal.
JANAYDE GONÇALVES
ESPECIAL PARA CIDADE
Enquete
Tempo gasto
"Qualquer trabalhador, que more na periferia, leva de uma a duas horas para se deslocar de ônibus. De carro é menos."
Joaquim Serpa
40 anos
Contínuo
"Levo, no mínimo, duas horas para sair da Aldeota, onde trabalho, e chegar ao Henrique Jorge, bairro onde moro."
Francisco José Nascimento
35 anos
Contínuo
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=921716