À margem do sistema financeiro (16/2/2006)
O comércio da Capital cearense é predominantemente informal, composto por microestabelecimentos, de baixíssimo nível tecnológico e gerencial, além de passar à margem do sistema financeiro tradicional. Embora represente cerca de 57% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e empregue 70,6% da população ocupada na cidade, o setor terciário de Fortaleza se ressente da falta de capital de giro e da alta carga tributária — entraves ao seu crescimento, à maior participação na formação das riquezas do Estado e à formalização dos empregos.
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Os dados resumem os principais resultados do I Censo do Comércio de Fortaleza, realizado pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC) e apresentados ontem, em entrevista coletiva, pela diretora-executiva do órgão, Renata Serra. O mapeamento é fruto da parceria entre a Federação do Comércio do Ceará (Fecomércio), Federação das Associações do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária do Estado (Facic), Associação Comercial do Ceará (ACC) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE).
Com um índice de informalidade que chega a 56,60%, a atividade comercial de bens e serviços da cidade está basicamente restrita às microempresas. Elas compõem nada menos do que 95,24% dos estabelecimentos mapeados. Outras 4,21% são pequenas; 0,37% são médias e apenas 0,18% são grandes empresas. O critério desta classificação é o do Sebrae, que estabelece como micro as firmas com zero a nove funcionários.
“Pelo tamanho dos empreendimentos, altamente informais, há uma conseqüência que é o fato de 58,71% dos negócios não possuírem funcionários”, comentou Renata Serra. Segundo ela, é muito comum o próprio dono ser o encarregado pelo estabelecimento. Outro dado alarmante, para ela, é o fato de 24,23% dos empreendimentos formais não possuírem empregados com carteira assinada. “Isso evidencia a necessidade de se rever a política empregatícia desse País, com altos encargos sociais”, comentou o presidente da Fecomércio, Luís Gastão Bittencourt.
ENTRAVES – A falta de capital de giro (38,68% das respostas), o tamanho muito pequeno do negócio (13,18%) e a carga tributária excessiva (12,94%) foram os principais motivos apontados pelos entrevistados para justificar a informalidade de seus empreendimentos. “A empresa não tem condições financeiras de se formalizar. Quanto menor o faturamento, maior a propensão da firma de ser informal”, acrescentou a diretora do IPDC.
Para Gastão Bittencourt, o “vários dados da pesquisa chocaram”. O principal foi a constatação de que 74% dos estabelecimentos não têm ligação com o sistema financeiro tradicional. “Esse dado mostra a perversidade do sistema bancário do País. E isso se desvia também para a questão dos juros, das taxas de serviços dos bancos e de outros entraves”, comentou.
Por outro lado, a informação de que 30,73% dos negócios realizam vendas por meio da caderneta, para o presidente da Fecomércio, revela que o comércio de Fortaleza, em pleno século 21, ainda se mantém na base da confiança. Para o presidente da Facic, Francisco Barreto, o Censo do Comércio será uma ferramenta importante de combate aos entraves do setor.
Samira de Castro
Fonte Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=315928
Imagem http://verdesmares.globo.com/downloads/16EC0101_1000.jpg