casarões ocupados
Imóveis antigos são ocupados por famílias vindas da periferia e do Interior. Mas há também marginais escondidos ali
Casarões antigos do Centro de Fortaleza, que nas décadas de 50 e 60 eram ocupados por famílias tradicionais, em ruas como Princesa Isabel e Teresa Cristina, se transformaram em refúgio de marginais. Assaltantes, arrombadores e pequenos traficantes agora ocupam o espaço em meio a famílias humildes vindas do Interior do Estado ou da periferia da Capital que moram ali de aluguel.
Um desses casarões, situado na Rua Teresa Cristina, entre as ruas São Paulo e Senador Alencar, passou a ser conhecido na área como ´Carandiru´, numa referência ao antigo presídio paulista palco de uma carnificina em outubro de 1992, quando um massacre deixou 111 detentos mortos durante rebelião.
Assaltos
É neste ´Carandiru´ à cearense que marginais se escondem durante o dia para, à noite e durante as madrugadas, ocuparem as ruas próximas, assaltando e agredindo transeuntes. Sem qualquer tipo de policiamento para reprimir a ação dos ladrões, trabalhadores que se deslocam para os pontos de ônibus na área acabam sendo atacados por bandidos usando armas brancas e de fogo.
O ´foco´ principal da ação dos marginais são as avenidas Tristão Gonçalves e Imperador, e as ruas Liberato Barroso, Guilherme Rocha, São Paulo, Alfredo Salgado, Padre Mororó, Pedro Pereira, Pedro I, Castro e Silva e até a movimentada Avenida Duque de Caxias. Os assaltos acontecem numa área extensa onde só há policiamento durante o dia.
À noite e durante as madrugadas, os moradores e comerciantes, além da população flutuante do Centro que se dirige para casa, fica à mercê dos marginais. Nem mesmo a existência de uma delegacia plantonista na área (o 34º DP) e de uma companhia da PM (a 5ª Cia. do 5ºBPM) inibe os criminosos.
Indignados, os moradores e comerciantes afirmam que não sabem mais para quem apelar. Nem a implantação do Ronda do Quarteirão amenizou a ação dos marginais. Moradores da Rua Alfredo Salgado denunciam que a viatura do Ronda nunca passa ali.
ESCONDERIJOS
´Carandiru´ e ´Poupa Ganha´ são refúgios de assaltantes
Os moradores da área, comerciantes e transeuntes são os alvos dos criminosos na Malha Central de Fortaleza
“À noite, isso aqui vira uma terra de ninguém. Não tem Polícia e os ladrões ficam no meio da rua. Ninguém toma providência”, afirma uma moradora da Rua Princesa Isabel, próximo ao cruzamento com a Rua São Paulo. Com medo de sofrer represálias, ela pede para não ter seu nome divulgado.
Além do ´Carandiru´, outro ponto que abriga marginais em pleno Centro da Capital cearense é um prédio abandonado situado na Avenida Imperador, onde, antes, funcionava a sede de uma administradora de loterias. Com a saída da empresa do local, o imóvel foi invadido por famílias vindas do Interior e da periferia da cidade. O lugar passou a ser conhecido como a ´Favela do Poupa Ganha´. Constantemente, marginais se refugiam ali depois de praticar assaltos nas vias próximas como as avenidas Imperador, Duque de Caxias e ruas adjacentes.
O tráfico de drogas também é intenso, fomentado por dezenas de bares que funcionam durante toda a noite e madrugada sem nenhum tipo de autorização ou fiscalização.
Mesmo assim, viaturas da PM podem ser vistas todas as noites nestes locais. A farra prossegue madrugada adentro e só acaba pela manhã.
Crimes
Com diversas vias interditadas pelas obras do Metrofor, a área do Centro próxima às praças da Lagoinha e José de Alencar viraram território dos assaltos, já que viaturas da Polícia Militar não têm como trafegar ali. Somente durante o dia, duplas de policiais a pé circulam pelos dois logradouros.
Mas é no quadrilátero formado pelas avenidas Tristão Gonçalves e Duque de Caxias e ruas Castro e Silva e Padre Mororó onde os assaltos acontecem com maior frequência durante o período noturno.
Vendedores ambulantes e comerciantes da região afirmam que os roubos estão ligados diretamente ao consumo de drogas, especialmente o crack. A venda de ´pedras´ acontece em áreas próximas às praças da Estação (Castro Carreira), José de Alencar, Lagoinha e na Favela do Oitão Preto, onde, nas últimas semanas, a Polícia Militar, através do Batalhão de Choque, fez a prisão de vários traficantes, inclusive uma mulher que controlava um dos pontos de venda de drogas ali.
Registros
No 34º DP (Centro), os registros de furtos e roubos são comuns e, segundo os policiais daquela distrital, nos períodos de aquecimento de vendas no comércio, como no Natal, Ano-Novo, Dia das Mães e Dia dos Namorados, os Boletins de Ocorrência aumentam. Contudo, as policias Civil e Militar montam estratégias especiais, com operações de reforço de efetivo na Malha Central.
Mas, nas datas comuns do resto do ano, o policiamento diminui, e os criminosos agem com maior intensidade.
Ocupação
9,9
mil domicílios existem no Centro de Fortaleza, segundo o IBGE. A área é tomada, diariamente, por uma grande população flutuante
POLÍCIA
Comandante do Ronda diz que área é ´tranquila´
Para o coronel PM Gomes Filho, comandante do Ronda do Quarteirão, a Avenida Imperador e a Rua Teresa Cristina, onde se localizam, respectivamente, a Favela do Poupa-Ganha e o prédio do Carandiru, são áreas ´tranquilas´, se comparadas a outros locais perigosos da Capital.
Em resposta a moradores do Centro, que também reclamaram da falta de policiais que inibam a ação de criminosos na área, Gomes Filho disse que, se todos os fortalezenses fossem questionados sobre a presença de policiamento em seus bairros, a maioria iria se mostrar insatisfeita.
Segundo o comandante, na região onde se localizam os casarões, o Ronda do Quarteirão trabalha com uma equipe por turno (6 horas às 14 horas, 14 horas às 22 horas e 22 horas às 6horas), seguindo a recomendação da corporação de que deve haver uma patrulha a cada três quilômetros quadrados. “Além disso, há equipes do Raio (Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas) dando apoio”, completou o coronel.
Sobre os crimes praticados nas ruas próximas aos casarões, Gomes Filho afirmou que se trata apenas de pequenos furtos e roubos, que, segundo ele, estão, em sua maioria, ligados ao tráfico de drogas. “Boa parte dos objetos roubados e furtados são usados como moeda para comprar narcóticos”, explicou.
O comandante do Ronda também responsabiliza os proprietários dos casarões pelo perigo que os imóveis trazem ao abrigar assaltantes e traficantes. Mas, segundo ele, o número de ocorrências tem diminuído.
FERNANDO RIBEIRO
EDITOR DE POLÍCIA
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=989256
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