EDITORIAL do jornal Diário do Nordeste
Verdadeira horda de novos bárbaros – oriundos das fileiras do mau sindicalismo – promoveu, ontem pela manhã, uma depredação na sala de entrada do Diário do Nordeste, atingindo o clímax de um processo de baderna instalado pelo Sindicato dos Gráficos e que se consumou com a participação, cúmplice e decisiva, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. O radicalismo grevista, sem meios de atingir o objetivo de paralisar a atividade do jornal – uma instituição de interesse público – apela para violência, praticando crimes contra o patrimônio material e integridade física de outros trabalhadores, como se nesta terra não houvesse nem lei nem autoridade.
Antes, o clima vinha se agravando com ameaças de agressões físicas e de morte a diretores do jornal e a trabalhadores que não aderiram à greve.
Desde janeiro, o Diário do Nordeste e demais empresas jornalísticas realizam rodadas de negociações com o Sindicato dos Gráficos, procurando encontrar um ponto de equilíbrio capaz de repor as perdas de salários e adicionar ganhos reais em bases exequíveis, de acordo com a realidade econômica do País. A intransigência, contudo, tem sido a tônica da minoria que se arvora no direito de representar os trabalhadores do setor, mas se mostra despreparada para exercer a liderança do movimento.
O ambiente de provocações, instalado ao longo dos meses de tentativas de acordo, resulta das lições de violência que tem dado em Fortaleza o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil. As destruições do patrimônio alheio e o bloqueio das principais avenidas têm gerado constrangimento e medo na população ordeira da Capital. A Praça Portugal se tornou o palco e a Avenida Desembargador Moreira, o corredor dos baderneiros e vândalos. Cada “desfile” promovido por grevistas resulta em prejuízos para os estabelecimentos comerciais e de serviços.
Infelizmente, o Sindicato dos Gráficos incorporou à sua conduta esse péssimo exemplo dessa entidade congênere.
Diante de fato tão lastimável quanto perigoso, as autoridades com atribuições na área trabalhista e policial devem estar atentas, para coibir a tempo os excessos intentados por grupos irresponsáveis, descompromissados com as instituições que dão emprego, não só aos grevistas, mas a muitos outros trabalhadores honestos e responsáveis, que têm receio e repudiam tais manifestações abusivas. Na escalada da violência e com a eventual leniência das autoridades, o nível danoso do próximo atentado grevista pode ser desastroso.
O poder público, incumbido de mediar as relações patronais e laborais, não pode se omitir diante de tantos estragos proporcionados pelos profissionais das provocações, insultos e atentados. As manifestações de rua têm inquietado o cidadão. Não será dessa maneira que os sindicatos patrocinadores dos grevistas convencerão a opinião pública da procedência de suas reivindicações.
A ordem democrática assegura o direito de greve, mas elege o diálogo como o recurso capaz de superar os conflitos. Defendemos este caminho por ser o meio civilizado para a superação das diferenças e para a busca de um ambiente construtivo. Qualquer atividade humana exige um mínimo de ordem e de limites. Sem ele, prevalecerá o caos e as regras da convivência darão lugar à selvageria.
Basta de violência! A questão salarial não pode se transformar em questão de segurança pública. As legítimas negociações das categorias deve acontecer em ambiente de respeito e entendimento.
AGRESSÃO
Diário do Nordeste é depredado por grupo de grevistas radicais
Operários da indústria gráfica se uniram aos da construção civil e, além de atacarem o jornal, agrediram funcionária
Por volta das 10h50 da manhã de ontem, trabalhadores da indústria gráfica e da construção civil encontraram-se em frente à sede do Diário do Nordeste. Durante cerca de 30 minutos, o que se ouvia eram vozes do comando grevista, entre elas, a do presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, Rogério Andrade, proferindo insultos à categoria jornalística. Depois disso, só o que se escutou foi o estardalhaço de vidro quebrado e gritos de medo e pânico dos funcionários da empresa.
O direito de greve e manifestação, garantidos pela Constituição Federal, se transformaram em pura violência. Além da depredação do prédio do jornal, a apresentadora da TV Diário, Maísa Vasconcelos foi uma das que sofreu violência gratuita praticada pelos grevistas. Ela foi intimidada por um manifestante, que tentou lhe tomar o aparelho celular, com o qual ela filmava a passeata, e ainda foi atingida na cabeça por um capacete.
“Tentou tomar meu celular e me atingiu com um capacete. Trabalhadores sérios perdem com uma ação estúpida dessas. Taí meu brinde. O pior foi ver que o vídeo que gravei mostra claramente o agressor, a violência gratuita”, escreveu a apresentadora em seu perfil do Twitter, logo após a agressão.
Sobre a ação, o diretor-editor do jornal, Ildefonso Rodrigues, disse que se percebeu um ato de total afronta e vandalismo. “Não entendemos como um movimento grevista pode agir assim. Temos como provar que houve a participação de ambos os sindicatos, tanto dos gráficos como dos operários da construção civil”, afirmou.
Abuso
Para ele, o que aconteceu foi um abuso, um atentado à liberdade de expressão. “Em um país onde não se pode falar, onde a imprensa é cerceada, não existe democracia. O que nos estranhou foi um movimento de tamanha envergadura e com tamanha agressividade”, destacou.
Sede de jornal é atacada
“Invadir um jornal e quebrar toda a recepção deste, e ainda usar a bandeira sindical para isso, realmente, nos causa estranhamento. Nós tivemos três funcionários que entraram em pânico e tiveram que ser atendidos. Nunca em toda a história do Diário do Nordeste isso ocorreu”.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Ceará, (OAB-CE), Valdetário Monteiro, disse que, em situações como esta, tem que haver uma investigação para se apurar onde termina o livre exercício do direito de greve e começa o direito da empresa de funcionar, “a liberdade de imprensa e a vida dos trabalhadores também”. “Poderíamos ter tido uma morte. Talvez tenha sido a primeira manifestação no Ceará, nesta nova era, que se tenha constatado tamanha violência”, disse.
Medidas
O assessor jurídico do Grupo Edson Queiroz, Sálvio Carvalho Cavalcante, informou que todas as medidas legais já foram tomadas pela empresa. Três Boletins de Ocorrência foram lavrados na tarde de ontem, dois foram pelos seguranças lesionados e um por depredação do patrimônio da empresa.
“Estamos ajuizando, ainda, duas ações de reparação de danos morais e materiais contra os sindicatos. Há de ser considerada, também, a potencialidade de extensão dos danos, que poderiam ter alcançado terceiros, como assinantes do periódico que estavam no locam no momento da agressão”, disse Carvalho.
Sobre os danos materiais, o Grupo solicitou ao juiz um arbitramento à condenação dos danos morais, em valores que sirvam de punição e exemplo, no intuito de repelir esta conduta.
Na noite de ontem, a Perícia Forense do Estado do Ceará esteve na sede do Diário do Nordeste. “Vamos avaliar o que ocorreu aqui e, em seguida, enviaremos para o 4º DP. O laudo deve sair de cinco a dez dias. Logo depois, o delegado instaura o inquérito”, afirma o perito criminal Martônio Camelo.
Violência
121 Boletins de Ocorrência já foram registrados contra o Sindicato da Construção Civil, devido a furtos, agressões, invasões de canteiros e depredação de patrimônio
TRT julga hoje ação sobre a legalidade
Em assembleia realizada na tarde ontem, o coordenador do Movimento Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), Valdir Pereira, que estava na mesa de negociação da Assembleia Legislativa, e que também se encontrava na passeata do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (STICCRMF), disse que a classe laboral não era responsável pelos atos de vandalismo ocorridos contra o Diário do Nordeste.
Muito embora o mesmo se encontrasse em cima do trio elétrico no momento das agressões contra o jornal, quando os trabalhadores lançavam pedras em direção à portaria do periódico.
Existe no Tribunal Regional do Trabalho 7ª Região (TRT-7) três processos em andamento contra o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (STICCRMF). Um deles deve ser julgado, hoje, e refere-se à abusividade ou não da greve. Os outros dois são referentes a um pedido de dissídio coletivo e de abusividade.
O Ministério Público do Trabalho avalia a legalidade da greve do Sindicato do Trabalhadores da Indústria Gráfica do Ceará.
Segundo o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Ceará (Sinduscon), desde 26 de março, quando tiveram início as paralisações promovidas pelo sindicato dos Trabalhadores, foram realizados 121 Boletins de Ocorrência, registrando atos a invasão de canteiros de obra, agressões a operários, engenheiros e construtores, além de furto e depredação de patrimônio.
Liminar
Após liminar da Justiça do Trabalho, expedida no dia 22 de maio, que restringiu as manifestações a 200 metros dos canteiros de obras, 29 invasões foram registradas em Boletins de Ocorrência, em claro desacato à decisão do Tribunal que, desde o último dia 10 de maio, decretou dissídio para definir o reajuste da categoria.
Segundo retrospectiva do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), foram oito o número de casos de violência contra profissionais de imprensa do Estado durante coberturas de greves. Entre janeiro de 2011 até hoje, 77,77% das agressões no exercício da profissão se deram neste tipo de cobertura.