Segundo presidente do banco, possíveis fraudes foram praticadas por clientes envolvidos com funcionários do BNB
O presidente do Banco do Nordeste (BNB), Jurandir Santiago, confirmou ontem indícios de irregularidades e a possibilidade de desvios de recursos em 24 operações de crédito realizadas pela instituição, entre o fim de 2009 e início de 2011.
Segundo ele, as operações com evidências de fraude teriam sido praticadas por clientes com envolvimento de funcionários de uma unidade do banco, mas já estão sendo investigadas, a partir de auditorias internas determinadas por ele, logo após ter assumido a direção do BNB, em julho de 2011.
Da ordem de R$ 100 milhões, as denúncias de fraudes no banco vieram a público ontem, através de matéria divulgada na Revista Época, segundo a qual a dívida com o banco já soma R$ 125 milhões.
No Ceará, pelo menos três empresas estariam envolvidas no esquema, com emissão de notas fiscais falsas, usando laranjas ou fraudando assinaturas. As empresas foram identificadas após a denúncia feita por Fred Elias de Souza, um dos gerentes de negócios do Banco do Nordeste.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem, o presidente do BNB confirmou que as investigações estão sendo realizadas pela Polícia Federal, Ministério Público e Corregedoria Geral da União (CGU), a partir de relatórios de auditorias feitas a pedido dele, pelo próprio banco.
Afastamentos
Jurandir Santiago não mencionou o valor real que teria sido desviado, nem os nomes dos envolvidos, mas disse que vários funcionários já foram inclusive afastados do banco. De acordo com ele, “os desvios foram pontuais, diante do universo de mais de cinco milhões de operações contratadas pela instituição” no período sob investigação. O ex-presidente do BNB, Roberto Smith, também confirmou que sabia das denúncias.
Ele disse ontem que, ao fim de sua administração, recebeu denúncias de que estariam ocorrendo fraudes em operações do banco e que as encaminhou à auditoria. De acordo com ele, foram três denúncias, “de operações pequenas, que não ultrapassavam R$ 2 milhões”, valores que, segundo ele, “não passavam pela alçada da diretoria” (do banco).
Conforme apurado pela auditoria do BNB, o esquema de desvios e fraudes no banco se dava por meio do uso de “laranjas ou notas fiscais frias para justificar empréstimos ou financiamentos tomados no banco. Smith disse que, antes de deixar a presidência da instituição pediu, inclusive, que secretarias da Fazenda de vários Estados nordestinos fizessem a “circularização de notas fiscais” das empresas denunciadas, como forma de apurar se as notas eram quentes ou frias ou se alguma delas havia sido cancelada.
Sindicâncias
“Inclusive algumas pessoas já foram afastadas de seus cargos, porque, em alguns casos, houve indícios sim (de fraudes) e imediatamente as providências foram adotadas. Em outros casos, os processos de apuração continuam em vigor e estamos aguardando os procedimentos terminarem para tomarmos as providências necessárias”, declarou Santiago, ao confirmar a participação de funcionários nas operações “irregulares”. À época, explicou o atual presidente do BNB, foram adotadas sindicâncias, procedimentos internos de apuração, auditorias internas, para apurar denúncias – feitas por um funcionário de carreira, Fred de Souza. Conforme disse, “todas as informações apuradas pelo banco foram repassadas para os agentes de controle, como CGU, Ministério Público e Polícia Federal. “A própria matéria (da Época) faz referência a um relatório, que foi produzido pela auditoria do banco, a partir de determinações nossas”, afirmou. Ele disse ainda, que esse vem sendo o procedimento adotado, em todas as fases de investigação e que não irá poupar quem estiver envolvido nas irregularidades.
“Na verdade, o banco está se antecipando, dentro da instituição. A partir de algumas irregularidades encontradas pela sua própria auditoria, ações administrativas já foram antecipadas na instituição e à medida em que os processos forem evoluindo, continuaremos contribuindo com os órgãos de fiscalização e a CGU”, garantiu.
Providências
“Se foi visto que em qualquer circunstância houve algo que foi feito de errado, temos que abordar, enfrentar e é isso que temos feito”, declarou. “Aproveitamos a oportunidade, para adotarmos outras providências para inibir que algo semelhante volte acontecer”, concluiu.
Fraude
100 milhões de reais é o valor aproximado correspondente às denúncias de fraudes no banco
FIQUE POR DENTRO
Notas frias seriam usadas por ´laranjas´
De acordo com a matéria da Revista Época, publicada ontem, o novo esquema de desvios e fraudes no BNB era feito a partir do uso de “laranjas” ou notas fiscais frias para justificar empréstimos ou financiamentos tomados no banco. Levantamento feito por Época mostra que, entre os nomes envolvidos nas investigações da Controladoria Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF), há pelo menos dez filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Ao avaliar os documentos apresentados pela Revista, o promotor de Justiça do caso, Ricardo Rocha, declarou que “o número de filiados do PT envolvidos dá indícios de ação orquestrada para arrecadar recursos”, para campanha eleitoral.
Ainda segundo levantou a revista, os valores dos financiamentos chegam a R$ 100 milhões, e a dívida com o banco a R$ 125 milhões.
AFBNB pede ´punição aos responsáveis por desvio´
A Associação dos Funcionários do BNB (AFBNB), por meio de texto enviado à imprensa, diz que, diante dos fatos trazidos à tona pela revista Época, “presta sua mais ampla e irrestrita solidariedade aos funcionários do banco que trabalham com honestidade, ética, seriedade e dedicação ao cumprimento da missão social da instituição”.
A Associação afirma expressar esse sentimento por entender que a matéria não se aplica ao conjunto dos quadros de pessoal do Banco, “mas a uma exceção mínima, que, conforme os resultados das investigações, se choca com o coletivo e atenta contra os princípios e valores da boa prática da administração pública estabelecidos na Constituição Federal”.
A AFBNB relembra casos dessa natureza e destaca seu comportamento em prol do Banco nessas ocasiões.
“A Associação já se pronunciou sobre a necessidade da auditoria interna do banco ter toda a condição de executar suas atividades com autonomia e que os processos instruídos e as responsabilizações sejam encaminhadas pela diretoria, sem tergiversações. É veementemente a favor de penalização aos responsáveis pelos desvios milionários. Quem tem responsabilidade que pague por elas e não a instituição e seus trabalhadores”, diz.
CARLOS EUGÊNIO
REPÓRTER
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1146701