EDITORIAL do DN
Quando a longevidade dos seres humanos se expande nos mais diversos países e regiões, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publica relatório demonstrando que essa tendência só tende a aumentar. Os estudos científicos apontam que, nas próximas décadas, a maioria das pessoas terá condições de chegar com razoável estado de saúde aos 100 anos de idade. Vem contribuindo para essa evolução o fato de que 89% da população mundial já têm acesso à água potável e 60% das casas contam com os benefícios advindos do saneamento básico.
Constata-se, entretanto, um lado negativo que pode vir a impedir essa perspectiva. O principal entrave está no problema do acesso a medicamentos essenciais para tratamento de doenças crônicas, aos quais têm acesso apenas 36% da população. No Brasil, repercutiu favoravelmente a divulgação de que o Sistema Único de Saúde distribuirá gratuitamente mais duas medicações destinadas ao tratamento da hepatite C. Mas de modo quase geral, não apenas no Brasil, a falta de medicamentos no setor público leva as pessoas a adquirirem os remédios na rede privada, na qual, em média, eles são 610% mais caros do que os preços pagos pelo governo ao comprar diretamente na fábrica.
Entre os adultos, os maiores problemas relacionados à saúde são ligados à hipertensão e à obesidade. A pressão elevada é causa de 51% das mortes por acidente vascular cerebral e 45% dos falecimentos por infarto, enquanto a obesidade mata 2.8 milhões de pessoas ao ano, ao acelerar o desenvolvimento de diabetes, alguns tipos de câncer e doenças coronarianas. Ressalte-se que a obesidade é uma tendência crescente, ocasionada por maus hábitos na alimentação. Nas últimas três décadas, o número de obesos, em escala mundial, subiu de 5% para 10% nos homens e de 8% para 14% entre as mulheres. O problema quase triplicou nas Américas e na Europa Ocidental, sem que houvesse redução dos índices em nenhum país.
No campo da hipertensão, houve aumento porcentual em regiões da África e no sudeste asiático, enquanto no restante do planeta ocorreu uma ligeira redução da taxa. Sensível queda aconteceu na mortalidade materna, a qual, nos últimos 20 anos, sofreu queda de 50%, em função do acesso facilitado ao pré-natal. Também se registrou diminuição na mortalidade infantil, graças à intensificação da cobertura vacinal e maior conscientização das famílias em relação à necessidade do cumprimento do programa de vacinas, em decorrência de campanhas veiculadas.
O país com maior expectativa de vida é o Japão, em torno de 86 anos, em parte decorrente pela ancestral característica longeva dos orientais, complementada, no presente, pelo eficiente atendimento na saúde e por hábitos alimentares saudáveis, apenas comprometidos por recente tendência ao consumo excessivo de álcool nas metrópoles.
Precisam os governos levar seriamente em conta que cada centavo gasto no setor da saúde contribui, de modo indiscutível, para melhorar a qualidade e a expectativa de vida. Calcula a Organização Mundial de Saúde, a partir de dados precisos, que se maiores investimentos fossem enfocados no combate a doenças mais disseminadas como a tuberculose, problemas cardíacos e, no atendimento da saúde materno-infantil, vacinação, tratamento e medicações para todas as faixas etárias, o retorno seria imensurável, não só para alongar e qualificar a vida das pessoas, como também para o vigor das economias nacionais.