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Inadimplência em Fortaleza é a menor desde março de 2011

By 18/08/2012No Comments

LIMPANDO O NOME
Recuo se deve à prudência no comportamento do consumidor em preferir pagar contas em atraso.

O fortalezense está recuperando o crédito, pagando suas contas e, por conseguinte, evitando comprar. Com esse comportamento, negativo para o comércio, mas considerado prudente dentro dos conceitos de educação financeira, a inadimplência vem caindo tanto que chegou ao menor patamar desde março de 2011.

Expectativa é que, com as contas em dia, o consumidor da Capital volte a reaquecer o comércio, no último quadrimestre do ano FOTO: NATINHO RODRIGUES
Expectativa é que, com as contas em dia, o consumidor da Capital volte a reaquecer o comércio, no último quadrimestre do ano FOTO: NATINHO RODRIGUES

Pelo menos é o que aponta a Pesquisa de Confiança e Intenção de Compra do Consumidor de Fortaleza, divulgada, ontem, pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC), órgão ligado à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-CE).

Conforme o IPDC, apenas 4% dos fortalezenzes entrevistados declararam que não terão condições de honrar seus compromissos financeiros neste mês de agosto. É também o mais baixo índice desde o início de 2012; sendo inferior, inclusive, a igual mês do ano passado, quando o percentual foi de 5,8%.

Série histórica
 Há 18 meses, o índice foi de apenas 3%. Desde então oscilou entre 4,1% e 6,8%, alcançando esse pico duas vezes no histórico desse intervalo. A primeira, em outubro do ano passado. A segunda, em maio deste ano. Nesta última elevação, a Capital cearense acompanhou o fenômeno de elevação de inadimplência refletido nacionalmente, ou seja, os fortalezenses como a maioria dos brasileiros gastaram mais do que podiam pagar.

Dois últimos meses
 Na opinião do economista, Alex Araújo, o resultado do levantamento do IPDC é explicado por um fenômeno que vem ocorrendo nos últimos dois meses.

“O consumidor deixou de comprar para quitar suas dívidas. Como o perfil local de endividamento é muito concentrado no curto prazo, principalmente em virtude das contas feitas no cartão, o fortalezense deu preferência a pagar as dívidas ao invés de ir às compras”, afirma.

Dívidas em atraso
A quantidade de consumidores com dívidas em atraso também recuou no período. Saiu de 19% em julho para 17,6% neste mês. A retração foi ainda mais significativa em relação a agosto do ano anterior, quando esse índice era de 24,6%.

No critério de consumidores endividados a queda foi um pouco menor. Chegou a 63,8% em agosto ante 65,8% de similar período do ano anterior. O estudo do IPDC também indica que o fortalezense está com o rendimento familiar mais comprometido do que há um ano.

Conforme o instituto de pesquisa, 28,2% estão com a renda nessa condição contra 24,7% de agosto de 2011.

Para Alex Araújo, todos esses índices alimentam a ideia de que o comércio poderá ser mais estimulado nestes últimos meses de 2012. “A expectativa é que a atividade comercial sinta um efeito maior da sazonalidade do segundo semestre, que é melhor do que o primeiro. A retomada do consumo, estimulada principalmente pelo otimismo com o mercado de trabalho aquecido, sinaliza crescimento das vendas no B-R-O bro”, avalia.

Pior que 2011
Apesar dessa projeção positiva para o varejo, o economista acha que dificilmente o setor vai apresentar crescimento superior ao do ano passado.

“Em 2011, o comércio de Fortaleza avançou 10,5%. Mas, devido a um primeiro semestre muito ruim, a projeção deve ser de apenas 6%. Bem menor do que o registrado anteriormente”, analisa o economista.

Segundo ele, o desempenho da economia cearense como um todo, nos primeiros seis meses deste ano, foi diretamente afetado por uma combinação de fatores. “A cautela por conta da crise na Europa; a pressão inflacionária no início deste ano, e a busca do consumidor em equilibrar seu endividamento foram as principais causas do resultado ruim na primeira parte deste ano”, observa.

Situação caminha para melhora
Rio A situação do endividamento das famílias atingiu um ponto de virada no fim do primeiro semestre e caminha para uma melhora até o fim do ano, avaliou a presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Vanessa Petrelli Corrêa, ao comentar os dados do Índice de Expectativas das Famílias (IEF) de julho, divulgado ontem. O porcentual de famílias sem dívidas passou de 53,0% em junho para 55,8% em julho, um aumento, no entanto, ainda insuficiente para ampliar as expectativas de compras de bens duráveis: 58,3% das famílias entrevistadas disseram que o momento atual é bom para comprar esses produtos, ante 60,2% em junho.

Trajetória
 Segundo Vanessa, a queda nas expectativas de compra de bens duráveis está relacionada ao ainda ao alto nível de endividamento, mas a trajetória mudará à medida que dívidas mais curtas forem sendo pagas.

“A análise sobre a inadimplência tem de ser qualificada”, afirmou, em entrevista coletiva no Rio, a presidente do Ipea, para quem a ideia de que a expansão do consumo atingiu o ápice está equivocada.

Para André Rego Viana, técnico do Ipea responsável pela pesquisa do IEF, a queda nas expectativas de compra de bens duráveis não significa ineficácia das políticas de desoneração de impostos para estimular o consumo. Ele destacou que cortes no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) tendem a ter impacto positivo no momento dos anúncios. O governo anunciou a redução do IPI para a linha branca no fim de março e, em abril, o IEF apontou que 60,3% das famílias entrevistadas viam o momento como bom para comprar bens duráveis, ante 58,3% no mês anterior.

Dívidas menores
 Outro indicador da pesquisa do Ipea a sinalizar um ponto de virada no perfil do endividamento, segundo a avaliação de Viana, foi a queda no valor das dívidas, de R$ 4.916,86 em junho para R$ 4.507,02 em julho. Nos últimos 12 meses, o pico foi de R$ 5.560,69, em abril.

O futuro não é visto como negativo para as famílias. A despeito da dinâmica de desaceleração mundial.

ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste