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Pré-Carnaval: festa pública, dinheiro privado

By 20/01/2013No Comments

BLOCOS
Dificuldades no repasse de verba municipal levou a Secultfor a angariar patrocínio para a folia deste ano

Mal assumia a gestão da Secretaria de Cultura de Fortaleza e a nova equipe já estava diante de um problema considerável: garantir o apoio aos blocos de rua que já em janeiro antecipam a folia no pré-Carnaval.

Acima e abaixo à direita, Luxo da Aldeia no pré-Carnaval e no Kukukaya; à esquerda, Magela Lima, atual gestor da Secultfor fotos: viviane pinheiro e Marília camelo
Acima e abaixo à direita, Luxo da Aldeia no pré-Carnaval e no Kukukaya; à esquerda, Magela Lima, atual gestor da Secultfor fotos: viviane pinheiro e Marília camelo

Entre as atribulações decorrentes da conflituosa mudança de gestão em Fortaleza, o edital que regulamentaria a verba de R$300 mil destinada a, pelo menos, 50 blocos deixou de ser lançado e, em janeiro, não havia mais tempo hábil para o mesmo. A solução encontrada acaba por apontar uma nova diretriz na realização de projetos culturais do município e, claro, por fomentar os debates em torno da questão: o patrocínio privado. “A questão do patrocínio no pré-Carnaval não era uma estratégia, era uma necessidade. A Prefeitura não tem como dizer: ´vou pegar R$ 500 mil agora e pagar os blocos´. Não existe como a PMF fazer essa transferência sem mecanismo que autorize”, explica o novo secretário da Cultura do município, Magela Lima.

A falta de um edital, que deveria ter sido lançado ainda no ano passado para que os prazos pudessem ter sido cumpridos, levou a Prefeitura a procurar, em caráter de urgência, a iniciativa privada. “O que a Prefeitura tinha? Uma licitação anterior que daria conta de pagar a estrutura, banheiros, palcos, iluminação. Mas como pagaríamos os blocos? Como selecionar? Por isso o patrocínio privado era estratégico”, reforça o secretário. A chegada da iniciativa privada, argumenta Magela, além de reduzir o gasto do dinheiro público, fortalece a imagem da festa, dando mais exposição e credibilidade. “O Carnaval da Boa é um programa nacional da Ambev. Você entra no site da Ambev, e lá está, ao lado de pré-carnavais como o do Rio de Janeiro e Salvador. O pré-Carnaval de Fortaleza alçou uma visibilidade que antes não tinha. Não é só o dinheiro”, reforça, sobre a parceria firmada. Magela rebate ainda questionamentos levantados após o anúncio da parceria, que, entre outras coisas, apontavam a possibilidade de privatização do Carnaval de Rua, com blocos respondendo a interesses privados e limitando o acesso gratuito do público.

“Sem a iniciativa privada, nesse ano, os blocos pequenos não sairiam. Só sairiam os grandes, que já estão organizados como empresas e já contam com esses patrocínios”, rebate, colocando a argumentação como contraditória. O dinheiro privado, retruca, é exatamente quem está viabilizando a manutenção da festa. “É um dinheiro que está aí e nós temos que ir atrás. Não entendo porque não era feito. É o famoso dinheiro bom”, diz.

Soluções
Entre os blocos apoiados pela Prefeitura por meio do patrocínio privado, o Luxo da Aldeia também defende as parcerias com a iniciativa privada, desde que os valores e prioridades da festa não sejam desvirtuados. “Não vejo como algo essencialmente ruim, mas é bom ter cuidado para não deixar descaracterizar. Depende muito de como é conduzida. Não vejo grandes problemas, por exemplo, no Carnaval de Olinda. Passei de quatro a cinco anos lá, eram patrocinados por uma marca de cerveja e você não via nada privatizado. Agora, depende das contrapartidas oferecidas e das exigências colocadas”, pondera Mateus Perdigão, um dos organizadores do Luxo. Segundo ele, uma noite de bloco na rua custa R$ 3 mil, R$ 4 mil.

“Com o dinheiro que a gente tinha, conseguiríamos bancar dois dias e mal. Como se resolveu a questão da Prefeitura, vamos sair quatro dias de pré e dois de carnaval. Fechamos ainda uma parceria com o Kukukaya (casa de shows) para fazermos três apresentações. Vendemos camisas no local e ganhamos parte da bilheteria”, aponta sobre as fontes que viabilizaram financeiramente o bloco neste ano.

FÁBIO MARQUES
REPÓRTER
Fonte Diário do Nordeste