EDITORIAL do DN
A cada dia, a mídia local registra fatos que abalam a opinião pública por sua brutalidade e violência, sobretudo por envolver jovens menores de idade, em vários diapasões que abrangem desde o consumo de drogas aos impulsos selvagens no calor das disputas esportivas. O problema da violência na juventude ocorre principalmente nas grandes metrópoles e deixou de ser característico apenas das classes sociais carentes.
Atualmente, são também atingidas, com intensidade, as classes média e alta. Suas causas, por conseguinte, não podem ser restritas apenas às disparidades financeiras, mas, do mesmo modo, encontram-se no aspecto banalizado que a criminalidade e os atos violentos assumiram no cotidiano das pessoas, principalmente dos jovens, estimulados desde filmes e videogames inadequados até a própria literatura destinada a crianças e adolescentes.
Ocorre que inúmeros livros dedicados aos jovens não passam pelo crivo de entendidos em pedagogia ou, pelo menos, de razoáveis conhecedores da psicologia infantil, mas, quase sempre, partem de critérios adotados por leigos, que objetivam apenas lucros fáceis e a criação de uma duvidosa imagem literária, dentro daquela que representa a maior fatia do mercado editorial. Embora a violência esteja presente nos contos infantis de escritores famosos, como Perrault e os Irmãos Grimm, estes sempre incentivavam em suas obras a vitória do Bem sobre o Mal, em vez de explorarem aleatoriamente temas delicados como a vingança, o ódio, as bruxarias e até prostituição, que foram incluídos em textos para consumo de crianças e adolescentes.
A crueldade e a violência, notórias no mundo real, não podem ser, entretanto, completamente omitidas aos menores de idade, pois suas constatações não carecem mais do que uma ida às proximidades da própria residência, ou a locais destinados ao lazer com segurança.
O que se torna criticável é a abordagem gratuita e permanente de qualquer tipo de transgressão às convenções sobre como se conviver em sociedade. A violência jamais pode ser tornada um tema trivial ou ter um apelo explícito em itens tão acessíveis às crianças como jogos de entretenimento, programas de televisão, filmes e publicações, em princípio criados para desenvolver o raciocínio e ampliar os conhecimentos.
Faz-se necessário que família, educadores, governo e sociedade se unam objetivamente, no sentido de ultrapassar a subjetividade de meros debates paliativos e procurar a identificação de atitudes eficazes e métodos precisos, que não se limitem aos exageros do paternalismo autoritário ou da liberdade desregrada. Algo, enfim, que não se restrinja à rigidez de um manual de boas maneiras, nem a omissão complacente quanto à permissividade.
Pais e educadores, conscientes de sua importância na formação e no futuro dos filhos e discípulos, a par do compromisso de participar da reestruturação do processo social, devem atentar que é fundamental para uma criança ou adolescente assimilar o conceito de disciplina a fim de praticá-la. Desde cedo, o menor precisa perceber que o exercício pleno de seus direitos e reivindicações se encontra diretamente ligado ao cumprimento de deveres básicos e incorporados ao dia a dia. Só desse modo lhe poderão ser proporcionados meios para compreender que o equilíbrio da vida, seja qual for sua classe social, passa longe de todo ato gratuitamente transgressor ou de qualquer impulso exacerbado de violência contra o próximo