Apesar da intervenção do poder público no sentido de reprimir o turismo sexual, que vem apresentando assustador aumento no Nordeste, poucos têm sido os resultados práticos obtidos contra esse deplorável quadro, no qual estão envolvidos milhares de adolescentes de ambos os sexos. Tal constrangedor registro é feito com maior incidência em cidades nas quais convivem notória desigualdade social e o massivo turismo voltado para estrangeiros, tais como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza.
As jovens, principalmente as residentes na faixa litorânea, são mais expostas às teias aliciadoras comandadas pelas redes nacionais e internacionais de prostituição, inclusive pela relativa proximidade do Nordeste com a Europa, de onde procede a maior parte de estrangeiros em busca de sexo fácil em áreas tropicais. No caso, o litoral cearense é tido como local paradisíaco para a realização de todo tipo de fantasias eróticas.
Na última CPI realizada em Fortaleza, constatou-se elevada presença de menores de idade no contexto do turismo sexual, inúmeros deles cooptados por quadrilhas organizadas de vários países, também ligadas à lavagem de dinheiro, narcotráfico e pedofilia, com o apoio logístico de pessoas e equipamentos como taxistas, mototaxistas, funcionários de hotéis, motéis, bares e restaurantes. De acordo com a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e Adolescente, até mesmo crianças de 8 a 10 anos estão na mira dos pervertidos.
Com base em dados aferidos em um período de cinco anos, foram registrados 1.803 casos de aliciamento de crianças e adolescentes na Bahia, 1.616 no Rio de Janeiro, e 1.326 no Ceará. O Nordeste é a região com maior número de casos registrados (37%). O que é mais grave, verificou-se a presença de forte esquema de apoio, integrado por influentes pessoas aparentemente insuspeitas, por trás dessas atividades criminosas. Foi detectado, também, vínculo entre a área de prostituição mais pobre, localizada na Barra do Ceará, e o circuito de praias como as de Iracema e do Futuro, onde se concentram hotéis e “flats” de primeira classe.
O turismo se caracteriza como um dos setores impulsionadores do crescimento econômico de Fortaleza. Segundo dados oficiais, entre dezembro do ano passado e fevereiro de 2013, o Ceará receberá quase um milhão de visitantes, proporcionando a receita de R$ 1,6 bilhão e impacto de R$ 2,8 bilhões na economia local. De acordo com a mídia nacional, existe em Fortaleza maior sofisticação nos esquemas dos aliciadores, que passaram a ter mais cuidado para não deixar vestígios de suas atividades.
Embora o Brasil tenha sido uma das nações a assinar o Protocolo de Palermo, em convenção da Organização das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional, as estatísticas apontam o País como um dos maiores fornecedores mundiais para o abjeto tráfico de seres humanos. Grande parte das vítimas tem menos de 18 anos. Há pouco tempo, a Polícia Federal de Manaus recebeu denúncia sobre empresas de turismo, sediadas no Brasil e nos Estados Unidos, que vendiam pacotes de viagem para a Amazônia, pretensamente destinados à pesca esportiva, mas que ofereciam, em paralelo, orgias com adolescentes em barcos de alto luxo.
Nunca é demais lembrar que o problema está longe de ser solucionado com ações apenas emergenciais. Ele deve ser tratado como parte integrante de carências sociais mais complexas, para as quais são necessários planejamentos em longo prazo e firme decisão política.
Fonte: EDITORIAL do DN