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Transposição, seca e outros contrastes

By 18/02/2013fevereiro 22nd, 2013No Comments

ABRAM SZAJMAN                                 sesc são paulo > revistas > problemas brasileiros
Alguém já afirmou, com muita propriedade, que o Brasil é um país de contrastes. Na geografia, áreas altamente irrigadas ou cobertas de vegetação fazem inveja a regiões semi-áridas, castigadas por secas inclementes. Cidades superpopulosas são o contraponto de imensos espaços vazios, em que a densidade demográfica é próxima de zero.

Abram Szajman - Presidente Fecomércio São Paulo
Abram Szajman – Presidente Fecomércio São Paulo

No aspecto econômico e social os contrastes são mais gritantes, revelados por uma abissal diferença na distribuição de renda, talvez o subproduto da injustiça social que mais prejudica o desenvolvimento do país.

Na área educacional, verificam-se algumas ilhas de excelência, formadoras de um pequeno contingente de bons pesquisadores, mestres e profissionais diversos – em grande parte rapidamente atraídos por universidades e empresas estrangeiras –, ao lado de uma vasta população pessimamente educada, vítima do tradicional descuido com que o país premia o ensino básico da população.

Nesta edição de Problemas Brasileiros podemos ver, mais uma vez, a incidência desses contrastes. A matéria principal, por exemplo, debate um assunto centenário – a seca do nordeste, uma região castigada pela falta de água. Técnicos e políticos discutem, desde os tempos do Império, uma solução audaciosa: levar para aquela área devastada uma parte da água do São Francisco, projeto controvertido, que se torna mais questionável agora, diante da acentuada queda de vazão do rio. Enquanto os órgãos do governo e entidades diversas não se entendem, a seca continua fazendo suas vítimas e condenando à miséria uma vasta área do país que, se devidamente irrigada, poderia multiplicar a oferta de produtos agrícolas.

Mais adiante, relembrando o contraste, a revista revela outro lado da realidade do país: a revolução que as fibras ópticas trouxeram para o mundo das telecomunicações. Nessa área é forte a presença brasileira, o que reforça a idéia de que, quando há interesse, empenho e uma política favorável, os resultados aparecem. Com efeito, o Brasil se destaca no cenário latino-americano, em que supera, sozinho, a produção somada de todos os outros países. Com um desenvolvimento acentuado – neste ano a rede brasileira de fibras ópticas deverá crescer 40% –, o país deverá ocupar em breve a quarta posição mundial no setor.

Esse acentuado crescimento vem provocando uma grande movimentação, envolvendo parcerias, fusões e aquisições de empresas, um comportamento característico de um segmento em franca expansão, irrigado abundantemente por significativos investimentos.

E por falar em contraste, não podemos deixar de lembrar aqui a distância que se verifica no país entre sua imensa carga tributária – 33% do Produto Interno Bruto – e o retorno social que essa massa de impostos promove para os brasileiros. No Brasil, os tributos são o resultado de um apetite insaciável, fruto da criatividade da burocracia oficial. É impressionante como as idéias brotam nessa área, quase como que em geração espontânea. A última novidade é a nova tentativa de prorrogar mais uma vez uma contribuição que nasceu provisória – a CPMF –, reconhecida pelo próprio FMI como altamente prejudicial à economia. Essa contribuição, aliás, foi criada com um objetivo específico: promover a saúde dos brasileiros. Evidentemente não o fez, assim como pouco ajudou em outras áreas igualmente necessitadas de recursos. Em compensação, prejudicou e continua prejudicando as atividades econômicas, na medida em que encarece a comercialização, afeta as exportações, afugenta capitais e pune indiscriminadamente industriais, comerciantes, professores e donas-de-casa. Mais: empurra os agentes econômicos para a informalidade, reduzindo em termos globais a arrecadação e o nível de emprego.

Em suma, não faltam problemas para o Brasil. Faltam decisões. Bem fundamentadas, corajosas, definitivas, conscientes. Decisões que possam eliminar contrastes em vez de acentuá-los.

Revista Problemas Brasileiros, que pode ser adquirida na rede de lojas SESCSP, nas unidades da Capital e Interior, a R$6,00 cada exemplar. É possível também comprar online pela Loja SESC Virtual.

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