Os números da safra são ruins… Tendem a piorar.
Infelizmente esse quadro que se repete desde que se tem notícia, remete ao século XVII.
A última pedra da coroa do Imperador (para que nenhum nordestino morresse de fome e/ou de sede), pelo visto ainda não foi usada ou, se foi, está se perdendo no mutirão de obras super faturadas, inacabadas, a exemplo da Ferrovia Transnordestina, da Ferrovia Norte-Sul, das obras de transposição do Rio São Francisco, etc., que “ SE DEUS QUISER” este ano serão concluídas.
Entra ano, sai ano, a seca, que corroí não só a economia já tão combalida desta região de fé que possui cerca de 30% da população brasileira e que patina na distribuição/geração de renda há várias décadas.
Argumentam alguns que se beneficiam do sofrimento de todo este povo, que não existem mais “ levas de retirantes a caminho do litoral, sujeitos a pragas de gafanhotos, picadas de cobra, etc.” (Marco Antônio Villa) os saques aos armazéns das cidades sedes, os “cassacos”, homens e mulheres que se alistavam nas frentes de trabalho do DNOCS e que, segundo relatos de um desses “cassacos” em 1958: “-Comemos para viver, nunca comemos para sentir. Tempero de pobre, é fome” ( Rubens Rodrigues dos Santos – O Estado de São Paulo). Argumentam, repito, que os programas sociais hoje, “aliviam” a dor dos nordestinos. É POUCO…
Uma região jamais se desenvolverá ficando à mercê de uma próxima seca, que segundo os estudiosos, é previsível. Não podemos jamais crescer, dependendo apenas de esmolas. Me vem à mente uma canção de Zé Dantas e Luiz Gonzaga (nordestinos) perpetuada por este último que diz: “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são. Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.” Peço licença para entrar na parceria e acrescentar entre vicia, e, o cidadão, a palavra “ humilha”.
Segundo o Dr. João Policarpo Rodrigues Lima (UFPE) “A população pobre do semiárido está menos vulnerável às secas, mas isso não significa que a população como um todo esteja imune, pois a economia entra em colapso e a população fora dessa cobertura fica desempregada ou perde suas outras fontes de renda”.
Um relato de um irmão nordestino: “-A gente compra o mínimo para nós e com o resto, tenta dar de comer o gado”.
Porém isso, talvez digam, é puro desabafo de quem tem “ coração mole” (como dizemos por aqui), no entanto não estamos atentando que a morte de rebanhos ( previsão de 50% do Ceará, na BA já se foram 30%, em Pernambuco 710 mil cabeças, 72% de quebra na produção de leite) e a quebra de safras provocam efeitos terríveis e altamente duradouros na economia local.
De acordo com a Federação da Agricultura do Ceara a seca já produziu um prejuízo superior a R$ 5 bilhões apenas no setor primário de nosso estado. A produção de camarão em cativeiro na Costa Negra em Acaráu-CE reduziu de hum milhão e quinhentos mil quilos, para 800 mil quilos/mês. A produção de leite desabou, e as mazelas não param por aqui.
É hora de nos darmos às mãos, cidadãos de bem, povo brasileiro. De pouco adianta meu país viver momentos de euforia com uma dita supersafra de grãos, se parte da minha pátria não tem o que comer. Não adianta termos essa supersafra, se não temos logística para escoa-la. Não consigo entender o pronunciamento de uma “ autoridade” que defende o modal rodoviário como o mais interessante para nosso país, em detrimento dos outros modais, quando comparando os custos de transporte rodoviário do milho de MT e GO para os estados nordestinos se paga R$ 370,00 a tonelada e transportando a mesma tonelagem, do mesmo produto, vindo da Argentina via marítima U$ 30,00, ou seja, aproximadamente R$ 60,00.
Porém, como não estamos aqui para entender, apenas peço licença a Jornalista Regina Marshall para retransmitir parte de um texto publicado em sua coluna do dia 09 p.p. sob o titulo REVOLTANTE: “Todo ano é a mesma coisa: pessoas pobres e necessitadas, miseráveis mesmo, morrem ou perdem seus valiosos pertences com deslizamentos em áreas de risco, especialmente na região de Petrópolis (RJ). Que faz o governador Sérgio Cabral, aliado de Dilma? O que faz a presidente Dilma? É a mesma coisa em relação a seca do Nordeste, aqui chegam, ouvem tudo que sabem, ou já deveriam saber, sobrevoam solos ressequidos, açude rachados, gado caído morto pelas estradas, caatinga sem um pé de mandacaru, fazem as promessas de sempre e… Vão embora. […] É REVOLTANTE”.
Fortaleza, 11 de abril de 2013
Francisco de Assis Barreto de Sousa
Presidente FACIC-Ce