REGIÃO NORDESTE
Todas as capitais nordestinas viveram situações caóticas, com problemas no trânsito e paralisação na indústria
Em menos de um ano, o Nordeste voltou a sofrer com mais um blecaute de grandes proporções que iniciou por volta das 15h da tarde de ontem e durou cerca de uma hora em Fortaleza. Nas outras grandes capitais da Região, o restabelecimento da energia elétrica foi concluído às 17h30, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O apagão começou quando linhas de transmissão da espanhola Isolux e da Taesa, controlada pela Cemig, foram afetadas por um incêndio na Fazenda Santa Clara, no município de Canto do Murici, no Piauí.
“A falta de energia não ocorreu no sistema da Chesf, mas por uma empresa particular durante o pico de alto intercâmbio de energia para o Nordeste”, justificou o gerente da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), Airton Feitosa. Ele comparou o problema a uma “freada brusca” em um carro. “É como você estar acelerando a 110 km/h e dar uma freada brusca. Duas linhas de transmissão de 500 kV apresentaram problemas”, afirmou.
Duas etapas
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse que o apagão de ontem ocorreu em duas etapas, a primeira às 14h58, quando houve o desligamento da linha de transmissão entre as cidades de Ribeiro Gonçalves e São João do Piauí. Às 15h04, outro incêndio paralisou uma segunda linha no local, operada pela Taesa. “Com isso, todo o Nordeste ficou separado do restante do sistema interligado e aí a carga (consumo) é muito maior que a geração (de energia) da região, por isso houve o desligamento”.
A direção da Eletrobras no Piauí divulgou nota se eximindo de responsabilidade pela interrupção do fornecimento de energia. “A causa está sendo diagnosticada pela Chesf, que deverá se posicionar sobre essa falta de energia”, diz a nota da Eletrobras. O apagão afetou os nove estados do Nordeste.
Aos poucos, a energia foi retomada também em Salvador (BA), Recife (PE), João Pessoa (PB) Maceió (AL). Em Natal (RN), a luz voltou por volta das 16h50, mas, dez minutos depois, caiu de novo. A sede da Chesf, em Recife, também ficou sem energia elétrica.
Coelce
A Companhia Energética do Ceará (Coelce) informou que o fornecimento de energia elétrica no Estado foi totalmente normalizado às 18h05. Segundo o ONS, Fortaleza foi a segunda capital a iniciar o restabelecimento de energia, por volta das 16h. Conforme as distribuidoras de energia nos estados, a luz foi restabelecida aos poucos, para que a rede não ficasse sobrecarregada e ocorresse um novo apagão nas cidades.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) informou que foi comunicada da falha, considerada internamente como de “grandes proporções”. A agência foi informada pelo ONS de que a transmissão de energia na região caiu de 10 mil megawatts para mil megawatts, ou seja 10% do nível normal.
O Ministério de Minas e Energia também apura as causas dos problemas. O procedimento de investigação desse caso de falta de energia deve seguir o mesmo modelo dos anteriores, de acordo com a Aneel. Amanhã, uma reunião do Comitê de Monitoramento de Energia Elétrica, em Brasília, vai avaliar as causas do corte de fornecimento. Há dez meses, o Nordeste sofrera outro grande blecaute, atribuído, na ocasião, a um curto-circuito numa linha de transmissão entre Tocantins e Maranhão.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Interior já registrou dez pequenas falhas
Pode ser uma avaliação preliminar, mas a gente que acompanha o sistema elétrico – que é interligado nacionalmente e recebido pela Chesf – percebe que não têm sido feita as manutenções necessárias de forma eficiente – o que nos deixa preocupados, como consumidores. Teve o apagão no ano passado, durante a madrugada, que ocorreu por falta de manutenção. Neste de agora, os prejuízos devem ter sido muito maiores, porque ocorreu no início do expediente da tarde. Como representante também do Norte-Nordeste no Conselho de Consumidores do ONS, sempre recebo informações dessa questão da manutenção. Só neste ano, já ocorreram cerca de dez apagões – com durações entre 15 minutos e uma hora – em cidades do Interior do Ceará, que não ganharam repercussão por serem menores. No restabelecimento da energia, por exemplo, Fortaleza ganha prioridade, por conta da maior demanda.
Erildo Pontes
Vice-press do Cons. de Consumidores da Coelce
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1311466