Entre as principais reclamações, estão a lotação e insegurança, além das longas esperas pelos veículos
Além do reajuste da tarifa do transporte público na Capital, em vigor há seis dias, o que também aumentou foi a reclamação dos usuários em toda a cidade com relação à qualidade do serviço. Para a população, com as passagens mais caras, poder se deslocar pela cidade com conforto, rapidez e segurança se tornou uma exigência ainda maior.
Apesar de possuir uma frota relativamente nova, com 3,9 anos em média, segundo a Prefeitura de Fortaleza, os maiores problemas relatados são a superlotação nos horários de pico e a demora entre cada coletivo. “A situação é horrível. A gente passa de 20 a 30 minutos esperando um ônibus, seja vindo de casa ou no terminal. E aqui, eles vivem lotado”, reclama o servente Galberto Nascimento, que vive no Bom Jardim e faz integração no Siqueira para ir trabalhar.
O usuário relata ainda o problema da insegurança nos terminais. “Já vi furtos aqui, é a toda hora. Mas dentro de ônibus também acontece. Roubam celulares, abrem bolsas. É complicado”, afirma. Com relação ao aumento das passagens, Galberto acredita que ele deva se utilizado para o desenvolvimento do serviço. “Se a gente paga mais caro, era para ser melhor”, diz.
Quem utiliza as vans do serviço complementar enfrenta a mesma situação. “Eu já passei uma hora e cinco minutos esperando. E quando vêm, são duas ou três. E é muito, muito lotado. Você só bota o pé no chão. Falta até espaço para encher o pulmão de ar”, afirma a auxiliar de serviços gerais, Expedita Pereira.
O jardineiro Manoel de Oliveira sempre percorre o trajeto Messejana/Centro em pé. Apesar de já estar acostumado, a viagem é pior na volta para casa. “À noite é mais difícil por causa do trânsito. É lotado demais”, relata.
Acessibilidade
Mais complicada ainda é a situação de quem tem necessidades especiais. A dona de casa Ana Maria Damásio tem um filho de 11 anos com paralisia cerebral e precisa constantemente se deslocar pela cidade com o menino. Mesmo considerando que os elevadores dos ônibus adaptados têm funcionado bem, a qualidade do serviço deixa a desejar. “Tenho seis amigas que pararam o tratamento dos filhos por causa de transporte”, lamentou.
Ana Maria também denuncia o descaso de alguns motoristas que não param quando veem a cadeira de rodas. Apesar de morar no Mondubim, a dona de casa vai ao Terminal do Siqueira para pegar um ônibus até a Cavalaria da Polícia Militar no Cambeba. “Quando eles percebem que tem a cadeira de rodas, passam pela faixa da esquerda”, destaca.
Para quem usa o transporte coletivo no período da noite, as reclamações são similares. Por volta das 18h, não é difícil observar paradas cheias de pessoas que precisam dos ônibus para locomoção e têm de enfrentar esperas longas e lotação.
“Eu costumo pegar o Campus do Pici/Unifor, mas já me acostumei a pegar ônibus lotado sempre. Fora que demora muito para passar, às vezes, quase uma hora. Quando passa, não tem condições de a gente pegar, de tão cheio. São os principais problemas dos ônibus atualmente, a lotação e a demora. Fora esse aumento da passagem, que eu não acho certo. Já que aumentou, teria pelo menos que colocar mais ônibus na cidade”, opina o técnico em computação Lucian Salgado.
Outros usuários compartilham do mesmo pensamento. A auxiliar administrativa Alexandra Silva, por exemplo, reclama que os coletivos estão lotados mesmo em horários mais tardios. “Sempre que volto da faculdade, por volta das nove horas da noite, pego o Siqueira/Papicu e ele ainda vem cheio de gente. Acredito que as condições deveriam ser melhores, ainda mais agora que aumentou a passagem”, avalia Alexandra.
Desafio
Os depoimentos dos passageiros se confirmam dentro do ônibus. Com a capacidade em nível máximo, um Parangaba/Náutico que segue rumo ao terminal no início da noite quase não oferece espaço para a movimentação interna. Chegar à porta da frente na hora de sair é um desafio, que exige paciência do condutor até que o usuário consiga se retirar do coletivo. À medida que prossegue o caminho, o coletivo passa também por várias paradas, muitas vezes em pontos mal iluminados.
Os passageiros reclamam ainda da falta de segurança que enfrentam tanto dentro dos coletivos quanto nas paradas de ônibus. “Eu pego ônibus numa parada da Avenida Desembargador Moreira e, mesmo sendo um lugar movimentado, me sinto insegura. Lá mesmo uma amiga minha foi assaltada uma vez. Estava esperando o ônibus e um ladrão levou tudo dela, fora os outros casos de assaltos que a gente escuta falar”, comenta a auxiliar de dentista Sulamita Dantas.
Medida foi ‘forma de dar equilíbrio’
Ainda que o aumento do valor da passagem de ônibus seja motivo alegado pelos usuários para exigir melhorias, o presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Antônio Ferreira Silva, afirma que o reajuste aconteceu como uma forma de dar equilíbrio econômico ao setor.
“Tivemos dois fatores principais que motivaram o reajuste. O primeiro foi a questão da mão de obra e o piso salarial dos operadores que, em dois anos, subiu 18,4%. Os combustíveis também subiram 24% nos últimos dois anos e nosso reajuste na passagem foi de 9,09%. Ainda assim, faz parte do contrato com as concessionárias que ela tem que fazer investimentos nos veículos e nós estamos cobrando esses investimentos”, explica.
O presidente da Etufor enumera ainda outras melhorias que ocorreram nos últimos anos no transporte público da Capital. Ele destaca o Bilhete Único, por meio do qual, desde 2013, o passageiro pode fazer quantas viagens precisar num prazo de duas horas, eliminando a necessidade de ir ao terminal.
Aponta ainda a manutenção da meia estudantil ilimitada, a gratuidade para mais de 14 mil usuários com deficiência física, a hora social, de segunda a sábado, das 9h às 10h e das 15h às 16h, quando a passagem custa R$2,20, e a tarifa social, aos domingos, que custa R$1,80. “Já garantimos também que, desde o dia 1º de dezembro de 2014, todos os ônibus que entrarem na frota de Fortaleza terão ar-condicionado, acompanhando uma renovação de 12,5% da frota anualmente”, coloca.
Lotação
Antônio Ferreira Silva garante também que a Etufor está atenta à questão da lotação e demora dos ônibus. Ele afirma que a Prefeitura possui um plano de reestruturação do transporte público, o que contempla a reforma dos terminais e a construção de mais corredores exclusivos de ônibus. “No binário entre as avenidas Santos Dumont e Dom Luís, por exemplo, já verificamos que a velocidade média dos ônibus passou de 10Km/h para 22 Km/h. Isso reflete na lotação, porque temos veículos mais rápidos e que podem fazer mais viagens sem atrasos”, diz.
O número de passageiros em Fortaleza, segundo Antônio Ferreira Silva, se manteve estável, em cerca de 30 milhões de passageiros por mês. A diferença está no número de veículos, que passou de 1.300 para 1.848 atualmente. “Esse aumento foi por conta do crescimento da cidade, que contou com a inclusão de mais veículos particulares, o que diminuiu a velocidade média dos ônibus. O segredo, então, é priorizar o transporte coletivo. Estamos trabalhando, inclusive, em melhorar a tecnologia veicular para aumentar a capacidade dos veículos e diminuir a lotação”, avalia.
Segurança
No que diz respeito à segurança dos passageiros, o gestor da Etufor declara que há um trabalho conjunto da Prefeitura e do Governo do Estado para minimizar o problema. “Realmente, vem caindo o número de assaltos em ônibus e paradas. Estamos com a presença da Polícia e da Guarda Municipal nos terminais, para que o usuário volte a ter essa sensação de segurança. Na Coordenaria de Operações de Segurança, temos o monitoramento por meio de câmeras e via GPS, para que as ocorrências sejam resolvidas imediatamente”.
Enquete
Como você avalia os coletivos?
“É um tormento. Falta ônibus. Espero muito e só sai lotado. Todos os dias, saio do Bom Jardim e passo pelos terminais do Siqueira e de Messejana pegando três ônibus cheios”
Marilene Ferreira da Silva
Atendente
“São todos lotados. Para andar com criança, é muito ruim. Venho de Caucaia, com minha filha de 11 meses doente, e tem gente que não dá a cadeira para a minha esposa sentar”
Maicon Soares de Sousa
Zelador
Germano Ribeiro/Ranniery Melo
Repórteres
Fonte: Jornal Diário do Nordeste.