Notícias

Vendas do varejo têm queda de 0,8% entre janeiro e março = OE

By 15/05/2015maio 16th, 2015No Comments

Com o desaquecimento do mercado de trabalho e o crédito mais restrito, as vendas do comércio varejista restrito – que não inclui o setor automotivo –, do País recuaram 0,8% nos três primeiros meses de 2015, comparados com o mesmo período de 2014. Foi o pior resultado para um conjunto de três meses desde o terceiro trimestre de 2003, que registrou uma queda de 4,4%, quando o Brasil ainda sentia os efeitos da incerteza do primeiro governo Lula. Os números constam da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgado, ontem, pelo IBGE.

Na passagem de fevereiro para março, as vendas do comércio caíram 0,9%, na série livre de efeitos sazonais (típicos de cada período, como o número de dias úteis, por exemplo). O levantamento informa que, na comparação de março com igual mês do ano passado, no entanto, as vendas avançaram 0,4%. Neste caso, os dados foram influenciados pelo número de dias úteis, já que o carnaval de 2014 ocorreu no mês de março, prejudicando as vendas do setor naquele ano. Quando considerados os últimos 12 meses, a variação foi positiva em 1%. O varejo tinha apresentado alta de 0,3% na passagem de dezembro para janeiro deste ano. Já de janeiro para fevereiro o setor registrou leve queda de 0,1%.

Já no plano estadual, das 27 Unidades da Federação 13 apresentaram variações positivas no volume de vendas, na comparação de março com igual mês do ano anterior (série sem ajuste), com destaque para Roraima (22,5%); Acre (13,6%); Sergipe (7,4%) e Rondônia (6,5%), enquanto que os piores índices, negativos, ficaram com Mato Grosso (8,3%), São Paulo (0,4%) e Goiás (6,7%). O Ceará, por sua vez, aparece com o crescimento de 0,3%, no período, enquanto que, na comparação mensal, não houve variação – sendo, mesmo assim, o segundo melhor resultado do Nordeste, atrás da Bahia (0,6%) – enquanto que, em fevereiro, a retração foi de 2,5%. Com o resultado, o Estado acumulou queda de 1,1% de janeiro a março deste ano.

Segmentos
O levantamento do IBGE aponta que, em março, o volume de vendas (com ajuste sazonal) de sete das 10 atividades pesquisadas no País registraram resultados negativos, cujas maiores quedas foram em veículos e motos, partes e peças (4,6%); móveis e eletrodomésticos (3,0%); livros, jornais, revistas e papelaria (2,3%); e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,2%). Isoladamente, esse setor representa quase 40% da PMC, respondendo, assim por um impacto de 0,3% da queda do ano. Por sua vez, as menores baixas ficaram por conta de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (0,2%); material de construção (0,3%); tecidos, vestuário e calçados (1,4%).

Na comparação com março de 2014 (série sem ajuste), três atividades apresentaram resultados positivos: outros artigos de uso pessoal e doméstico (17,4%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (10,2%); e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (21,8%). Os impactos negativos foram registrados por hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,4%); móveis e eletrodomésticos (6,8%); combustíveis e lubrificantes (2,1%); e tecidos, vestuário e calçados (1,2%).

Varejo ampliado
O chamado “varejo ampliado” – que, além dos oito segmentos, inclui vendas de veículos e material de construção, e setores cujas vendas também são destinadas ao atacado – recuou 1,6% em março ante fevereiro. O resultado do trimestre foi de queda de 5,3%, o pior desde o início da série histórica do IBGE desde 2001, considerando qualquer trimestre. Em relação ao ano anterior, o volume de vendas também caiu, com a variação negativa de 0,7% sobre março de 2014 e a receita nominal subiu 6,5%.

O setor de veículos e motos teve queda de 4,6%, a mais acentuada de todas. No ano (de janeiro a março), a atividade teve queda de 14,8%, sendo que o tombo está ligado ao aumento do IPI e restrições do crédito, embora o setor tenha indicado desaceleração desde março do ano passado. “Mesmo com três de dias úteis a mais, em março deste ano, a redução das vendas no segmento foi decorrente, entre outros fatores, da gradual retirada dos incentivos via redução do IPI; do menor ritmo na oferta de crédito e da restrição orçamentária das famílias, diante da diminuição real da massa de salários”, destacou o IBGE, em nota.

Regionalmente, o acréscimo real das vendas se deu em 16 das 27 unidades da federação, na comparação com igual mês de 2014. As maiores taxas no volume de vendas ocorreram em Roraima (12,4%); Acre (10,1%); Sergipe (7,6%); e Rio Grande do Norte (7,1%). No ranking, o Ceará aparece na 8ª colocação, com 2,9% de alta – acompanhando com o Rio de Janeiro (2,9%) e Minas Gerais (3,3%), em maiores impactos positivos, segundo o IBGE. Nessa mesma base de comparação, apresentaram as maiores reduções os estados de Goiás (5%), Paraíba (4,4%), e Distrito Federal (3,8%).

Desconfiança é reflexo da conjuntura econômica
O volume de empréstiPara a Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o resultado negativo das vendas até março reflete a desconfiança dos brasileiros na economia. “A confiança dos consumidores – abalada pela queda no nível de atividade econômica e seus reflexos sobre o mercado de trabalho e associada à atual tendência de encarecimento do crédito – tem impedido qualquer reação do setor, a despeito do recuo da inflação nos produtos comercializáveis medidos através do IPCA”, explicou o economista da CNC, Fábio Bentes.

Bentes lembra que, após atingir um pico de 7,1% nos 12 meses, encerrados em julho de 2014, os preços médios dos bens de consumo duráveis, semiduráveis e dos alimentos industrializados registraram alta de 5,6% – na comparação entre abril de 2015 e igual mês do ano passado, segundo dados do Banco Central. Desse modo, diante da persistência do atual cenário de compressão do orçamento dos consumidores no médio prazo, a CNC revisou para baixo sua previsão de variação do volume de vendas do varejo restrito para 2015 (de 0,3% em abril para -0,4% em maio). No conceito ampliado, a entidade projeta retração de 6% em 2015 contra resultados negativos de 5,2% esperados anteriormente.

Já para a gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Juliana Vasconcellos, o comportamento do início do ano de 2014 é parecido com o final do mesmo ano. “Há arrefecimento no consumo, dado que a conjuntura econômica não é favorável, com menor crescimento da massa de renda dos trabalhadores, oferta de crédito menor, com restrição orçamentária, poder de compra menor”, disse. Com relação a março, “apesar da Páscoa cair em abril, ela foi muito no início [do mês]. As vendas acabaram refletindo esse aumento em março, em outros artigos”, observou a especialista. Além de tudo, ela apontou que houve uma retomada das atividades rotineiras no período, já que muitos brasileiros pagaram tributos como IPVA e IPTU.