Os donos dos quarteirões
Pelo menos sete fabricantes de CDs e DVDs piratas dominam os quarteirões mais movimentados do Centro de Fortaleza e ameaçam fiscais
Trabalhar em dupla, no Centro de Fortaleza, ficou perigoso para os fiscais terceirizados da Prefeitura. A recomendação é se deslocar, no mínimo, em grupo de cinco agentes. Caso contrário, “o pau pode torar”. Espancamentos e intimidações viraram rotina com o avanço da pirataria de mercadorias, principalmente de CDs e DVDs.
O diagnóstico da situação é de um grupo de supervisores, coordenadores e agentes de fiscalização do comércio ambulante da Regional do Centro de Fortaleza. O temor é tanto, que O POVO opta por não revelar o nome nem a imagem dos entrevistados.
“A coisa aqui é perigosa. Além do pessoal dos CDs e DVDs, tem a gangue do tenente que anda numa Prado preta, o pessoal do sargento, alguns policiais fardados e os camelôs que têm ficha suja e vendem outras mercadorias piratas ou sem nota. Quando tentamos fiscalizar, perguntam se a gente quer morrer”, desabafa um fiscal.
O medo tem explicação. De acordo com mapeamento de um supervisor da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviço Público e Cidadania (AMC), os quarteirões mais movimentados do Centro são loteados por pelo menos sete fabricantes de CDs e DVDs piratas (veja mapa). Por causa da rede de proteção aos “donos das ruas”, ele revela que a fiscalização parou. “O medo fez 40 agentes pediram demissão ano passado. Um salário mínimo não paga o risco”, diz.
Há algumas semanas, conta um fiscal, em represália a uma apreensão de CDs e DVDs piratas que estavam estocados no “sovaco da cobra” (depósito clandestino que funciona na Liberato Barroso, próximo a Major Facundo), chamaram integrantes de uma torcida organizada para intimidar fiscais.
“Esse mesmo comerciante de CDs e DVDs disse pra mim que ‘ia fazer um fiscal’ (matar) pra fazer os outros agentes pedirem pra sair do Centro. Esse marginal, que já responde um 184 (art. do CPB/violação de direito autoral), estava enfurecido e repetia que teve um prejuízo de R$ 2 mil por causa de uma apreensão que fizemos”.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A precariedade na fiscalização municipal impõe situações de minoria entre os agentes e o grupo miliciano. O serviço da Prefeitura é terceirizado. Fiscais recebem ameaças ou são diretamente agredidos.
ENTENDA A SÉRIE
Em 12/1, O POVO mostrou que uma milícia, acusada de proteger fabricantes de CDs e DVDs piratas, estaria ameaçando de morte a secretária do Centro, Luíza Perdigão. O grupo, segundo documento da SSPDS, é comandado por um tenente da PM.
Ontem, O POVO mostrou que, um diz após revelar atuação da milícia, a Corregedoria sugeriu à PM e Polícia Civil abertura de conselho de justificação e inquérito contra um tenente que comandaria o grupo. O oficial negou as acusações
