AMBULANTES
Um homem ateou fogo ao motorista do reboque da Prefeitura, que teve queimaduras em 15% do corpo
Terminou em conflito, ontem, ação da Prefeitura de Fortaleza para remover ambulantes irregulares no entorno da feira da Rua José Avelino. Feirantes fecharam o tráfego da Rua Sobral. Alguns deles atiraram pedras no reboque a serviço da Prefeitura. Um homem não identificado jogou uma garrafa com álcool e ateou fogo no motorista do veículo, Gisesvaldo Correia Lima.
O motorista foi levado ao Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), do Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, com 15% do corpo queimado e lesões de segundo grau, principalmente nas pernas. Ele deve ficar internado para observação e não há previsão de alta. De acordo com o hospital, Gisesvaldo está consciente e orientado.
Por volta das 6h de ontem, agentes da Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), Polícia Militar (PM), incluindo a Ronda de Ações Ostensivas e Intensivas (Raio) e Guarda Municipal, realizaram uma ação de apreensão mercadorias comercializadas em locais não permitidos.
A Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC) e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) também fiscalizaram o local e rebocaram veículos parados na Rua Governador Sampaio, que passou a ter estacionamento proibido nesta semana.
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A Polícia chegou a atirar balas de borracha para dispersar os manifestantes. Na confusão, o ambulante Luís Alves foi atingido na barriga. “Os guardas chegaram tomando tudo. Eles cercaram a área toda. Teve muita gente machucada”, relatou o comerciante, que teve os manequins de exposição apreendidos durante a ação.
O vendedor Narcélio Bessa explicou que, no último domingo, foram distribuídos panfletos orientando o comércio na área. “Eles trouxeram essa norma e já coloram em vigor agora. Foi a mesma coisa com as placas que proíbem o estacionamento”, admitiu o comerciante.
Mesmo assim, muito ambulantes questionam a validade da ação. “A gente quer um lugar para trabalhar. Por que não tem? Nós não estamos querendo roubar, queremos trabalhar”, afirmou José Valdo Ferreira.
Regularidade
De acordo com o titular da Secretaria Executiva Regional do Centro de Fortaleza (Sercefor), Ricardo Sales, “esse tipo de ação deverá acontecer com regularidade, em intervalos de tempo que estamos estudando. Não pode um grupo de pessoas ocupar o espaço de toda a população”, afirmou.
Para ele, apesar do uso da força, o conflito foi resultado de “uma ação de ordenamento normal”. “Ela teve um dimensionamento maior por conta do índice de ocupação irregular que estava lá. Não foi uma ação de desocupação, mas de ordenamento”, explicou.
Sales confirmou que foram distribuídos panfletos no último domingo informando os locais, dias e horários determinados para a feira de confecções. São eles: Rua José Avelino, Travessa Icó, Feirão do Viaduto e Rua Governador Sampaio. O comércio é permitido das 19h das quarta-feira às 7h das quintas-feiras e das 19h das sextas-feiras às 11h de sábado. “Mas os vendedores ambulantes começam a querer conquistar novos espaços na Av. Alberto Nepomuceno, na praça da Sé e na Rua Sobral”, afirmou o secretário.
Com as constantes irregularidades, o gestor reconhece a dificuldade de realizar um ordenamento definitivo. “É feita uma fiscalização sistematicamente. Esse é um trabalho incansável, mas a orientação é que seja um trabalho a principalmente educacional”, ressaltou.
Apreensão
Conforme o gestor da Sercefor, as ações de apreensão são resultado da recusa dos ambulantes de agir em conformidade com as determinações da Prefeitura.
“Eles normalmente não atendem. E quando fica volumoso, a gente faz a apreensão. Chega um momento em que a ação precisa ser maior do que o normal”, defendeu.
Ainda de acordo com o secretário, mesmo os feirantes que atuam nas áreas autorizadas comercializam produtos em locais proibidos. “Muitos têm pontos nos locais permitidos, mas eles saem para a rua porque acham que é melhor. Nosso trabalho educacional é para que esses ambulantes voltem”, disse.
Para lojistas, ocupação indevida gera prejuízo
O problema é antigo e quem frequenta o Centro nos dias de feira já sabe: o tráfego de veículos logo cedo fica completamente comprometido, especialmente na Avenida Alberto Nepomuceno. No entanto, a ocupação desordenada dos feirantes na Rua José Avelino há tempos vem causando prejuízos que vão além do trânsito. O comércio, segundo quem vive dele de maneira regularizada, é o maior prejudicado.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, trata-se de uma concorrência desleal. “Nós pagamos impostos, geramos empregos e pagamos IPTU, não temos como concorrer com eles que não pagam nada”, diz. Além disso, destaca ele, com o crescimento da feira, o comércio formal na área têm caído, exemplificando que, somente no polo da Monsenhor Tabosa, a queda no faturamento é estimado em 50% nos últimos dez anos.
Quem depende de faturamento no Mercado Central também sofre com o problema. O equipamento conta com 559 permissionários e, segundo o presidente da Associação dos Lojistas do Mercado Central, João Eudes Oliveira, a reclamação é geral. “A venda de revenda aqui no Mercado não tem mais, vivemos apenas do turismo”, afirma.
Sujeira
João Eudes destaca negativamente uma queda de 30% nas vendas, após o crescimento do número de ambulantes em frente ao local, e a sujeira deixada por eles sempre que a feira acaba. “Ao invés de limpar o Mercado, nossos zeladores vão limpar a frente dele. De um modo geral, nós perdemos em tudo. Acredito que para a cidade seria importante que acabasse a feira no entorno da Catedral, na Praça da Sé, onde eles usam como ponto de apoio e em frente ao Mercado Central”, avalia.
Germano Ribeiro/Renato Bezerra
Repórteres
Fonte: Diário do Nordeste
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