CUIDADO COM A COMPULSÃO
Com a proximidade das festas de fim de ano, é preciso redobrar o cuidado com as compras por impulso
“Compre e ganhe brindes”, “Adquira mais produtos e concorra a prêmios”, “Compre um e leve dois”, “Parcele suas compras e só comece a pagar no Carnaval”. Esses são apenas alguns dos apelos utilizados pelo comércio varejistas a fim de atrair os consumidores e alavancar as vendas. Para muita gente, é difícil resistir a tais apelos, sobretudo nesta época do ano, quando os festejos de Natal e Réveillon são um incentivo a mais às compras. Além disso, o sentimento do “eu mereço”, o crédito mais acessível e os parcelamentos extensos são fatores que criam um ambiente ainda mais favorável ao consumo.
Ao mexer com as emoções das pessoas, o marketing varejista ajuda a criar necessidades de consumo até então inexistentes. Assim, muitos consumidores, ávidos por aproveitarem promoções, ofertas e prazos de pagamentos considerados imperdíveis, acabam comprando por impulso e adquirindo itens dos quais não necessitam e que dificilmente serão utilizados. Além do aspecto emocional, esse comportamento também pode ser explicado por fatores históricos da economia brasileira.
“O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 20 anos atrás. No passado, com a inflação descontrolada, as pessoas recebiam dinheiro e tinham a necessidade de comprar logo o que precisam, pois, no dia seguinte, esse dinheiro já poderia não ser suficiente para fazer as compras. Os jovens desta época são as pessoas que estão hoje no mercado de trabalho. Hoje, a inflação está controlada, a gente consegue planejar melhor as compras, mas continuamos com a cultura de consumir rapidamente, sendo que o Brasil mudou”, analisa Ricardo Pereira, consultor financeiro do programa Consumidor Consciente da MasterCard.
Para o consultor, apesar de vivermos hoje uma realidade econômica diferente da que o Brasil enfrentava décadas atrás, existem fatores que podem justificar a maior necessidade de consumo criada pela sociedade atual. “Se somarmos as características do passado, o tempo que as pessoas ficaram sem consumir e a recente ascensão das classes sociais, é um pouco natural que exista essa necessidade de consumir rapidamente”, afirma.
Mais pessoas ampliaram os gastos nos últimos anos
Conforme o economista Alex Araújo, embora não existam dados concretos, estima-se que mais gente esteja propensa a consumir por impulso uma vez que, com o crescimento da renda e a ascensão de muitas pessoas para outras classes sociais, esses consumidores estão circulando mais em ambientes onde o estímulo à compra por impulso é maior, como shoppings e supermercados. “Nossa cultura é muito centrada no consumo como forma de satisfação, mas o fato de mais gente estar consumindo por impulso deve-se mais a esse avanço na situação econômica. As pessoas estão saindo dos mercadinhos de bairro, por exemplo, e indo para os supermercados”, destaca.
No fim do ano, a tendência é que esse consumo cresça ainda mais. Para a professora do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Helena Selma Azevedo, é possível fazer um Natal mais econômico e feliz. “Esta também é uma época que a gente quer ser feliz e quer fazer os outros felizes e, em uma sociedade do consumo, a felicidade está muito ligado ao consumo. Mas essa felicidade pode se transformar em uma infelicidade na hora de pagar, caso o consumidor gaste mais do que pode”, diz.
DHÁFINE MAZZA
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste