Os economistas advertem que essa crise da economia é tão profunda e complexa que deverá durar, pelo menos, sete anos. Convém lembrar que mal houve uma recuperação da crise de 2008 e a economia dá sinais de fragilidade. Muitos indagam se a crise que se vislumbra agora no horizonte é semelhante à anterior, constitui reflexo dela ou tem características novas. E quais são as semelhanças e diferenças entre as crises de 2008 e de 2011? Os economistas reconhecem que as duas crises não estão isoladas e que a crise global do momento representa uma continuação – ou até mesmo um efeito colateral – da crise de 2008.
“O PMDB tem uma característica: todo mundo manda, ninguém obedece e cada um faz o que quer”
Gastão Vieira
Ministro do Turismo
Diferenças
Mas elas têm, sim, diferenças fundamentais entre si. O que nos faz distingui-la da anterior é que, há três anos, o centro da crise estava nos bancos americanos e europeus, o que significa que só o setor privado foi atingido. Desta vez a crise envolve os governos. Como acentua o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o “abacaxi” saiu do colo dos bancos para o dos Estados. Os governos que ajudaram os bancos a sair do sufoco, em 2008, acabaram se contaminando, “comprando” o problema para si. É preciso fazer distinções adequadas.
A crise americana
O que detonou a crise norte-americana foram créditos podres do sistema imobiliário. No início dos anos 2000, o governo dos EUA, que começou a se sufocar com a elevação da dívida pública, reduziu as taxas de juros, gerando uma oferta exagerada de crédito, como lembra Ricardo Humberto Rocha, professor de Economia da Usp). Foi a crise do sub-prime. Os bancos emprestaram muito mais dinheiro do que tinham em caixa – ou seja, estavam alavancados em mais de 20 vezes em seus valores – sem se preocupar com a criação de um panorama pouco favorável, como assinala o professor Daniel Miraglia, consultor de “eyesonfuture” e professor da Business School.
Quebradeira
Os bancos estavam entupidos de papéis e empréstimos do setor imobiliário. Houve, então, um endividamento exagerado dos cidadãos norte-americanos, que não tinham recursos para pagar suas dívidas. Foi isso que gerou a chamada crise do sub-prime, em 2008. Faltou crédito, o consumo despencou e o desempenho das empresas foi duramente castigado. Para evitar a quebradeira geral dos bancos e um dano ainda mais grave à economia mundial, os governos decidiram realizar uma operação de resgate, injetando boa soma de recursos nas instituições privadas e preparando a crise que chega agora.
Estatização
“O sistema financeiro dos EUA foi praticamente estatizado e o governo tornou-se sócio das instituições” – afirma o professor da USP, Ricardo Humberto Rocha. O dinheiro público usado para salvar os bancos foi o principal motivo do endividamento atual dos governos. “Nos Estados Unidos, a dívida pública subiu cerca de 20% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto ou a soma de todas as riquezas de um país)” – disse Miraglia. Os governos apostavam que a economia de seus Estados voltaria a se recuperar, mas isso acabou não acontecendo e tudo piorou.
Afastada a ameaça
O problema é que a recuperação econômica não ocorreu na velocidade esperada. O remédio de salvamento dos bancos surtiu apenas seu efeito colateral, mas não resolveu o problema em si. Agora, a situação é “menos ruim” e não falta crédito. O setor privado está “numa boa”, as empresas têm dinheiro em caixa e vão bem, obrigado. O cenário de grandes quedas de PIB e recessão não é tão provável, como em 2008, segundo Daniel Miraglia.