OCUPAÇÃO IRREGULAR (15/3/2010)
Por todos os lados, é possível ver, nas já apertadas e inadequadas calçadas, manequins, varais de roupas, carrinhos de cocos, frutas, verduras, e até veículos. O comerciante Antônio Santos comenta que sempre faz compra no Beco da Poeira. Ele diz ficar revoltado com tanta impunidade. “Os motoristas não respeitam os pedestres e param em qualquer lugar. Para eu pegar ônibus, preciso ir à rua”, diz.
As críticas de Antônio são válidas, já que até mesmo o espaço das paradas são usados pelos vendedores e veículos, impedindo o acesso do transporte. De acordo com o arquiteto e urbanista Edilson Aragão, professor da Unifor, a situação existe porque “o poder privado ocupa o espaço e expulsa os pedestres, que são os mais frágeis”.
Por conta disso, como se pode observar nas vias, o pedestre não dispõe de faixas de pedestres livres e calçadas ideais. Na opinião do promotor de Justiça Gilvan de Abreu, do MPCE, as Regionais precisam intensificar a fiscalização. Segundo ele, a medida não seria, simplesmente, expulsar os comerciantes dos espaços, pois eles precisam do trabalho. “O ideal era encontrar locais adequados. Podia fazer como na Liberato Barroso, em que a via é fechada. Falta apenas boa vontade”
Com opinião semelhante, Aragão indica que os comerciantes devem ser “acolhidos” e receber locais adequados. Segundo ele, Fortaleza sempre foi vocacionada para o comércio, sendo esta uma atividade importante para a economia local. Porém, com a falta de fiscalização e de espaço, os pedestres sofrem para se locomover. “A sensação é que prevalece a lei do mais forte. Feira existe em todos os países, mas tem hora para começar e terminar”.
Como ainda defende Aragão, é preciso que haja uma política de engenharia de trânsito urgente na Capital. Para Abreu, este ano de eleições é o momento propício para se discutir novas alternativas, como o rodízio. Conforme Aragão, é preciso intervir com mudanças de sentido das vias, criação de acessos com outras ruas, inclusive com a retirada de canteiros das vias, que servirão para que as calçadas sejam alargadas e feitas com qualidade superior. Além de, como defende, a demolição de prédios que não têm valor histórico para colocar os ambulantes.
Segundo ele, devido às recentes alterações ocorridas na Avenida Engenheiro Santa Júnior e na Barão de Studart, parte do efetivo que trabalha no Centro foi deslocado para orientar motoristas nos locais. Ele ressalta, que, diariamente, a fiscalização no Centro é feita por três viaturas, duas duplas de agentes de motocicleta, além de seis homens a pé. Para justificar alguns problemas, o coronel listou algumas dificuldades encontradas durante a fiscalização.
Sobre as irregularidades na Avenida Tristão Gonçalves, por exemplo, ele afirma que mototaxistas e motoristas, que estacionam irregularmente, têm informantes com equipamentos de rádio para avisá-los sobre os agentes. “É uma dor de cabeça, pois é impossível multá-los com esse esquema”, frisa. Sobre as motocicletas estacionadas irregularmente na Rua Clarindo de Queiroz, ele ressalta que é um problema antigo, mas afirma que a equipe de engenharia de trânsito da AMC está estudando propostas para solucionar os problemas existentes no local.
Já em relação à Rua Governador Sampaio, o coronel diz que reconhece a situação, mas não vê muitos problemas no local, já que não é comum o tráfego de carros pequenos. “Aquele comércio é antigo, e só quem passa por ali são caminhões para descarregar mercadoria”, diz. No que se refere aos ambulantes, a secretária do Centro, Luiza Perdigão, avisa que este ano será de reordenamento dos vendedores no bairro. Porém, como justifica, isso tem de ser feito de forma ordenada e estudada, já que se trata de uma cultura arraigada. Por conta disso, Luiza antecipa que após a transferência dos vendedores da Lagoinha e do Beco da Poeira, em abril, os trabalhos serão dirigidos às Ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso. Além disso, ela afirmou que um estudo já foi realizado para saber quais as concentrações e os principais problemas. Tanto que três imóveis já foram identificados e estuda-se a possibilidade que eles venham a ser tornar espaços extras.
ANÁLISE
Que tal ir ao Centro a pé, em vez de carro?
Janayde Gonçalves
Repórter de Cidade
Com a vida frenética que os cidadãos têm levado, não existe tempo para perceber o real significado da cidade, das ruas ou de cada espaço onde nos posicionamos. Ao adentrarmos o Centro, podemos entender que ali seja apenas uma concentração de lojas, serviços e comércio, mas não é. Atualmente, as ruas, único espaço “livre” entre as opressivas edificações, transformaram-se muito.
Quase não existe espaço de ventilação e de descanso para a visão. De um lado, vê-se painéis, toldos e fachadas poluídas com a publicidade. No meio, posicionam-se os postes de concreto, combinando com o cinza das calçadas. Elas, que deveriam ser o local de passeio, estão cada vez menores e estranguladas pelo comércio. Devido a essa situação, que se repete em muitos centros, alguns gestores têm tomado medidas severas.
No Centro de Recife, por exemplo, veículos automotores não entram. Ônibus e carros limitam-se a circular por fora do centro comercial, um quadrilátero de lojas, ruas, praças e igrejas. Assim, o fluxo nas ruas é livre. Mesmo com as edificações, temos a sensação de que o território é mais humano. Antes de existir a atual quantidade de carros em Fortaleza, as pessoas iam a pé ao Centro. Da década de 70 para cá, o homem não perdeu sua capacidade de caminhar, mas parece que perdeu a de entender o que significa espaço público.
JANINE MAIA E KARLA CAMILA
REPÓRTERES