BIOGRAFIA
Jornalista especialista em biografias, Sérgio Vilas-Boas inicia um novo projeto: o perfil de Ivens Dias Branco
Seus critérios não são muitos. O biografado precisa estar vivo, ser alguém de quem ele sabe pouco ou quase nada e que já esteja naquela fase em que se dispõe a pensar melhor sobre a vida, a filosofar. “Não existe uma fundamentação teórica, mas gosto de trabalhar com pessoas com uma idade um pouco avançada, que já estão passando o bastão para os filhos, por exemplo, que reduziram sua carga de trabalho…”, revela o cuidadoso jornalista Sérgio Vilas-Boas, talvez o maior expoente brasileiro em biografias.
Cofundador da Academia Brasileira de Jornalismo Literário, o pesquisador é autor de, pelo menos, cinco títulos relacionados à temática, entre perfis amplos e trabalhos teóricos. E para sua próxima biografia, Sérgio Vilas-Boas deve explorar em profundidade a vida de um homem que condiz com seus critérios preestabelecidos: Ivens Dias Branco, o empresário cearense presidente do Grupo M. Dias Branco. Convidado pelo grupo para biografá-lo, ambos bateram o martelo no mês passado e as pesquisas já devem iniciar entre o fim de maio e o início de junho. “Será uma biografia de apenas 300 páginas. Algo sucinto, mas aprofundado. Quero saber como é o homem por trás desse conjunto de empresas: como ele reage a situações, o que ele pensa, como ele é”, detalha.
Projeto
“Normalmente eu não chego até essas pessoas, elas chegam até mim. Um ex-aluno meu, que prestava consultoria para um grupo empresarial, indicou meu nome para um trabalho que eles queriam fazer: queriam um texto de alguém de fora, um outsider, de preferência com experiência jornalística, para fazer um projeto biográfico do presidente da empresa. Eles me contataram, e eu expus minhas condições: não produzo o biografismo clássico de 500, 700 páginas, que tem preferência por biografados mortos. Meu trabalho é diferente. É focado no jornalismo literário. E eles disseram que era exatamente o que eles queriam”, relembra Vilas-Boas.
O trabalho rendeu o livro “Doutor Desafio”, sobre Luiz Garcia líder do Grupo Algar, de Uberlândia. Acontece que, segundo o jornalista, o livro foi parar nas mãos de um funcionário do Grupo Dias Branco, que o leu e pensou em replicar a ideia, registrando a vida, as memórias e o presente de Ivens Dias Branco.
“Como eu disse, meus critérios são aqueles. Não seleciono meus biografados por ramo. Já escrevi perfis sobre estivadores, artesãos, escritores… E agora empresários. Pra mim, o importante é que haja uma boa história para ser contada. E lógico, que a pessoa seja honesta, tenha uma ficha limpa. Certos políticos de Brasília, por exemplo, eu não faria por nenhum dinheiro”, pontua o autor.
Recentemente, Ivens Dias Branco foi citado em alguns jornais por ter estreado na lista de homens mais ricos do mundo, elaborada pela revista norte-americana Forbes. Ivens aparece em 290º colocado no ranking mundial e nono na lista nacional. Sobre isso, Sérgio Vilas-Boas é indiferente. “Isso não tem nenhuma importância para mim. E acho, inclusive, que isso também não tenha tanta importância para o próprio Ivens. Homens como ele, que construíram grandes empreendimentos, mantém o foco no trabalho e não em rankings.”, avalia o jornalista.
A biografia não se constrói apenas pelas muitas entrevistas com o biografado, mas perpassa pela memória de terceiros e sobretudo pelo convívio entre ele e o escritor. Na lista de entrevistas de Vilas-Boas estão, pelo menos, 50 pessoas, mas o jornalista dispensa “estagiários”. “Tenho meu método próprio de entrevista, é complicado ensinar, além do que, para mim, é imprescindível esse contato”, argumenta, e revela um pouco mais de seu “modus operandi”.
“Para as entrevistas formais, por exemplo, dou sugestões do local, do horário, e anoto tudo. Não só as respostas, mas as ações: o olhar, os gestos. No contrato, consta ainda que estarei presente em cerimônias, discursos… É interessante saber como ele se comporta em público. É um exercício cansativo para ambos – entrevistado e entrevistador, mas bastante prazeroso também”, revela.
Como se trata de um projeto em início, Vilas-Boas não foi preciso na previsão de lançamento, mas apostou um período: o primeiro semestre do próximo ano.
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1138079