O lugar onde a Capital de Fortaleza se originou, mudou o perfil, mas permanece como referência da cidade
Uma mistura do novo e do antigo, do histórico e do esquecimento, do que é centro e do que é periferia. O resultado dessa combinação é o Centro de Fortaleza, área onde se originou a capital do Estado. Longe do glamour que ostentou durante a primeira metade do século passado, vive hoje uma situação de contrastes. Ao mesmo tempo que possui ainda um movimento pulsante, amarga perdas como referência econômica e social e, ano a ano, acompanha a redução no seu número de moradores.
A presença dos prédios e praças marca o local como patrimônio histórico cultural de Fortaleza, mas as fachadas e a conservação já não são as mesmas devido ao tempo e à falta de manutenção. Na Praça do Ferreira, uma loja ou outra restaurou a fachada original, mas na maior parte dos imóveis na praça e nos demais espaços do local, são as placas com os nomes dos estabelecimentos que predominam. Imagens que concretizam a idéia de que o perfil do centro mudou.
Antes, lugar da elite, hoje das classes populares. São os representantes das classes B, C e D que dão sustentabilidade ao local. Diariamente, cerca de 350 mil pessoas passam pela área que, conforme o presidente da Ação Novo Centro e vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Riamburgo Ximenes, foi responsável em 2007, por 6% do ICMS arrecadado no Estado. Valor inferior apenas ao percentual de Fortaleza.
Os freqüentadores misturam-se aos moradores, embora estes só venham diminuindo em número a cada Censo. Em 2000, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia 24.775 habitantes no bairro. Em 1991, eram 30.679 pessoas. Em menos de 10 anos, 5.904 habitantes deixaram de residir no local. E isso quando o Centro é um dos bairros com melhor infra-estrutura urbana na capital: escolas, equipamentos de saúde, saneamento básico, transporte, praças, parques, áreas de cultura e lazer. Além de vista para o mar.
Todas essas modificações afetaram o perfil da área, podendo, inclusive, ter conseguido provocar uma mudança do seu papel em Fortaleza. Genericamente, centro urbano é a parte mais ativa da cidade, onde estão os setores comercial, financeiro, administrativo, cultural. Já a palavra periferia utilizada em termos geográficos designa tudo o que está no entorno desse núcleo.
Para a doutora em Sociologia e coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Marinina Gruska, numa visão conceitual, como o setor econômico e as pessoas com poder de compra se deslocaram do centro histórico para os shoppings centers e outros bairros da capital, o Centro acabou se transformando “numa espécie de periferia”.
Uma mudança resultante de um processo de abandono não tão recente quanto se imagina, iniciado na segunda metade do Século XIX e primeiras décadas do Século XX. As famílias mais abastadas começaram a sair do centro, buscando áreas mais tranqüilas para morar, longe dos transtornos de um comércio emergente. No começo, foram para chácaras nas saídas da cidade, originando bairros como Alagadiço, Benfica, e Jacarecanga. Depois, no século passado, a migração se estendeu para a Aldeota.
Já na década de 1970, com o surgimento dos shoppings, saíram os estabelecimentos comerciais de grande porte. Escritórios, empresas de serviços, condomínios e núcleos comerciais mais sofisticados deixaram o Centro, indo, principalmente, para bairros como a Aldeota e o Meireles. Nas décadas finais do Século XX, os equipamentos públicos saíram do local.
ERILENE FIRMINO
Repórter
FIQUE POR DENTRO
Perfil das metrópoles muda a partir do Século XIX
Desde a segunda metade do Século XIX, quando a maioria das metrópoles brasileiras começou a apresentar altas taxas de crescimento, as classes de renda mais alta passaram a exibir um processo de segregação, criando espaços próprios de convivência. Em Fortaleza não foi diferente. Desde o início de sua expansão, a cidade também apresentou essa característica. No começo, as famílias mais abastadas deixaram o Centro para estabelecer-se em chácaras nas saídas da cidade, num processo que acabou originando os bairros do Alagadiço, Benfica, e, posteriormente, o Jacarecanga.
Nesses locais, eram erguidas mansões que, até hoje, podem ser encontrados vestígios delas, principalmente no Jacarecanga e Benfica. Depois, no começo do Século XX, a classe dominante apostou no deslocamento para a zona leste de Fortaleza, começando o processo de ocupação da Aldeota. O bairro tinha clima ameno, ficava distante dos caminhos e entradas da cidade e, por isso, teve grande aceitação da população que buscava áreas tranqüilas para habitar. O Centro estava efervescente. A ocupação efetiva da Aldeota só ocorreu na década de 30, com a construção das primeiras mansões.
CENTRO VAZIO
1930 – Década em que as famílias de alto poder aquisitivo começam a sair do Centro para a Aldeota.
1974 – Surge o primeiro shopping center de Fortaleza, na Aldeota. Em 1970, os comércios começam a migrar para os bairros da zona leste.
1977 – A sede da Assembléia Legislativa do Ceará troca de sede. Sai do Centro para a Avenida Desembargador Moreira, no Dionísio Torres.
1990 – Década marcada pelo fechamento dos cines Diogo Fortaleza. Ficou apenas o São Luiz.
1991 – O Tribunal de Justiça do Estado vai para o Cambeba.
1991 – O então prefeito Juraci Magalhães desloca-se do Palácio do Bispo para nova sede do poder municipal, no Itaperi.
1997 – O Fórum Clóvis Beviláqua é transferido da Praça da Sé para o bairro Edson Queiroz.
1996 – Na gestão de Antônio Cambraia, a sede da Prefeitura volta para o Paço.
2001 – O prefeito Juraci Magalhães muda-se para a Vila União.
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=609375