POLO DE EDUCAÇÃO
Centenas de estudantes têm movimentado o bairro devido a uma série de cursos técnicos instalados no local
Diariamente, o Centro de Fortaleza recebe milhares de pessoas. São trabalhadores, comerciantes e compradores que vão ao bairro atraídos pelo baixo preço dos produtos. À noite, porém, o local, geralmente, se transforma em um deserto. Predominam a escuridão e o perigo de assaltos. Mas o cenário está mudando. Apesar dos riscos, de noite, o lugar está se tornando polo de educação técnica e profissionalizante. Tanto que, a partir das 21h30, as ruas são “invadidas” por centenas de alunos.
No Iasocial, instituição de ensino que possui em torno de 1.500 estudantes, 60% são do turno da noite e 30% dos finais de semana. Camila Diniz Leite, coordenadora pedagógica da unidade, comenta que a procura pelos cursos durante a noite aumentou bastante. No geral, são pessoas que buscam se destacar profissionalmente e, como trabalham o dia inteiro, só possuem o período da noite para aperfeiçoar os conhecimentos.
“Quando a gente vai embora vê muitos alunos pelas ruas. É um mundo de jovens. A gente vai passando e vai vendo eles saírem de todos os cantos. As avenidas Duque de Caxias e Imperador ficam lotadas”, revela Camila Diniz Leite.
Outro fator que contribui para aumentar a procura por cursos técnicos e profissionalizantes é a proximidade da Copa do Mundo de 2014, que será realizado no Brasil e terá Fortaleza como uma das 12 cidades-sede. É o que acredita Jean Carlos, coordenador do curso de informática do Iasocial. “As pessoas procuram um aperfeiçoamento para que possam ter maior chance no mercado de trabalho”, diz.
O professor destaca que os cursos criaram uma movimentação noturna no Centro. Acrescenta que teve uma pequena melhora na iluminação pública e reestruturação de praças, como a do Ferreira e o Passeio Público, mas ressalta que o bairro ainda precisa de um melhor policiamento para que as pessoas possam se sentir mais à vontade no local até um pouco mais tarde.
O faturista Matheus Rodrigues, 20 anos, trabalha o dia inteiro e, à noite, faz um curso técnico de contabilidade no Centro. Ele conta que, apesar de na saída da aula ter muita gente na rua, não se sente seguro. O jovem estuda na Rua São Paulo e pega ônibus na Avenida Imperador. O seu deslocamento é mínimo, não chega a ser nem um quarteirão. Ainda assim, relata que, recentemente, uma colega foi assaltada próximo ao curso.
Melhorias
A titular da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), Luciana Castelo Branco, informa que toda a iluminação do Centro é padronizada e segue rigorosamente as regras. A gestora acrescenta que melhorias são feitas a partir de reclamações feitas no órgão. No entanto, o único ponto que teve esse tipo de demanda foi a Avenida Tristão Gonçalves, onde garante que os benefícios já foram realizados.
A gestora comenta que várias praças estão passando por manutenção. A exemplo da Praça do Ferreira e da Praça da Bandeira – em frente ao Colégio Militar – que já foram restauradas. Na Praça do Cristo Redentor, a obra está em execução, assim como na Praça do Carmo e no Parque das Crianças. Neste ano, está previsto a restauração do Passeio Público, com duração de 45 dias, e da Praça do Liceu, sem data estabelecida para ter início.
Para falar da segurança no Centro da Capital, a equipe de reportagem tentou contactar a Polícia Militar, mas as ligações não foram atendidas e os celulares estavam desligados.
13 escolas fecham as portas no bairro
Nem sempre esse cenário de Centro deserto durante a noite foi assim. Não basta ir longe. Comparando com uma geração passada, facilmente se constata que praticamente todos os colégios e cursinhos da cidade concentravam-se no Centro. A partir da década de 1980, no entanto, muitas dessas escolas fecharam ou migraram para outros bairros. De acordo com dados do Sindicato das Escolas Particulares do Ceará (Sinepe), 13 escolas do local fecharam as portas.
O presidente do Sinepe, Airton Oliveira, esclarece que, por volta da década de 1980, a Capital ainda era muito pequena, e os bairros ainda não tinham vida própria. Com a descentralização da cidade, as escolas passaram a ocupar outros bairros, que passaram a ter vida própria.
O professor comenta que o Centro é um dos bairros mais bem equipados, com saneamento, transporte, comércio local, baixo custo de moradia, além de internet liberada em algumas praças. “É o bairro mais bem estruturado em tudo que se pensar”, reforça. Por outro lado, acrescenta que é um dos locais com menor densidade populacional. “O Centro é subutilizado, principalmente, durante a noite, quando fica deserto”, lamenta.
Estrutura
O presidente do Sinepe acredita que, com o Centro voltando a ser ocupado, naturalmente as escolas voltariam para lá. E acrescenta: “Pensar a cidade é pensar o Centro de Fortaleza. Apesar de ele ter toda uma infraestrutura ainda é sub-utilizado”, critica Airton Oliveira.
Entre as escolas daquela região que fecharam as portas nos últimos anos, o Sinepe cita o Colégio São José, Marista Cearense, Rui Barbosa, São João, Cipam, Skema, Geo, Pio XXII, Castelo, Rio Branco, Evolutivo, PHD Vestibulares, General Osório, dentre outros.
LUANA LIMA
REPÓRTER
OPINIÃO DO ESPECIALISTA:
Centro era ponto disputado por fortalezenses
Nos seus primórdios, Fortaleza tinha no Centro o principal e, praticamente, único bairro. Todos queriam morar próximo do local de trabalho, junto dos poderes constituídos e desfrutar dos serviços oferecidos e das amenidades de suas praças e de outras áreas de lazer.
A melhoria do serviço de transporte esgarçou a malha da cidade e aumentou as distâncias. O núcleo original organizado em torno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção cresce para o oeste em direção à Jacarecanga, para Leste, em direção à Praia de Iracema e para o Sul, em direção ao Benfica.
O Centro continua aumentando sua população. São muitos os que procuram esse bairro, buscando tirar proveito de suas vantagens locacionais. Livram-se, na maioria das vezes, dos encargos com transporte e ainda ganham o tempo, antes utilizado pelos deslocamentos. O processo de verticalização está cada vez mais acentuado.
José Borzacchiello da Silva
Prof. do Departamento de Geografia da UFC
Fonte Diário do Nordeste