EDITORIAL do DN
As famílias brasileiras estão mais cautelosas com o consumo, ainda que a renda tenha se mostrado estável nos últimos 12 meses. O quadro de menor propensão às compras indicado por estudo da CNI (Confederação Nacional das Indústrias) reflete o temor de 60% dos entrevistados em relação ao possível encolhimento da economia.
A prudência financeira da maior parte da população tende a amenizar os níveis de endividamento e inadimplência, sintomas de preocupação no cenário macroeconômico. Paralelamente, o fato pode ser um empecilho ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2013.
Aspecto negativo é o fato de que o País tem apostado, acentuadamente, no consumo para impedir a retração da economia. Tal estratégia, no entanto, pode estar próxima do esgotamento. Ao reduzir o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos, em maio deste ano, o governo, inicialmente, conseguiu impulsionar as vendas a um patamar recorde. Mas, em seguida, surgiram os primeiros sinais de desaceleração no ímpeto de consumo automobilístico.
Em novembro, as compras caíram 8,7% e a produção de veículos, 5,3%, mesmo com os preços abaixo do usual.
Caso a economia não reaja, o setor, um dos mais importantes na cadeia produtiva, poderá se tornar motivo de preocupação em 2013, quando os benefícios fiscais acabarem, e os valores cobrados, naturalmente, devem retornar à sua tendência ascendente.
Embora o consumidor planeje abrandar as despesas, mais da metade pretende adquirir um bem durável ou imóvel até o fim de 2012, o que pode ser um indicativo de alento para a indústria, ao menos, momentaneamente. Materiais de construção e artigos de informática deverão ser os principais objetos de comércio.
No entanto, o levantamento da CNI relata que 42% dos brasileiros estão com comprometimento de renda no limite do aconselhável. Desses, 38% possuem dívidas em atraso, dado ainda mais alarmante, e 85% afirmaram ter dificuldades em arcar com os débitos.
Com a finalidade de melhorar a saúde do orçamento, a população deve diminuir, de imediato, os gastos com supérfluos, como lazer, viagens e atividades esportivas, aponta a pesquisa.
Além disso, muitos estão optando pelas compras à vista, o que não interfere no orçamento futuro da família.
Enquanto o consumidor se manifesta parcimonioso, o governo segue disparando medidas de estímulo. Algumas dessas, tais como a redução nas tarifas de energia, o corte sustentável dos juros e a desoneração da folha de pagamentos são estruturais e tendem a beneficiar o País a longo prazo. Outras, a exemplo de cortes temporários de impostos, são paliativas e, notadamente, não têm obtido os resultados esperados.
Os grandes crescimentos na época que precedeu a crise econômica internacional decorreram do aquecimento do mercado consumidor interno, o que culminou em uma inversão da pirâmide social brasileira, mais tarde, transformada em losango. No presente, entretanto, a classe média já não desfruta de tamanho potencial. Embora com crédito à disposição, as dívidas acumularam-se e o momento é de suprimir o comprometimento de renda.
Incentivos a longos financiamentos e empréstimos a pessoas físicas podem corroer ainda mais os rendimentos da população e prejudicar o principal propulsor da expansão econômica dos últimos anos.