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Crédito, inteligência artificial e reforma tributária dominam reunião da CBMC

By 14/05/2025maio 27th, 2025No Comments

Encontro realizado no Rio de Janeiro reuniu representantes do setor de todo o País para tratar da reativação do Construcard, da transformação digital nas lojas e do impacto da reforma tributária

A primeira reunião de 2025 da Câmara Brasileira de Materiais de Construção (CBMC), realizada no dia 6 de maio, na sede da CNC no Rio de Janeiro, reuniu lideranças setoriais de todo o Brasil e teve como principal pauta a necessidade de reativação do programa Construcard, da Caixa Econômica Federal (CEF), além da busca por soluções para facilitar a automação e inovação das lojas do setor. O encontro foi mediado pela gerente da Associação das Câmaras Brasileiras do Comércio e Serviços da CNC, Andrea Marins.

“Casa cheia é sinal de que o setor está mobilizado para defender seus interesses. O Construcard é uma reivindicação recorrente, essencial para nossos clientes e fundamental para o desempenho do varejo de materiais de construção”, afirmou o coordenador da CBMC, José Wenceslau de Souza Júnior. Segundo ele, a ausência do programa tem prejudicado o consumo nas lojas e dificultado o acesso ao crédito com condições adequadas.

Ainda na abertura, o coordenador-geral das Câmaras Brasileiras do Comércio e Serviços da CNC, Luiz Carlos Bohn, ressaltou o papel estratégico das câmaras temáticas.

“Como a Confederação poderia lidar com tamanha diversidade sem ouvir o setor? As Câmaras são a escuta ativa institucionalizada da CNC”, disse.

Construcard

Representando a CEF, Patrick Diniz e Antônio Augusto participaram da reunião de forma remota. O apelo dos empresários foi reativar o Construcard com taxas competitivas e condições atrativas para o consumidor final.

“O Construcard sempre foi um divisor de águas para o nosso setor”, reforçou José Wenceslau. Ele destacou que a simplificação do acesso ao crédito e o foco exclusivo nas lojas de materiais de construção tornavam o programa um motor importante para o consumo.

Inteligência artificial e inovação

O diretor de Economia e Inovação da CNC, Maurício Ogawa, apresentou o painel IA na Construção Civil, destacando as aplicações da inteligência artificial no setor e os gargalos que impedem sua difusão entre empresas de menor porte.

Ogawa expôs uma série de possibilidades da IA no setor, como gestão de estoques e previsão de demanda com análise de padrões de consumo; segurança em obras, com monitoramento por IA e drones; automação de tarefas repetitivas, reduzindo custos e aumentando eficiência; e otimização logística e energética, com algoritmos que cruzam dados climáticos e de tráfego.

Segundo pesquisa apresentada, 74% das empresas do comércio não inovaram por falta de recursos próprios, e 51% apontam a ausência de instrumentos de fomento como principal barreira. Grandes empresas têm 4,6 vezes mais chances de inovar do que as pequenas.

Ogawa também trouxe o CNC Hunting, programa que busca soluções inovadoras em startups, com foco em desafios como planejamento tributário, análise de dados e transição para o mercado livre de energia.

“A indústria já está robotizada há anos, mas o varejo ainda engatinha porque falta acesso a crédito para inovação. Nos EUA, isso é acessível; no Brasil, os custos são proibitivos”, explicou José Wenceslau em uma das intervenções durante a apresentação de Ogawa.

Veja as fotos da reunião aqui.

Reforma tributária

O consultor tributário da CNC, Gilberto Alvarenga, detalhou os principais impactos da reforma tributária (LC 214/2025) no setor de materiais de construção. Segundo ele, as mudanças devem implicar aumento da carga tributária no segmento, especialmente com a substituição de benefícios fiscais atualmente vigentes por alíquotas-padrão do novo sistema de IBS e CBS.

Entre os pontos de atenção estão o fim das reduções de ICMS previstas para materiais como telhas e tijolos, hoje beneficiados por convênios estaduais; o aumento de obrigações acessórias durante o período de transição, com necessidade de dupla contabilidade; e a pressão por formalização de prestadores informais, o que impactará reformas e obras de pequeno porte.

Alvarenga destacou que a CNC pretende apresentar uma proposta de emenda à Constituição para estender a redução de 60% das alíquotas do IBS e CBS aos materiais de construção, protegendo o setor dos impactos mais severos.

“Periferia Viva” pode impulsionar varejo de materiais

O economista sênior da CNC, Fabio Bentes, apresentou os impactos econômicos do programa Periferia Viva, do Novo PAC, que deve investir mais de R$ 7 bilhões na urbanização de favelas e áreas periféricas.

Segundo ele, o segmento de materiais de construção pode crescer até 2,2% ao ano com a execução plena do programa e os efeitos econômicos do programa vão muito além da infraestrutura.

Bentes analisou ainda os possíveis efeitos do programa federal Periferia Viva sobre o setor de construção civil e o comércio de materiais. Lançado em novembro de 2024 como parte do Novo PAC, o programa visa à urbanização de favelas e à regularização fundiária de comunidades de baixa renda.

“O governo federal, no fim do ano passado, lançou o programa Periferia Viva, que se insere no âmbito do Novo PAC. Como sabemos, o governo tentou ressuscitar o PAC com algumas medidas para estimular a economia. Uma delas, todos nós sabemos, é movimentar o setor da construção, um setor fortemente empregador”, afirmou Bentes.

O economista lembrou que, mesmo diante de oscilações econômicas recentes, como alta dos juros e do dólar, a construção civil e o comércio de materiais mantêm protagonismo no mercado de trabalho. “A gente pega o histórico dos últimos anos, e o destaque sempre é o setor de construção. No caso do comércio, especificamente na venda de produtos, também o setor tem se destacado bastante”, observou.

Segundo Bentes, o programa tem potencial para gerar impactos diretos na construção civil e efeitos indiretos relevantes no comércio local. “Esse programa que foi lançado no fim do ano passado pode, de alguma forma, aquecer um pouco mais o setor. E é um setor muito importante. A gente se lembra da pandemia, na fase mais aguda, ele foi considerado essencial, e há um consenso de que ele continua sendo, do ponto de vista das necessidades básicas das pessoas.”

Além dos efeitos econômicos imediatos, Bentes destacou a dimensão social da iniciativa. “O impacto que esse programa tem diretamente no setor e, indiretamente, no comércio da sociedade advém de questões socioeconômicas. Ele é voltado para melhorias, para benfeitorias, para a formalização da posse de imóveis no Brasil. Isso tende a ter desdobramentos importantes sobre a economia como um todo.”

O Periferia Viva atua em frentes como a regularização fundiária, melhorias habitacionais e redução de riscos em moradias precárias. Segundo o economista, ao promover titulação de propriedades e formalização de endereços, o programa também facilita o acesso ao crédito e estimula a valorização imobiliária.

De acordo com Bentes, a criação de empregos diretos e indiretos nas obras de urbanização, como pavimentação, drenagem e construção de habitações, deve gerar renda local e fortalecer o comércio nas comunidades atendidas.

Outro ponto destacado na apresentação foi o estímulo à economia criativa e à inovação por meio de capacitação de jovens e fomento a iniciativas empreendedoras nas periferias. Para ele, esse componente amplia os horizontes de desenvolvimento econômico nessas regiões e pode diversificar a base de consumo local.

O programa é coordenado pela Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, e conta com financiamento do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), além de contrapartidas públicas e privadas.

Bentes ressaltou o potencial do Periferia Viva para reduzir desigualdades regionais, com foco especial em áreas historicamente negligenciadas, como o Nordeste. “Estamos falando de um programa que atua diretamente na base da pirâmide social, promovendo inclusão, geração de renda e desenvolvimento urbano sustentável.”

Acompanhamento legislativo

Ainda na reunião, o assessor da Diretoria de Relações Institucionais da CNC (DRI) Felipe Miranda apresentou os principais projetos de lei e propostas de emenda constitucional em tramitação com potencial impacto no setor:

– PL nº 6.005/2023 – Dispõe sobre a regulação da comercialização de materiais de construção e a proteção do comércio varejista.

– PLP nº 164/2022 – Estabelece normas gerais para a identificação e controle de devedores contumazes, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência.

– PL nº 2.489/2021 – Altera o Código de Defesa do Consumidor para prever a facilitação da defesa do consumidor, inclusive com a inversão do ônus da prova na esfera administrativa.

– PEC 8/2025 – Trata da redução da jornada de trabalho.

– Isonomia tributária do ICMS – Acompanhamento da internalização da decisão do Confaz.

Fonte.: https://portaldocomercio.org.br/acoes-institucionais/credito-inteligencia-artificial-e-reforma-tributaria-dominam-reuniao-da-cbmc/