O dono do Pão de Açúcar acaba de assumir o controle da Casas Bahia, formando um grupo de R$ 40 bilhões. E fez isso depois de comprar o Ponto Frio e retomar a liderança do varejo
Por por Carlos Sambrana
vez por que é considerado a maior referência na história do varejo brasileiro. Em uma tacada surpreendente, o presidente do conselho e acionista do Pão de Açúcar assumiu o controle da Casas Bahia, criando um colosso com 1.807 lojas, 137 mil funcionários e faturamento estimado em R$ 40 bilhões – maior do que Carrefour e Walmart somados. A partir de agora, o Pão de Açúcar, que havia movimentado o mercado com a compra do Ponto Frio – um negócio já absorvido pela companhia -, ocupa a quarta posição entre os maiores grupos privados do Brasil. Para celebrar essa vitória, Abilio, que logo após o anúncio se fechou em sua sala para uma conferência com os seus sócios franceses do Casino, brindará com uma taça de vinho. “Ainda estou aprendendo a beber, não cheguei a ter um paladar refinado”, diz Abilio, que prefere os exemplares da uva cabernet sauvignon. Seus sócios, exímios apreciadores da bebida de Baco, não estão nem aí com a falta de conhecimento de Abilio no mundo do vinho. Afinal, ele pode até patinar em degustações, mas seu faro para negócios continua apurado. O ano de 2009, então, não deixa dúvidas sobre isso. O empresário coordenou a compra do Ponto Frio, rede de eletroeletrônicos, por R$ 824,5 milhões e alçou o Grupo Pão de Açúcar novamente à liderança do varejo. “A aquisição do Ponto Frio foi uma grande jogada”, diz Abilio, que, graças a esse negócio e aos resultados do grupo, foi eleito o Emprendedor do Ano pela revista DINHEIRO.
Na sexta-feira 4, Abilio Diniz, 72 anos, mostrou mais uma
Os resultados dessa jogada realizada em junho já começam a aparecer. Com a chegada do Ponto Frio, o grupo ampliou a rede para mais de 1.200 lojas espalhadas por 18 Estados e o Distrito Federal, aumentou a participação no mercado de eletroeletrônicos de 10% para 26% e hoje possui quase 80 mil funcionários. No terceiro trimestre de 2009, o primeiro com a operação do Ponto Frio unificada, o faturamento do grupo alcançou R$ 6,93 bilhões. Sem o Ponto Frio, ele seria de R$ 5,65 bilhões. Já no acumulado do ano, o grupo faturou R$ 17,86 bilhões e lucrou R$ 397,6 milhões. “Esse negócio envolvendo o Ponto Frio é feito de detalhes”, afirma Abilio. “É comprar bem, acertar a logística, os sistemas de TI, encher as lojas de mercadorias e aproveitar as sinergias”, explica. Outro ponto crucial é a oferta de crédito. De uma hora para outra, os oito milhões de cartões da Financeira Itaú CBD (FIC) passaram a ser aceitos no Ponto Frio com um volume de R$ 10 bilhões disponíveis para financiamento.
“As empresas necessitam do acionista para tomar as decisões mais estratégicas”
Além de mudar a feição do grupo que comanda, Abilio, com a aquisição, traçou novos rumos para o setor varejista. “A compra do Ponto Frio vai puxar as outras redes a competir mais nessa área de não alimentos”, diz Sussumo Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
O retorno do Pão de Açúcar ao olimpo do varejo sinaliza outra vitória de Abilio. Entre 2003 e 2007, ele decidiu profissionalizar a companhia, se afastou dos negócios e deixou que os executivos aprendessem com os erros e acertos. “Errei em fazer isso. Acho que as empresas necessitam do acionista para tomar as decisões mais estratégicas.” Abilio voltou, chamou o executivo Cláudio Galeazzi, experiente em reestruturação de empresas, para comandar o grupo e pôs ordem na casa. Nenhum profissional foi trazido de fora, todos foram remanejados, e o “time”, formado com “pratas da casa”, começou a virar o jogo em 2008.
Essa não foi a primeira vez que Abilio, torcedor fanático do São Paulo a ponto de frequentemente jantar com jogadores do clube, mudou o resultado de uma partida. No fim da década de 80 e início dos anos 90, o grupo quase desapareceu, mergulhado em uma guerra de Abilio com os irmãos pelo controle da empresa. O Abilio daquela época era, como ele relata em seu livro Caminhos e escolhas – o equilíbrio para uma vida mais feliz”, autossuficiente e arrogante. Hoje, é outro. “O Abilio às vezes é como um pai. Ele cobra muito, mas sempre se preocupa se as pessoas estão bem, felizes, saudáveis”, diz Cláudio Galeazzi, presidente do Grupo Pão de Açúcar. Grande parte dessa transformação se deve ao seu segundo casamento, com Geyse Diniz, com quem teve dois filhos, Rafaela, 3 anos, e Miguel, com menos de um mês de vida. “É sensacional ser pai novamente (Abilio teve três filhos no primeiro casamento), mas, para um cara como eu, aumenta a responsabilidade.”
Quando o empresário fala em “responsabilidade”, ele quer dizer, na verdade, que aumenta a preocupação com a sua longevidade. “Tenho 72 anos e, daqui a cinco anos, tenho que ter saúde para jogar futebol com o meu filho.” Com 79 kg divididos em 1,80 metro, Abilio aparenta 20 anos menos do que a certidão de nascimento marca. Os ternos e as gravatas foram aposentados e, agora, ele se veste de forma casual. Não é exagero dizer que ele mantém um corpo de atleta. Afinal, enquanto esportistas apresentam taxas de gordura no corpo abaixo de 12%, ele ostenta um índice que varia entre 7,5% e 8,5%. “O treino dele não é diferente do de uma pessoa com 30 anos”, diz Irineu Loturco Filho, treinador de Abilio há dois anos e meio. A obsessão do empresário pelos exercícios é tanta que, durante o Réveillon, quando aluga uma ilha em Angra dos Reis, envia um caminhão com todos os seus equipamentos de treino.
Para manter a mente e o corpo sãos, ele segue uma cartilha rígida. Acorda às 5h30, inicia os exercícios às 6h e corre na esteira até as 7 horas. No almoço, faz musculação. “Se eu quiser levar o Miguel e a Rafaela no colo, tenho que corram em Boulder, no Colorado, para um workshop exclusivo com o americano Jim Collins, um dos grandes gurus de negócios da atualidade, autor do livro Good to great (Do Bom ao Excelente, numa tradução livre). “É o livro de negócios mais importante que já li. Quando li, pensei: isso aqui tem a minha cara. Não quero uma companhia good, quero uma companhia great”, diz.
No quesito qualidade de vida, ele lançou, em agosto, um site (www.abiliodiniz. com.br) para dar dicas sobre esporte, alimentação e mostrar como buscar a felicidade. “A felicidade não é algo que se herda, você tem que lutar por ela. As pessoas às vezes dizem: ‘Ah! Ele vive de bem com a vida porque é o Abilio Diniz, tem muito dinheiro.’ Quantas pessoas têm uma montanha de dinheiro e não são felizes! Isso é uma questão de decisão.” Abilio, iniciante no mundo do vinho, tem motivos de sobra para brindar.
Fonte http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/612_EMPREENDEDOR+DO+ANO+ABILIO+DINIZ