por Levi de Freitas – Repórter DN
A constatação é da Pesquisa do Endividamento do Consumidor, feita pela Fecomércio-CE
O desequilíbrio financeiro é a principal justificativa do fortalezense para o não pagamento das dívidas. De acordo com a Pesquisa do Endividamento do Consumidor de Fortaleza, realizada mensalmente pela Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), em agosto, a diferença entre a renda e os gastos correntes é citada por 68,2% dos consumidores como principal fator para o atraso. O tempo médio de atraso das contas é de 77 dias. Os dados do estudo, na íntegra, serão divulgados hoje.
A atendente de restaurante Paula Pinto, 30, por exemplo, enfrentou problemas para honrar com algumas dívidas recentemente. Conforme ela, a falta de planejamento gerou desequilíbrio, que culminou na dificuldade em pagar as faturas do cartão de crédito. “Fiquei pagando só o mínimo do cartão”, relembra. Segundo Paula, as coisas “saíram do controle”, disse. “De tanto que eu pagava só o mínimo, (a dívida cresceu). Então, paguei e cancelei o cartão. Deixar para depois, vira uma bola de neve. Quando a gente gasta demais, não pensa, sai do controle. Hoje, eu só compro à vista”, afirmou.
De acordo com o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Eleutério, a crise econômico-financeira pela qual o País atravessa é responsável por boa parte do desequilíbrio apontado pelo fortalezense. “Sobretudo por conta do quadro recessivo da crise, as pessoas perdem renda, pelo desemprego. Mesmo as pessoas empregadas têm dificuldades em aumentar sua renda, fazer reajustes salariais adequados”, avalia o economista.
“Embora a gente comece a ter uma sinalização de mudança, à medida em que o emprego informal aumentou, fica difícil renegociar salário. E a maior preocupação é se manter no emprego”, acrescenta Ricardo Eleutério.
Conforme o economista, a diminuição do ritmo da inflação ainda não foi suficiente para causar efeitos positivos no bolso dos brasileiros. Ao contrário, o que ainda persiste é a realidade de prejuízo causado pelo cenário econômico atual.
“Apesar da inflação ter desacelerado, ela continua corroendo o poder de compras do brasileiro. Embora menor, você tem perda de renda, o que acaba sendo traduzido nesse quadro, em desequilíbrio financeiro”, destacou Ricardo Eleutério.
Orientação
O economista disse que, para não meter os pés pelas mãos e evitar grandes dificuldades em honrar os compromissos, é preciso estar sempre alerta e atento ao quanto consome e ao quanto ganha, evitando exageros.
“Ao consumidor, a sugestão dada é a de praxe: evitar endividamento, evitar consumo compulsivo, evitar compras em muitas parcelas, dada a incerteza maior para o futuro, por conta do quadro de recessão”, diz.
“Deve-se pesquisar preços, centrar o consumo nas necessidades fundamentais como alimentação, habitação. Evitar o consumo de coisas não essenciais. Estamos em um quadro de incertezas ainda muito grande. Então, a gente deve ficar mais contido”, orienta.
Comportamento
A diarista Conceição Lima, 51, diz que consegue controlar as dívidas e não atrasar nenhum pagamento e dá a receita. “Não compro fiado para não ter problema. Não uso cartão, só em necessidade extrema, como medicamento, quando não tenho o dinheiro na hora, mas nada de passar do limite. No mercantil, compro aos poucos”, disse.
Enquete:
Como não atrasar contas?
“A dica é tentar economizar, não fazer compras no cartão de crédito. No meu caso, não uso. Tento economizar, fazer os cálculos do mês, comprando conforme o meu salário. Tem de gastar dentro do limite”.
Leonardo Nascimento
Professor
“Não se pode gastar mais do que se ganha. Tem de botar no papel tudo que gastar para não passar do limite. Quando uso o cartão de crédito, só compro de novo quando terminam as parcelas. Só uso para emergência”.
Francisca Marcela
Auxiliar de cozinha