por Raone Saraiva/Bruno Cabral – Repórteres
Antiga demanda do varejo fortalezense, a ampliação do horário de funcionamento do comércio de rua pode se tornar real em breve. Uma das principais propostas do Programa Fortaleza Competitiva – lançado no mês passado pela Prefeitura – estabelece zonas especiais onde os estabelecimentos comerciais podem abrir até a meia-noite ou durante 24 horas. O projeto tramita na Câmara Municipal e deverá ser aprovado até o fim deste ano.
A novidade poderá contribuir para o incremento nas vendas e aumento do número de vagas de empregos formais na Capital. “A loja aberta por mais tempo é sinônimo de mais negócios, pois gera mais vagas de trabalho e aumenta a arrecadação nas três esferas de governo, beneficiando toda a cadeia produtiva”, resume Assis Cavalcante, presidente da Ação Novo Centro e diretor da CDL de Fortaleza. Atualmente, conforme informa, o fluxo de clientes no Centro é de 350 mil pessoas em dias úteis, enquanto aos sábados é de 420 mil. Deste total, 64 são comerciários que trabalham no bairro.
Sucesso
Mas o sucesso da mudança dependerá da atitude dos lojistas, que terão de formar novas equipes e modificar a cultura das empresas para se adaptar. E isso só é possível por meio de investimento em dois importantes segmentos empresariais – pessoas e processos – considerados essenciais no varejo e grandes diferenciais para se atingir bons resultados.
“O comércio pode, a princípio, ir testando os horários, observando as demandas nos diferentes dias da semana e olhando sempre para o seu público-alvo. É necessário que o setor encontre o que chamamos de vocação local, investindo em novidades, diferenciais”, afirma o professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Kanter. “O comércio não pode esperar resultados imediatos, mas precisa pensar em retornos no médio e longo prazo”, pondera.
Liberdade
Para os lojistas, o horário de funcionamento das lojas de rua deveria ser, no mínimo, igual ao das lojas de shopping centers. “Precisamos ter a liberdade para fazer a economia crescer e, ao mesmo tempo, respeitar a legislação trabalhista”, destaca Cavalcante, elogiando a iniciativa da Prefeitura. “O projeto nos autoriza a abrir não só em outros horários, mas aos domingos e em feriados municipais”, acrescenta.
A mudança no varejo fortalezense, diz Roberto Kanter, só ocorrerá de forma sustentável se houver uma união de forças envolvendo tanto o comércio e suas associações quanto os poderes públicos municipal e estadual. “Esse novo comércio não tem que envolver apenas as lojas de rua, mas serviço e lazer, segurança pública e mobilidade urbana”, destaca o professor da FGV.
Estratégia
Segundo o presidente da Ação Novo Centro, a ideia do setor é começar a praticar os novos horários nos estabelecimentos dos corredores comerciais das ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso, para depois passar para outras vias do entorno.
“De imediato, podemos ter de 20 a 30 lojas abertas nessas ruas. E depois vamos aumentando, com a participação de bares e restaurantes. Contamos com o apoio da Polícia Militar, para a segurança, e dos órgãos municipais, para o entretenimento. Todo esse conjunto tem de funcionar. Acreditamos nisso”, observa Assis Cavalcante.
Turismo
Para sustentar a demanda, o setor aposta, sobretudo, no fluxo turístico da Capital. No caso do Centro de Fortaleza, os lojistas defendem que o alongamento do horário nos dias de semana atenderia aos visitantes que desejam fazer compras à noite.
Nova cultura
“Durante o dia, o turista está nas praias e, no período noturno, ele geralmente aproveita para fazer compras e conhecer a cidade, o centro histórico. A visita ao centro em qualquer cidade é emblemática, mas o de Fortaleza, depois da 17 horas, está fechado”, compara Freitas Cordeiro, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Ceará (FCDL-CE).
O varejo fortalezense também mira no consumidor que vai às compras fora do horário comercial para fomentar a demanda no período da noite e aos domingos e feriados, entre os quais estão moradores da Região Metropolitana de Fortaleza, servidores públicos ou trabalhadores da indústria.
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