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Incêndio atinge prédio do extinto Poupa Ganha

By 20/08/2010outubro 17th, 2011No Comments

Centro
Famílias recusam-se a sair do imóvel alegando não ter para onde ir. Segundo a Defesa Civil, há risco de desabamento

Sem ajuda: Defesa Civil informa que não pode ajudar as famílias porque elas insistem em ficar em situação irregular. Segundo a Habitafor, não há vagas em abrigos públicos  FOTO: JOSÉ LEOMAR

Sem ajuda: Defesa Civil informa que não pode ajudar as famílias porque elas insistem em ficar em situação irregular. Segundo a Habitafor, não há vagas em abrigos públicos FOTO: JOSÉ LEOMAR

Muita fumaça, paredes com riscos de desabar, pessoas em pânico por terem perdido tudo, desolação e incerteza sobre o futuro. Esse cenário “de guerra” foi resultado de um incêndio ocorrido, na madruga de ontem, no antigo prédio do “Poupa Ganha”, na Avenida Imperador, nº 660, onde, há 12 anos, 34 famílias sobrevivem em situação de extrema precariedade.

Apesar do perigo de desabamento, a maioria dos moradores insiste em continuar no local, alegando risco de perder a posse do terreno, que está em disputa judicial. “Todos conseguiram sair a tempo. Oito, das 34 famílias, foram diretamente atingidas, perderam tudo. Oferecemos a transferência para o ginásio da Parangaba, mas não querem ir. O prédio corre risco de cair. Era uma tragédia anunciada”, frisou Franklin Nascimento, integrante da Coordenação da Defesa Civil Municipal.

Laudo

Conforme relato dos moradores, as chamas se espalharam rapidamente e atingiram o vão principal do edifício, no térreo. O Corpo de Bombeiros foi acionado e evitou que o fogo se espalhasse mais. Entretanto, toda a estrutura parece “condenada”. Segundo o Corpo de Bombeiros, há indícios de curto-circuito na fiação elétrica. Tanto a Habitafor quanto a Defesa Civil aguardam o laudo pericial.

A Prefeitura de Fortaleza promete investigar as reais condições da estrutura. Mesmo sem o resultado final ainda, o assessor técnico da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), João Sérgio, frisou a importância de se priorizar a transferência imediata das famílias. “Apesar de não se tratar de um prédio público, estamos acompanhando as famílias a fim de achar uma solução”, explicou João Sérgio, acrescentando que, atualmente, não há vagas disponíveis nos abrigos públicos da Capital.

Com temor da segurança das crianças, em especial, Augusto Junior, da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), apontou os riscos para a saúde e integridade dos habitantes. “Tem mais de 30 crianças, todas correndo riscos de vida. É muita sujeira e fumaça aqui. Seria bom se, pelo menos elas, fossem transferidas logos”, explicou. No pátio, em meio a caixas e colchões queimados, a garotada corria como se nada tivesse acontecido.

Carregando o filho, todo sujo de fumaça, no colo, Ana Cláudia da Silva, 32, teve medo de morrer e não sabe como vai levar a vida juntamente com seus 6 filhos. “Perdi tudo, não temos colchão para dormir nem comida para passar a noite. Mesmo assim, vou continuar aqui, não vou sair. Aqui é minha casa”, frisou, com os olhos chorosos e borrados de fuligem, a jovem.

“Estamos vivos, é isso que interessa. Só não quero mais continuar aqui no Poupa Ganha, queria sair daqui. Seria bom se o povo pudesse dar doação para a gente”, pediu José das Chagas Marques, 87. Questionado se a Defesa Civil poderia trazer alguns donativos às famílias, Franklin Nascimento informou que, apesar de terem muito material de doação estocado, são proibidos de ajudar o grupo que insiste em ficar no local, em situação vulnerável.

INTERVENÇÃO
Escritório Frei Tito pede reforma do imóvel

O problema se arrasta há 12 anos. Para quem anda pelo Centro da Cidade já sabe a problemática do local. A moradia improvisada, o corre-corre das crianças, o mau cheiro dos dejetos, o barulho das galinhas… O cenário não é novo nema necessidade de tomar iniciativas. “As famílias têm direito à moradia digna. Há que se fazer algo, oferecer uma solução. Uma intervenção é urgente”, frisou a advogada do Escritório de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa Frei Tito de Alencar, Patrícia Oliveira. De acordo com ela, há duas possíveis soluções para a problemática de negação do direito a uma moradia digna: a reestruturação do prédio do Poupa Ganha ou a transferência das famílias para um novo local no Centro da Cidade.

Riscos

“O prédio do Poupa Ganha está condenado, não dá para ninguém morar lá do jeito que está, é um risco”, explicou a advogada. Conforme Patrícia, o grupo já exerce a posse por mais de cinco anos. Teria direito de ser declarado proprietário do imóvel, conforme usucapião

Fonte http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=841600

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