RUAS DO CENTRO
Armazenamento e disposição inadequados dos alimentos podem oferecer riscos à saúde do consumidor.
É comum ouvir por aí que a fome é o melhor tempero. Quando o estômago fica vazio, qualquer ponto onde haja venda de alimentos parece ser o suficiente para saciar a vontade de comer. Entretanto, muitas vezes, a necessidade sobrepõe o cuidado com a procedência da refeição, o lugar onde ela é preparada e a pessoa responsável pelo trabalho. Nesse quesito, a comida de rua é a que mais deixa a desejar, e é no Centro de Fortaleza que são encontradas algumas da piores condições de higiene.
Pelas ruas do bairro, a reportagem flagrou diversos vendedores, ambulantes ou não, comercializando alimentos dos mais diferentes tipos, desde espigas de milho cozidas ou assadas a saladas de frutas, pastéis, batatas fritas, sanduíches e bolos. Até mesmo refeições completas, montadas na forma de marmitas, podem ser vistas.
O maior problema, na verdade, está no modo como eles ficam dispostos ou armazenados para a venda. Pedaços de abacaxi e espigas de milho, por exemplo, se encontravam expostos ao sol, a insetos e à poeira das ruas, além de serem constantemente manejados próximo a valas de esgotos e latas de lixo.
Já as saladas de frutas e marmitas são preparadas com alimentos conservados apenas em caixas térmicas feitas de isopor e, muitas vezes, nem isso. Alguns ficam guardados em recipientes comuns, sem contar com qualquer método de refrigeração ou de aquecimento.
No entanto, mais impressionante que a variedade de comidas vendidas de forma irregular nas ruas do Centro, é a quantidade de pessoas que compram os alimentos mesmo sabendo dos perigos que sua ingestão pode trazer à saúde.
Apesar de ter consciência dos perigos, a enfermeira Andrea Cavalcante admite que não dispensa um lanche quando vai ao local. “Quando bate a fome, eu costumo comprar”, diz ela, saindo de um dos trailers de comida com uma porção de batatas fritas nas mãos.
A aposentada Gorete Cunha também conhece os riscos, mas, depois de ingerir um salgado vendido por um ambulante, ela afirma não ter medo de intoxicações alimentares. “Nunca senti nada. Por isso, sempre como alguma coisa na rua”, conta.
Higiene
A professora Diana Carvalho, do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que, além das precárias condições, também deve-se destacar a grande quantidade de vendedores manipulando os alimentos sem os cuidados higiênico-sanitários.
Segundo ela, a não utilização de proteções para cabelo e mãos, o uso de adornos, barba e maquiagem, o manejo de dinheiro pelas pessoas que preparam os lanches e a falta de limpeza de utensílios são os problemas mais comuns. “Este quadro proporciona condições favoráveis para o aumento do risco de intoxicações alimentares, em que os sintomas mais comuns são dor de estômago, náuseas, vômitos, diarreia e febre”, ressalta Diana.
Conforme ela, por terem atingido um número considerável e grande procura, é imprescindível que os vendedores de comida sejam fiscalizados constantemente. “Deve haver a responsabilidade de desenvolver políticas públicas para identificar, capacitar e fiscalizar os vendedores de alimentos”, pontua.
A Secretaria Municipal de Saúde informou, por meio de sua assessoria, que a fiscalização só é realizada nos comércios regularizados na Prefeitura, que tenham permissão para fazer as vendas. Nesses casos, todos os serviços e práticas de manipulação dos alimentos são monitoradas. Em relação aos não autorizados, segundo a assessoria, a fiscalização não age.
VANESSA MADEIRA
REPÓRTER
Fonte Diário do Nordeste .