Centro
Alguns vendedores que ainda não foram remanejados temem a transferência para a Praça da Estação
A decisão da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor) de desobstruir as calçadas no entorno de 13 prédios considerados históricos, iniciada na última segunda-feira, começa a mudar o visual desses locais. Ontem, a equipe do Diário do Nordeste visitou todos eles e constatou que a maior parte já não conta mais com a presença de vendedores ambulantes.
A principal preocupação da Sercefor é com o Parque da Liberdade (Cidade da Criança). Mesmo após o acordo firmado entre os cerca de 70 ambulantes que ocupavam as calçadas nas ruas Pedro I e Solon Pinheiro e a Prefeitura, na última terça-feira, que garantiu o deslocamento para ruas como Guilherme Rocha, Liberato Barroso, General Bezerril, Perboyre e Silva e Pedro Borges, a vigilância ontem pela manhã era intensa.
Nada menos do que 34 fiscais permaneceram distribuídos na Solon Pinheiro, entre Pedro I e General Bezerril. Segundo o chefe da turma, Róbson Matos, não houve qualquer tipo de problema. “Depois dos conflitos da última segunda-feira, tudo voltou à normalidade”. Na ocasião, quatro fiscais foram agredidos por vendedores de CDs após terem sido retirados.
Operação Linha Vermelha tira ambulantes das calçadas de prédios históricos
Apesar disso, mais uma vez, a reportagem flagrou uma banca de venda de raízes exatamente na entrada da Cidade da Criança, pela Rua Pedro I. Róbson Matos esclareceu que havia determinado a retirada da mesma. “Se retornou, vamos averiguar”, garantiu.
No Museu do Ceará, que fica ao lado da Praça dos Leões, a calçada encontra-se livre. Na praça, o panorama é o mesmo, embora no calçadão da General Bezerril existam duas bancas de merenda que, segundo os guardas municipais, funcionam somente pela manhã e depois são desarmadas.
Outros três pontos que se encontram livre a presença de camelôs são a Catedral de Fortaleza, a Santa Casa de Misericórdia e o Passeio Público, que conta com a constante vigilância do pessoal da Guarda Municipal. “É um espaço que, graças a Deus, foi devolvido à população”, aponta o aposentado Luís Felipe de Lima, 67 anos.
No Instituto Histórico e Antropológico do Ceará, ao lado da Praça do Carmo, os transeuntes estão impedidos de se locomover na calçada por outro motivo. É que a Rua Barão do Rio Branco passa por reformas e no logradouro estão espalhados anéis de cimento armado e gigantescas tampas que serão usadas na drenagem.
Na Casa de Juvenal Galeno, na Rua General Sampaio, não há um só ambulante. Aliás, há vários anos que o equipamento não sofre com esse problema. Logo na porta de entrada está afixado um aviso: proibido vendedores ambulantes e carroças na calçada, conforme lei municipal 5530/81, artigo 711.
Mudança
A fachada do Theatro José de Alencar voltou a tornar-se visível aos olhos da população. Ali, nos últimos dias, não existe mais nenhum camelô, pelo menos no horário comercial. O mesmo acontece em relação ao prédio do Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), ao lado do teatro. Todavia, muitos apenas dobraram na 24 de Maio, onde se instalaram juntamente com outros camelôs. “A gente tem que escapar de qualquer maneira. Não é certo que a Prefeitura resolva fazer essa mudança exatamente no período em que ganhamos um pouco mais”, desabafa Ana Maria Gaudino, vendedora de balas e outras guloseimas.
Na calçada do Museu das Secas, que ainda se encontra passando por reformas, os ambulantes continuam trabalhando normalmente. Ali, existem cinco camelôs postados na Rua Pedro Pereira e o mesmo número na General Sampaio.
Questionados se não haviam sido notificados para deixar o local, três deles garantiram à reportagem que ainda não tomaram conhecimento da Operação Linha Vermelha.
Outro equipamento que ainda conta em seu entorno com trabalhadores autônomos é a Igreja de São Bernardo, onde duas bancas na Pedro Pereira comercializam peças de fogão e uma outra, instalada pelo lado da Senador Pompeu, vende material elétrico. Por fim, o sobrado José Lourenço, na Major Facundo, entre as ruas Castro e Silva e a São Paulo, está livre da presença dos camelôs.
Praça da Estação
Em todos os locais visitados, existe uma preocupação em comum: os ambulantes temem o remanejamento para a Praça da Estação, onde já estão cerca de 800 camelôs.
Aqueles que encontram no local terão que aguardar até que a Prefeitura coloque em prática a sua ideia de construção de quatro centros populares de compras, nos quais serão instalados 2.623 trabalhadores autônomos que, hoje, se encontram espalhados pelo Centro.
Quem já foi remanejado lamenta até hoje. “Isso aqui mais parece uma favela, com teto de plástico e muita sujeira. Em relação às vendas, o movimento caiu 90%. Se não tiver muito cuidado, não dá para juntar nem o da comida do dia seguinte”, argumenta Francisco Antônio Pereira Serafim.
Célia Pinheiro Braga engrossa o discurso de Serafim. “Além desse lado comercial, vivemos aflitos por aqui, já que o número de assaltos é muito grande, principalmente depois que escurece. Rezo todos os dias para que essa solução definitiva venha logo. Mas, sei que está difícil. A cada dia jogam mais gente para cá”, protesta.
Na Praça da Estação, é possível encontrar de tudo. Uma situação insólita é a do casal José Fernando e Fabiane Nóbrega. Ambos vivem de biscates e há nove meses “construiram” sua moradia em cima de um abrigo de ônibus.
FERNANDO MAIA
REPÓRTER
Fonte http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1074166