descaso Publicado em 5 de abril de 2011
Os problemas se multiplicaram debaixo da vista da Prefeitura, ambulantes, sem-tetos, lixo e insegurança
“A esperança é a última que morre”. O ditado popular é lembrado pela enfermeira Marlene Gomes da Silva todas as vezes que percorre as ruas do Centro em direção ao Hospital César Cals, na Avenida do Imperador. “É um sufoco”, define ela, enumerando obstáculos e problemas que enfrenta diariamente como buracos, lixo, mau-cheiro, calçadas e praças ocupadas pelo comércio ambulante, sem-tetos, pedintes, traficantes e viciados. “O pior é que vivemos de promessas faz tempo, mas tenho fé que um dia isso se resolverá de uma forma ou de outra”, afirma a enfermeira.
A reclamação de Marlene é repetida por onde se anda no Centro da cidade. E todos os problemas citados são constatados facilmente basta caminhar ou tentar caminhar pelas vias. Os buracos tomam de conta da Rua 24 de Maio. Quase na esquina com a Rua São Paulo, uma cratera faz suas vítimas diariamente. “Quase quebrei o braço ao cair nesse buraco que faz tempo que está aí”, aponta a aposentada Maria da Penha Pereira. O motoboy Edvaldo Freire conta que escapou por pouco de um acidente. “Desviei em cima e agradeço a Deus por não ter acontecer algo pior comigo”.
Para o presidente da Ação Novo Centro e vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Riamburgo Ximenes, o Centro vive de promessas devido a falta de competência da atual gestão municipal. “Existem projetos para tudo que se imagine, mas sair do papel mesmo está longe”. Na sua avaliação, o Centro enfrenta a “triste realidade” do abandono. “E olhe que cerca de 350 mil pessoas passam pela área diariamente, ofertando 68 mil empregos diretos no comércio”.
O presidente da Associação dos Empresários do Centro de Fortaleza e diretor da Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio), João Maia Santos Júnior, avalia que o bairro hoje vive “um dos piores momentos de sua historia”. Ele cita como exemplo a Rua Guilherme Rocha esquina com Av. Tristão Gonçalves, nas mediações da Praça da Lagoinha.
Segundo ele, a falta de disciplinamento dos espaços públicos está exemplificado na feira na Praça da Lagoinha. “Durante a noite, a escuridão toma conta das ruas, favorecendo a depredação do patrimônio, prostituição e assaltos. Isso sem falar no prédio do ´Poupa Ganha´, um imenso cortiço dividido em pequenos cubículos sem nenhuma instalação sanitária, que funciona como ponto de venda de drogas e abrigo de vários marginais que cometem assaltos nas imediações”, afirmou.
Ele defende a volta do Centro como um bairro habitacional. Para Maia Júnior, isso traria uma série de benefícios e cita como exemplo, a melhoria na qualidade de vida milhares de trabalhadores formais que hoje precisam se deslocar dos bairros para a área central.
Só ambulantes
A chefe do Distrito de Meio Ambiente da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), Ana Lúcia Viana, indicada para se pronunciar pela Prefeitura, só falou sobre o comércio ambulante. Segundo ela, a Sercefor aplica um questionário para traçar o perfil socioeconômico dos ambulantes do Centro.
A partir daí, a Prefeitura deve reordenar o setor com o limite de mercadorias, local para comercialização e padronização das barracas. A princípio, serão criados dois camelódromo. Um deles na Rua Princesa Isabel. É aguardar para ver.
ENQUENTE
O que falta?
“Melhor infraestrutura e mais fiscalização por parte do Poder Público, sem isso, o bairro vai continuar desvalorizado”. Gleydson Lima, 27 anos, vendedor
“Faltam segurança, infraestrutura e organização dos camelôs que não têm respeito entre si e nem pela cidade”.Tatiane Alves, 22 anos, feirante
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Faltam boa vontade e competência
*Cleide Bernal
O problema do Centro é muito complexo porque tem havido uma omissão do poder público municipal para resolver de fato os problemas. Eles não são fáceis de serem solucionados. É preciso competência e boa vontade. Os problemas mais visíveis são a ocupação desordenada ambulantes, proprietários de bares, lanchonetes, estacionamentos irregulares. Isto é apropriação privada. Fortaleza é uma cidade que atrai uma migração muito forte do interior e esta parcela da população não tem onde morar e nem de onde tirar a sua sobrevivência, dai a ocupação do Centro. O bairro é um lugar privilegiado para se morar, além de ter oferta de mercadorias a preços mais baixos. Mas o Centro tem sofrido um processo de empobrecimento e crescentes desigualdades . Ao perder para a Aldeota atividades importantes geradoras de renda, perdeu também um contingente populacional substancioso.
Doutora em Planejamento Urbano
LEDA GONÇALVES
REPÓRTER
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=958664
Prefeitura fala sobre problemas do Centro
ARGUMENTOS Publicado em 7 de abril de 2011
Na matéria “Miséria e abandono comprometem o Centro“, do último dia 5, o Diário do Nordeste relatou o descontentamento de cidadãos quanto à situação do Centro de Fortaleza. Eles reclamam do lixo, da insegurança e do comércio desordenado, por exemplo. Na reportagem, a Prefeitura só se pronunciou sobre os ambulantes.
Ontem, entretanto, em nota enviada à Redação, o Município informou existir coleta especial paga para retirar o lixo despejado nas ruas por lojistas e donos de restaurantes. Sobre a ocupação de locais públicos por moradores de rua, afirmou que estão sendo desocupadas e lavadas regulamente. Quanto à insegurança, informou que a iluminação no local é eficaz
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=960488