Há um ano tomava uma decisão polêmica: morar no Centro. De um lado, meu pai preocupado com a violência. Do outro, minha mãe achando que eu não ia me adaptar. Eu era só alegria ao saber que iria andando para o trabalho. Troquei a migração pendular de uma hora em trânsito de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, até a avenida Aguanambi, 282, por dez minutos de caminhada. Quando mudei, me lembrei daquela frase exibicionista meio boba: “Moro onde você tira férias”. Passei a morar onde as pessoas fazem compras.
Descobri, passado um ano, que viver no Centro muda a lógica cotidiana. Na primeira manhã no bairro novo, já aprendi que o burburinho de buzinas e o barulho de gente ávida por compras surgem junto com o sol.
Percebi também que o bairro amanhece sujo, apesar da limpeza diária. Não são nem 8 horas e já tem muitos copos descartáveis e sacos plásticos correndo o chão. Outro susto foi confirmar a escura solidão que é o Centro à noite. Descer do ônibus na Duque de Caxias, às 22 horas, desperta instintos de uma insegurança incomum.
Por outro lado, poder ir e voltar andando da Praça do Ferreira e estar mais perto do Passeio Público me trouxe outras possibilidades de aproveitar o dia. A diversidade de padarias, farmácias e supermercados também agradou. Corridas de táxi não me assustam mais. Além, claro, da experiência bonita que é aproveitar um fim de tarde na mal cuidada Cidade das Crianças. Algumas coisas acabaram perdendo a graça, o Leão do Sul, por exemplo, foi ficando de lado e as barraquinhas de tapioca me conquistaram.
Entre um agosto e outro, o melhor presente foi ver o Centro ganhando atenção com o Pacto em Ação, projeto da Câmara dos Vereadores que dá protagonismo ao Centro em meios às proposições do Pacto Revisado por Fortaleza. O objetivo é cuidar do bairro para que ele vire local de moradia de mais gente. O prefeito anunciou US$ 250 milhões para um projeto de desenvolvimento urbano do Centro. Resta, porém, saber como o recurso será aplicado e se isso vai ou não me garantir novos vizinhos.
Paulo Renato Abreu
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Jornalista do O POVO.