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No coração urbano de Fortaleza

By 31/01/2014março 1st, 2014No Comments

Por FÁBIO CAMPOS

O administrador Régis Dias conseguiu um feito digno de nota: o Centro de Fortaleza hoje está pior do que há treze meses, quando, a convite do prefeito Roberto Cláudio, assumiu o comando da Secretaria que cuida da área.

Régis devolveu a pasta ao prefeito. Segundo consta, teria recebido uma “proposta irrecusável” da inciativa privada. Até aqui, não se sabe onde o ex-secretário vai bater o ponto, mas sua saída poderia ter sido mais profícua do que sua gestão na pasta.

Em respeito ao distinto público, Régis poderia ter explicado porque não conseguiu fazer nada de relevante do que havia planejado para os 5,6 quilômetros quadrados mais importantes de Fortaleza. Ainda há tempo para tal.

Quase treze meses de gestão deveriam servir pelo menos para formular um diagnóstico das causas da desgraça urbana que está levando o Centro à absoluta degradação. Coincidentemente (ou não) o pedido de exoneração se deu na mesma semana em que aqui se expôs a imagem da criança tomando banho na calçada do cine São Luiz.

O fato é que cidade precisa realmente saber o que se passa na histórica e urbanisticamente preciosa área situada entre o Marina Hotel, a avenida Domingos Olímpio, a rua João Cordeiro e a avenida Filomeno Gomes.

Uma parte dos acontecimentos se evidencia a olhos nus. Basta um passeio para ver que as vias e praças do Centro estão dominadas pelo comércio, inclusive de alimentos, que prolifera à margem da formalidade.

A outra parte dos acontecimentos permanece na penumbra e diz respeito às máfias que se organizam para sustentar os milhares de comerciantes informais do Centro. Sabe-se que esse tipo de negócio não germina e não sobrevive sem estruturas organizadas para garantir dos fornecedores à proteção.

Ali, o caso é de polícia e de autoridade. A polícia deveria cuidar dos esquemas criminosos que sustentam a pirataria de produtos livremente comercializados na rua. Já a gestão deveria cuidar para que as regras urbanas fossem respeitadas. Nenhuma coisa. Nem outra.

Quem ouviu a entrevista do prefeito na rádio O POVO-CBN, há cerca de dois meses, não nutre esperanças de, a curto prazo, ver as ruas e calçadas do Centro desocupadas e cumprindo suas nobres funções urbanas. Em alto e nítido som, o prefeito declarou que não usará o poder que lhe foi constituído pelo honorável cidadão para tirar “os pais de família” que, na pratica, privatizaram os passeios públicos.

Em Fortaleza, não é de hoje que a questão urbana é incorretamente abordada como questão social. A coisa deveria ser mais simples: as ruas, calçadas e praças são públicas e assim devem permanecer. É para garantir essa obviedade que se paga mensalmente o salário do zelador, dotando-o ainda de todos os poderes para tal.

Ao assumir o cargo, Régis Dias era um poço de boa vontade. Planejou mundos, mas parece não ter recebido fundos para tirar o projeto do papel. No final de abril de 2013, o então secretário declarou o seguinte: “Em quatro a cinco meses, a população já poderá notar a diferença”.

A citada diferença era no entorno da Praça do Ferreira, onde bate o coração de nossa História urbana. Um dos planos era reformar e expor as fachadas históricas dos imóveis que cercam a praça. No entanto, a diferença que se viu foi a transformação da área em moradia a céu aberto. As fachadas continuam as mesmas.

Lá se foi mais de 25% do tempo de gestão do prefeito. Certa vez, sugeri que o prefeito começasse a reforma urbana da cidade pelo entorno da sede da Prefeitura. Ali há muito o muito o que se fazer. Os 75% restantes de tempo ainda podem ser usados para esse fim.

Coluna FÁBIO CAMPOS
Fábio Campos
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Fonte Jornal O Povo