O escritor João Soares Neto relembra trajetória de Parsifal Barroso e busca a síntese do ensaio “O Cearense”
José Parsifal Barroso, homem discreto, circunspecto, temente a Deus, ao ministrar aulas, à proporção que desenvolvia um tema, ia se entusiasmando no chamado método aristotélico ou peripatético. Andava, gesticulava e o seu arrebatamento contagiava a classe. Era professor de “Política”. A ciência. Passeava pelos sistemas, desde Grécia e Roma, chegava à Democracia e dissertava, entre outros, sobre o Socialismo e o Nacional Socialismo. Era profundo.
Hoje, fazendo contas, o professor Parsifal, vetusto, sempre de paletó e gravata, óculos pretos, era apenas um jovem cinquentão. Outros tempos, outros costumes. Esse introito serve apenas para jactar-me de ter sido seu aluno, durante um ano, na Escola de Administração do Ceará.
O objeto deste ensaio é dizer da minha alegria ao comparecer à Assembleia Legislativa do Ceará para o lançamento da segunda edição do livro “O Cearense” (Editora Escrituras, SP, 2017), ensaio histórico, sociológico, político e antropológico sobre a formação do homem cearense, esse tipo peculiar no amálgama de raças da população brasileira.
Gilberto Freyre
O livro foi pensado em decorrência da passagem de Gilberto Freyre por Fortaleza. Era agosto de 1944. Freyre levantou a poeira sobre o surgimento do cearense. A palestra “Precisa-se do Ceará” mexeu com os brios de Parsifal, ouvinte atento da dissertação. O tempo passa.
Suas múltiplas tarefas como homem público, deputado, antes e ao cabo do “Estado Novo”, deputado federal (na redemocratização), governador, ministro de estado e, por último, conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal, não o impediram de publicar “Pedro, nosso irmão” (1950), “Na casa do barão de Studart” (1969), “Um francês cearense” (1973), sem falar em ensaio sobre o Senador Pompeu, eternizado no volume 97, do Instituto do Ceará.
Síntese
Além disso, ele sabia e precisava ordenar os seus papéis manuscritos, começados já em 1944, decorrentes do atiçamento de Gilberto Freyre.
Assim, surge a sua “Magnum Opus”, “O Cearense”, em 1969, Record, Rio de Janeiro. No prefácio, Djacir Menezes, assevera que: “Muitos temas de grande teor doutrinário e polêmico afloram desta obra bem pensada e bem sentida de Parsifal Barroso… Mas não será precipitado apontar algumas interrogações, e, portanto, aguçando-lhe a curiosidade receptiva ou combativa”.
Ao meu pensar, “O Cearense” está contido nesta metafórica afirmação de Parsifal, presente no livro: “A circunstância de haver o cearense ensinado o brasileiro a dançar à beira do abismo, sem qualquer risco, após equilibrar-se na corda bamba e insegurança de uma vida de lutas, não deve esconder as interrogações que estão a exigir as respostas e as diretrizes favoráveis a uma convivência harmônica com o seu meio ambiente”.
Fica claro ser “O Cearense” a história de um crisol de raças ou o conjunto de cordões de um novelo de linhas a precisar ser desenrolado, mais discutido e deveras aprofundado. O autor levanta questões ainda hoje não respondidas concretamente.
O Instituto Myra Eliane, por seu fundador, Igor Queiroz Barroso, pode ser esse liame condutor a nos mostrar, em sequência ao “O Cearense”, quem realmente somos e a que viemos, nestes tempos complexos de hoje, sem esquecer a história a nos trazer até este ponto.
Fique por dentro
Seminário discutirá obra, no próximo dia 28
Relançado no início do mês, o livro “O Cearense”, de Parsifal Barroso, será tema de seminário no próximo dia 28 de agosto (segunda), às 16 horas. O auditório Castelo Branco, na reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), instituição na qual o autor foi professor, receberá o evento. O seminário terá abertura do reitor da UFC, professor Henry de Holanda Campos, e do presidente do Instituto Myra Eliane e neto de Parsifal Barroso, Igor Queiroz Barroso. O evento é gratuito. Na ocasião, o conceito de cearensidade será tema das palestras do professor da Universidade Estadual do Ceará e professor aposentado da UFC, Josênio Parente, da escritora e professora da UFC, Ângela Gutierrez e da escritora Ana Miranda. Mais informações no site oficial da obra: www.ocearense.com
Livro
O Cearense
Parsifal Barroso
Prefácios de Djacir Menezes e Igor Queiroz Barroso
Escrituras
2017, 136 páginas
R$ 35
*Escritor e membro da Academia Cearense de Letras
Link: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3