TRANSTORNOS – 4/2/2011
A Capital tem conselho coordenador de obras, que afirma que órgãos são informados sobre intervenções
De pequenos reparos a intervenções de grande porte que resultam em interdições, as obras executadas na malha viária de Fortaleza parecem ter se multiplicado nos últimos meses. Como principal consequência, são cada vez mais frequentes os congestionamentos nas principais ruas e avenidas. Com a chegada do período chuvoso e a corrida contra o tempo para tornar a Capital sede da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, a tendência é que novos trabalhos tenham início, ampliando os transtornos hoje observados.
Entre a população, que a cada semana observa novos serviços sendo iniciados, prevalece a sensação de que a execução das obras é feita de modo desordenado, principalmente porque há vias onde diferentes entidades realizam melhorias em um curto espaço de tempo.
Conforme o coordenador executivo do Conselho Coordenador de Obras (CCO), Manuelito Cavalcante, uma das funções do órgão é cuidar para que as entidades se mantenham informadas quanto às intervenções que cada uma realizará.
De acordo com Cavalcante, quando um órgão planeja uma ação, os outros são alertados para a possibilidade de aproveitarem o momento e executarem outras intervenções.
Ainda segundo o coordenador, o fato de ocorrerem obras de diferentes entidades em um mesmo local, em curto espaço de tempo, deve-se a “imprevistos”. “Em geral, é quando aparecem fugas nas ruas ou quando há necessidade de realizar ligações de saneamento”, afirma. “O conselho trabalha para minimizar ao máximo esse tipo de situação”, acrescenta.
Interdições
Tão notável quanto o aumento no número de obras, principalmente as que demandam interdições, é o consequente crescimento dos congestionamentos na Capital. Nos últimos meses, uma série de serviços provocaram estrangulamento do trânsito em muitas das vias – mesmo naquelas onde costumeiramente não há engarrafamentos.
Apenas de responsabilidade do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), quatro avenidas possuem trechos interditados. São elas: 13 de Maio, Barão do Rio Branco, Luciano Carneiro e Sargento Hermínio. A Rua Padre Valdevino também possui trechos interditados pelo Transfor.
Por sua vez, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) também executa obras com interdições. Além de três vias interditadas por conta de obras do macrossistema de esgoto, a Companhia também interditou três avenidas por conta de obras emergenciais, iniciadas após a danificação de parte das tubulações subterrâneas.
NOS PRÓXIMOS MESES
Novas intervenções devem aumentar
Caso não sejam solucionadas problemáticas relacionadas ao trânsito de Fortaleza, os engarrafamentos não devem parar de crescer. Junto do aumento da frota de veículos, as intervenções do poder público nas vias devem continuar progredindo até que seja realizada a Copa do Mundo de Futebol, em 2014. Além dos prejuízos ao trânsito, especialistas se preocupam com a qualidade dos serviços realizados na cidade.
De acordo com Manuelito Cavalcante, não houve período, nos últimos anos, em que tantas obras estivessem sendo executadas simultaneamente nas vias da Capital. A situação atual, afirma, deve-se principalmente a dois fatores. O primeiro, aponta, corresponde ao próprio crescimento da cidade do ponto de vista estrutural. Com o desenvolvimento, diz, também aumenta a demanda por serviços como telefonia móvel, televisão a cabo e acesso à internet.
Para cada serviço desse gênero, destaca, pequenas ações precisam ser feitas, em diversos pontos da Capital. Embora estas obras não sejam tão evidentes quanto às de grande porte, sua quantidade resulta em transtornos. “Isso sem contar as manutenções de rotina realizadas pelas Secretarias Executivas Regionais (SERs)”, complementa.
O segundo motivo que contribui para o elevado número de obras é a proximidade da Copa do Mundo de Futebol. Segundo Cavalcante, uma parte significativa das obras hoje executadas são voltadas para o evento esportivo. A tendência, ressalta, é que essa proporção aumente nos próximos meses, gerando novas interdições. Isso porque as ações relacionadas à Copa do Mundo envolvem uma gama variada de aspectos estruturais. “Não é só ver os estádios, tem toda a questão do entorno, do acesso a essas áreas”, ilustra.
Segundo o diretor da Usina de Asfalto de Fortaleza, Tarcísio Chaves, a usina tem sido capaz de atender à procura por massa asfáltica que lhe é repassada pela Prefeitura. Ele explica que a demanda da Usina não necessariamente cresce de acordo com o número de obras executadas, já que a responsabilidade de reposição do asfalto é de da empresa que efetua o trabalho. Esta, informa, recorrem a fábricas particulares de asfalto.
Contudo, destaca o diretor, a possibilidade de que haja uma quadra chuvosa intensa é motivo de preocupação. Isso porque, durante os meses de chuva, a produção de asfalto reduz acentuadamente. Em meses ensolarados, aponta, é fabricada uma média de 20 mil toneladas de asfalto na usina, enquanto, nos meses chuvosos, a produção gira em torno de 10 mil a 12 mil toneladas.
Qualidade
Ainda de acordo com Tarcísio, a usina conta com um laboratório que promove o controle de qualidade do material, de acordo com padrões estabelecidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit). Conforme o diretor, os casos em que o asfalto se deteriora pouco tempo após ser implantado em determinada rua deve-se, de modo geral, à saturação do pavimento, resultante da deficiência dos sistemas de fuga e drenagem da via.
Conforme o coordenador do Laboratório de Mecânica dos Pavimentos do Departamento de Engenharia de Transportes (LMP), Jorge Soares, obras realizadas em períodos de chuva tendem a necessitar de reparos mais cedo do que aquelas executadas em dias de sol, por conta da vulnerabilidade da massa asfáltica à água. “Quando existe um grande buraco em uma via, tem que ser tapado, independente da época, mas não é o melhor”, frisa.
Segundo o professor, as principais soluções para a deficiência da massa asfáltica de Fortaleza são a manutenção do material e a realização de serviços de drenagem de água. “Ações como a Tapa-Buraco deveriam acontecer durante todo o ano, não só quando chove”, diz.
JOÃO MOURA
ESPECIAL PARA CIDADE