DESCASO
A pouco mais de um mês de receber o Natal de Luz, cenário encontrado no logradouro é de falta de conservação
Pedras portuguesas soltas em vários pontos, bancos com pintura desgastada e tomados por adesivos de propagandas políticas, além de garrafas plásticas, papéis e embalagens de quentinhas nos gramados. Esse é o cenário encontrado por quem passa pela Praça do Ferreira, no Centro da cidade. Embaixo dos ipês amarelos e outras árvores, muitos colchões, roupas e outros objetos das pessoas que escolheram aquele logradouro para moradia, mesmo que temporária. Com várias famílias morando na Praça, é possível até ver crianças fazendo suas necessidades fisiológicas nos canteiros.
A ferrugem e o desgaste natural também são visíveis na Coluna da Hora, escolhida como um dos símbolos de Fortaleza durante a Copa do Mundo. Na fonte, desativada, em meio às pedras do fundo, muito lixo. Algumas bancas de jornais, ao lado do “acampamento” dos moradores também se encontravam fechadas, em plena manhã de sábado, dia de movimento intenso no Centro de Fortaleza.
Situação
Além dos que buscavam produtos no comércio, uma turma de 50 universitários aproveitou o sábado para conhecer mais o Centro e a situação dos bens tombados. O professor de Direito Administrativo Henrique Ehrich observa que a conservação do Centro Histórico de Fortaleza não é priorizada. “Vemos que há um descaso com a preservação e a situação dos prédios históricos só piora. Não vemos cuidado com nosso patrimônio”, critica.
O estudante espanhol Unai Jesus destaca que, na Espanha, há uma preocupação com esses prédios porque existe um turismo específico nesses locais, o histórico. “A política de conservação é muito diferente. Há mais esforços e dinheiro destinados a isso”, compara.
Pela sujeira e insegurança do bairro, o estudante cearense Carlos Trevia confessa que esteve poucas vezes no Centro. “É ruim de estacionar, além de ser sujo e inseguro. O Centro não tem infraestrutura para receber as pessoas e assusta os visitantes”.
Evento
Para quem observa esse cenário em um dos locais mais representativos para a história de Fortaleza, é difícil imaginar que em pouco mais de um mês a Praça estará recuperada para o início do evento Natal de Luz, organizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), com programação a partir do dia 29 de novembro. Mas essa é a esperança do presidente da CDL, Freitas Cordeiro. “Já conversamos com o secretário do Centro e com o próprio prefeito e eles nos garantiram que irão resolver esses problemas até o fim de novembro, quando começa a programação, realizada na Praça do Ferreira e no Parque das Crianças, como no ano passado. Sabemos que retirar as pessoas em situação de rua é um problema social muito sério, mas eles acabam afastando a clientela das lojas e deteriorando a praça”, declara.
Prazos
O secretário de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome de Fortaleza, Cláudio Ricardo Gomes, também admite que retirar as pessoas em situação de rua da Praça é um problema complexo. “Não podemos obrigar aquelas pessoas a saírem, mas oferecemos alternativas. Nesta gestão, construímos dois abrigos, cada um com 50 vagas e oferecemos alimentação no Centro Pop. Após as eleições, iremos intensificar essas ações através do Comitê Municipal de Políticas Públicas voltado para as pessoas que estão nesta situação. A previsão é solucionar este problema até o fim do ano”.
Sobre os reparos na estrutura da Praça, a Prefeitura, por meio da Secretaria Regional Centro, informou que há um projeto conceitual de Requalificação do Centro Histórico de Fortaleza que irá contemplar intervenções em todas as praças da área (exceto a Praça José de Alencar). A previsão é que ainda este ano inicie o projeto estrutural para que, em 2015, comecem as obras.
Além disso, a Regional realiza diariamente a varrição e coleta do lixo em todos os logradouros públicos de sua área de atuação. Na Praça do Ferreira, a secretaria mantém dois garis, de segunda-feira a sábado, das 9h30 às 17h50 para limpeza. Sobre a fonte, a secretaria esclarece que está providenciando a manutenção da bomba hidráulica.
Fique por dentro
Equipamento tem importância histórica
A Praça do Ferreira tem esse nome em referência ao Boticário Ferreira que, em 1871, como presidente da Câmara Municipal, fez uma reforma na área. Foi declarada Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza em 2001.
Em 1839, era um campo de areia com um grande poço, que funcionou até 1920, quando o então prefeito Godofredo Maciel deu início à reforma. Foi palco do surgimento da Padaria Espiritual, em 1920, e também da vaia ao Sol, em 1942. Lá, estão vários edifícios importantes, que remontam ao início do século XX, como o Palacete Ceará, a Farmácia Oswaldo Cruz e o Hotel Excelsior.
Kelly Garcia
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste.