CLÓVIS BEVILÁQUA 10/2/2011
Guarda Municipal deve manter uma equipe no local, a fim de que os moradores de rua não levantem novos barracos
Em poucos minutos, todos os barracos dos moradores de rua, instalados na Praça Clóvis Beviláqua, foram ao chão, no início da tarde de ontem. O local passou pela Operação Bandeira da Paz, realizada pelo Pelotão da Guarda Comunitária (PGC), da Guarda Municipal de Fortaleza. Além dos 30 guardas municipais, a operação contou com o auxílio de homens da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), responsáveis pela demolição das instalações.
Com o objetivo de fazer uma vistoria, os guardas municipais pediram para que todos saíssem dos barracos. Na maioria deles, como conta o comandante do PGC, Paulo Martins, foram encontradas diversas facas, facões, tesouras e bastões de ferro. Em um dos barracos, seis pedras de crack e R$ 102,00 foram apreendidos. O responsável pela droga e pelo dinheiro seguiu, numa viatura, para o 34ª Distrito Policial, no Centro.
Segundo o comandante, muitos dos objetos eram usados pelos moradores da Praça para praticar assaltos nas proximidades. Entretanto, conforme afirma Rodrigo Augusto Simões, 30, que possuía um abrigo no local, desde novembro do ano passado, as facas apreendidas, por exemplo, eram utilizadas pelos moradores apenas para cortar alimentos como carne e frango. “As pessoas aqui são trabalhadoras, mas sociedade não enxerga e só sabe criticar”, afirma. “A gente quer da Prefeitura um hotel popular e um acompanhamento com assistentes sociais, e depois ganhar uma moradia definitiva”, comenta José Carlos dos Santos, 37, que diz ser o representante, em Fortaleza, do Movimento Nacional dos Moradores de Rua.
Conforme informa o comandante Paulo Martins, muitos moradores reclamavam por ter que pagar, todos os dias, uma taxa de R$ 2,00 ao considerado líder do logradouro, Alexandre Araújo Oliveira, 31, o “mineiro”.
Natural de Minas Gerais, ele diz que mora nas ruas há 20 anos, sendo seis meses na Praça Clóvis Beviláqua. Em relação às cobranças, mineiro se defende: “isso é mentira, nunca pedi dinheiro para ninguém”.
Muitos dos populares que assistiam a retirada do acampamento apoiam a ação da Prefeitura de Fortaleza. A funcionária pública, Zoraide Suliano, 62, por exemplo, diz ser a favor da retirada dos barracos. “Isso aqui é uma praça e não pode ser ocupada. Muitos deles recebem casas para morar, mas acabam vendendo e voltando para as ruas,” comentou.
Outros, no entanto, reprovam a atitude. “Acho uma ação incoerente. Essas pessoas não podem simplesmente serem expulsas. Se existe essa realidade é porque vivemos numa sociedade desigual”, disse a universitária Cecília Feitosa, 23.
Bandeira da Paz
O nome da operação – Bandeira da Paz -, segundo o comandante Paulo Martins, é uma forma de homenagear a Praça, conhecida também como da Bandeira. “A operação foi extremamente bem sucedida porque tudo foi feito pacificamente, sem violência”, destaca.
Com relação ao destino dos menores que também viviam na Praça, juntamente com seus pais, a assistente da Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), Marcilene Lourenço, disse que órgão deve negociar com os pais sobre o remanejo delas para uma Casa de Passagem, até que o Conselho Tutelar decida se continuarão com os pais. Hoje, a Prefeitura deve fazer a limpeza do que restou dos barracos.
Uma equipe da Guarda Municipal vai permanecer no local para impedir que novas instalações não sejam construídas. O processo de ocupação da Praça Clóvis Beviláqua por sem-tetos começou em 2006.
Fonte http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=931278