Na fachada do Cine São Luiz, há duas faixas. A do lado esquerdo de quem olha, diz o seguinte: “Segura o xixi que o banheiro é logo ali”. A do lado direito: “Xixi? Na boa, aqui não, né?”. Sim, senhores. O prédio é tombado pelo Estado do Ceará. A Praça do Ferreira, contígua ao edifício que levou duas décadas para ser erguido, também é um bem histórico tombado.
Foi naquele entorno que Fortaleza nasceu. Foi ali que se deram as primeiras vivências urbanas da aglomeração que gerou a metrópole. O prédio e a praça formam um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos da Capital. São deploráveis os fatos e as fotos que chegam de lá.
Tem gente morando na praça. Tem gente morando na calçada do São Luiz. As árvores são os cabides e guarda-roupas. Atentem para a foto. Após defecar e urinar, em meio aos transeuntes, a criança tomou seu inocente banho. Tudo em pleno calçadão que une a praça ao prédio.
Os moradores da praça e da calçada têm a Secretaria e Cultura como vizinha. Há dois anos, ao som do hino do Ceará tocado por uma orquestra e uma dupla de violinos, a nova sede do órgão responsável pela política cultural do Estado foi inaugurada com uma visita do governador.
Tapem suas narinas. Segurem a respiração. Muito cuidado no que pisam. O Estado está lá, mas não está. O Município faz vista grossa e ouvidos de mercador. Desassistidos, os miseráveis desgraçados sociais tomaram conta do pedaço.
Procuro ler os guias de turismo do Ceará. Todos colocam a Praça do Ferreira como ícone de Fortaleza. Sim, bastante apropriado. Fedentina, comércio irregular, estacionamentos, moradores de rua, desorganização urbana e ausência do poder público.
Será instigante acompanhar uma visita à praça de um grupo de turistas alemães que virão à cidade ver, em junho, um jogo de Thomas Müller e companhia. Os gregos também vêm por cá. Talvez acreditem que é a encenação de uma tragédia. A nossa tragédia.
A mãe e a criança estão morando no calçadão há cerca de um mês. Sobrevivem de pedir esmolas. Escolheram um bom local. É movimentado. Tem uma brisa suave e constante. Tem a água da fonte. Tem um grupo de sem teto que se ajuda e se protege. A cidade anda violenta, não é?
A foto fala tudo. É a crônica do Centro. É a representação da omissão em diversos sentidos. O social e o urbano. É o ícone da negligência com o patrimônio público e com a nossa história. É o retrato da permissividade que corrói a urbanidade.
Deixem as famílias morando na praça. Deixem os ambulantes que não ambulam a privatizar os espaços públicos. Destruam a cidade. Destruam as chances de estabelecer a civilidade e nossa urbe.
São “pais de família”, não é? Basta esse argumento para que todos se eximam de cumprir com suas obrigações de autoridade pública.
A foto-ícone da calamidade urbana foi a mim enviada por Maia Jr, presidente da Associação dos Empresários do Centro de Fortaleza. Ele está rouco de denunciar os problemas que atingem o Centro. A imagem foi captada por Alberto Duque Estrada, um cidadão preocupado com os rumos do Centro.
A foto
fala tudo. É a crônica do Centro. É a representação da omissão em diversos sentidos. O social e o urbano.
Fonte: Jornal O Povo
Coluna FÁBIO CAMPOS
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