28 Dezembro de 2010
A superlotação dos ônibus e a cultura dos fura-filas transformam em tragédia anunciada a manhã dos usuários atendidos pelo Terminal da Parangaba em horário de pico. Com quatro guardas municipais por turno, o ordenamento das filas fica sob o julgamento dos passageiros
O embolado dos fura-fila espera o ônibus ao lado da fila oficial como quem palita os dentes depois do almoço. De braços cruzados, olham o relógio e conversam com o vizinho – também furador de fila. Enquanto isso, a fila oficial, espremida entre os contentores de metal, faz cara de impotente ou já nem liga mais. Entrar na vez dos outros, empurrar os da frente e fazer investidas à porta preferencial sem o devido direito são práticas já instituídas nas plataformas mais concorridas dos terminais de ônibus de Fortaleza, especialmente no horário de pico.
E por isso, há oito meses, todo dia útil, das 5h30min às 8 horas, o operador da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Marcolino Sobrinho, 47 anos, 13 de Terminal da Parangaba, é chamado de toda sorte de xingamentos pelos usuários de seu local de trabalho. Durante a hora do rush matinal, Marcolino – e os o utros 13 funcionários da empresa em serviço no turno da manhã – tem a missão de controlar a entrada de passageiros pela porta da frente das linhas de ônibus mais abarrotadas (veja quadro ao lado).
“O pessoal não fica muito feliz, mas quem quer entrar pela porta preferencial sem ser gestante, idoso, pessoa com criança de colo ou deficiente não tem esse direito”, enreda Marcolino, que também é orientado a deixar entrar apenas 10 pessoas preferenciais em cada veículo – outro pepino. E isso porque o compromisso do operador é com a fila preferencial. A aba ao lado dos contentores que toma a frente de quem quer que não tem preferência não é responsabilidade de Marcolino.
Desse contexto, resultam os passos de formiga da babá Cláudia Façanha, de 33 anos. Quinze para as oito, a diarista chega à plataforma da linha 44 – Parangaba/Papicu/Montese, no Terminal da Parangaba. Aproximadamente quatro ônibus e meia hora depois, ela consegue embarcar. Até então, os ônibus chegam, a porta abre, os gatunos entram, Cláudia dá seis passos, a porta fecha, os ônibus saem.
Porque não tem hora pra chegar ao trabalho, a babá não estressa. “Não vou fazer isso (furar a fila). Às vezes, empurro, pra ir mais rápido, mas fico na fila”, explica-se. Ao redor de Cláudia, filas de linhas diferentes se confundem, jovens tentam passar na frente de senhorinhas, furadores de fila batem boca com os funcionários da Etufor e o barulho do motor dos ônibus acorda quem ainda insiste na sonolência.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Para além de indóceis usuários, os horários de pico dos terminais de Fortaleza revelam o estrangulamento do sistema de transporte público da Capital. Diante da situação crítica, não acodem mais guardas porque não existem.
HORÁRIO DE PICO MATUTINO
As seis linhas críticas do Terminal da Parangaba
Linha: 044
Parangaba /Papicu/Montese
Frota: 26
Frequência: a cada 4 minutos
Linha: 038
Parangaba/Papicu
Frota: 25
Frequência: a cada 4 minutos
Linha: 029
Parangaba/Náutico
Frota: 19
Frequência: a cada 6 minutos
Linha: 077
Parangaba/Mucuripe
Frota: 16
Frequência: a cada 8 minutos
Linha: 080
Francisco Sá/Parangaba
Frota: 14
Frequência: a cada8 minutos
Linha: 066 Parangaba/Papicu/Aeroporto
Frota: 11
Frequência: a cada 3 minutos
Nessas linhas citadas acima, há ordenamento da fila preferencial pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor).
De acordo com o coordenador do Terminal da Parangaba, pelo menos, seis outras também apresentam problemas, mas não recebem auxílio.