Por Alessander Sales.
Sempre que falamos de corrupção no Brasil, a tratamos como uma espécie de endemia cultural que já permeou toda nossa sociedade e, portanto, é um fenômeno social consolidado contra o qual nada podemos fazer a não ser aceitar sua inevitabilidade, pois nunca iremos reduzi-la e muito menos vencê-la.
No entanto, estudos mundiais realizados sobre a corrupção a partir dos anos oitenta mudaram o foco para, desconsiderando fatores culturais ou sociais, tratarem das condições objetivas que incentivam o cometimento de atos individuais de corrupção, tendo concluído que estes decorrem do monopólio do poder decisório, exercido com forte concentração de discricionariedade em um ambiente de pouca transparência e responsabilização e que tratar adequadamente estas causas reduz significativamente a corrupção, independentemente do contexto cultural onde ela tenha se instalado.
No Brasil, as causas geradoras da corrupção se reproduzem a partir de um frágil aparato de controle quase sempre incapaz de descobrir a prática destes atos, de provar os porventura descobertos, de condenar os milagrosamente provados e de executar as penas para os poucos e inacreditavelmente condenados. Nesta ambiência, os benefícios – dinheiro e poder político – superam em muito os riscos de uma improvável punição.
Não somos corruptos, pois nenhuma sociedade carrega isso em seu DNA. Mas estamos corruptos na medida em que, passivamente, mantemos o sistema atual íntegro, conformados em tratar a corrupção de escândalo em escândalo, alimentando-nos do autoengano de que um desses, por sua força midiática, possa nos levar a vencê-la de uma vez por toda, o que, claro, nunca acontecerá.
Assim, a decisão é nossa. Ou continuamos corruptos por nossa inércia, ou transformamos toda nossa indignação em um movimento coletivo de construção de algo real e concreto para combater as causas de nossa corrupção.
Acessem www.10medidas.mpf.mp.br e encontrem uma janela de oportunidades para, juntos, começarmos a transformar esta triste realidade.
Alessander Sales
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Procurador da República
Fonte: Jornal O Povo.