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Trajetória de alta da inflação será sentida no 1º semestre

By 22/02/2011No Comments

CONSUMIDOR AMARGA    22/2/2011       Diário do NordesteAlimentos representam o grupo de maior peso entre os que compõem o Índice de Preços ao Consumidor  FOTO: MARILIA CAMELO

Expectativa de desaceleração no preço dos alimentos e ação do governo devem inibir a pressão sobre os preços

Pela 11ª semana consecutiva a projeção do mercado para a inflação em 2011, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é elevada. Segundo o boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a expectativa é de que o IPCA feche o ano em 5,79%, acima dos 5,75% apontados na semana anterior e quase 0,6 ponto porcentual do projetado na primeira quinzena de dezembro do ano passado, quando estava em 5,21%, e as previsões haviam retomado o ciclo de alta.

No estágio atual, a inflação prevista para este ano já supera em 1,29 ponto porcentual o centro da meta (4,5%), estabelecida pelo governo, e caminha para próximo do seu teto, ou seja 6,5%, conforme definido pelo regime de metas de inflação do BC – dois pontos para mais ou para menos. No entanto, para especialistas consultados pelo Jornal, a piora das expectativas em relação ao IPCA só deve continuar apenas no decorrer do primeiro semestre do ano, ficando, ao fim de 2011, abaixo do porcentual máximo aceitável.

Clique para Ampliar Sinais positivos
“Um dos sinais positivos já é a previsão de desaceleração mensal, passando de 0,85% em fevereiro para 0,47% em março”, afirma o professor de economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), Evaldo Alves.

Nesse sentido, a acomodação dos núcleos que compõem o índice inflacionário, o avanço do aperto monetário do BC e os sinais de corte de despesa do governo são fatores, destacam os economistas, capazes de conter a alta de projeções feitas pelo mercado.

“Mesmo o aumento do salário mínimo, o que naturalmente impacta de imediato o consumo, impulsionando a elevação dos preços, não deve, mais na frente, prejudicar a política de combate a inflação. A tendência depois é normalizar, a entrar no cotidiano das pessoas, com os efeitos se diluindo”, argumenta Eloísa Bezerra, economista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado do Ceará (Ipece).

Alimentos devem ajudar

Porém, na sua avaliação, o recuo das projeções deve se confirmar, sobretudo, pela desaceleração dos preços dos alimentos, grupo de produtos que responde pela maior parcela do IPCA, em torno de 25%. “Diferentemente do ano passado, quando áreas estratégicas de produção no País tiveram problemas de clima, parece que, em 2011, teremos uma quadra invernosa normal, melhorando a oferta”, explica Eloísa Bezerra.

Ao mesmo tempo, elementos internos, como a concentração de aumento dos preços administrados no primeiro trimestre do ano, a exemplo dos transportes públicos- em negociação em Fortaleza; e das mensalidades escolares, majoradas entre 6% e 12% no Estado, conforme informação do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE), ajudaram a puxar a inflação para cima no período. “No entanto, esses aumentos se concentram agora, parando ao longo do ano. Assim, é normal o que o primeiro semestre do ano sempre venha com índices inflacionários mais elevados”, emenda.

Pressão externa

Nessa discussão, deve-se acrescentar, também, as pressões inflacionárias externas, com alta dos preços das commodities no mercado internacional, agravadas com a crise no Oriente Médio, no caso do petróleo, aumentando os preços para o mercado nacional. É o que chama a atenção o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Eleutério Rocha. “Internamente, ainda sofremos os efeitos das políticas expansionistas adotadas nos anos anteriores para conter a crise, resultando no aumento atual da demanda, embora o governo já venha aumentando os juros e esteja sinalizando cortar os gastos públicos em R$ 50 bilhões. Mas existem pressões externas nos preços da commodities impactando aqui dentro”, pontua o especialista.

Para ele, “nada ainda preocupa a ponto de a inflação ultrapassar o limite superior da meta prevista para o ano”. “A rigor, entende-se o sucesso do regime de metas de inflação quando o índice fica no intervalo proposto. Como há pressão e estamos nos distanciando do centro, o governo deve manter a política monetária apertada, porém como efeito, acabará comprometendo o nível de crescimento da economia em 2011”, afirma.

CLIMA ECONÔMICO
Cautela na sondagem reflete temor com IPCA

Rio O temor do avanço da inflação, aliado às incertezas que sempre cercam a implementação de um novo governo, levaram os analistas latino-americanos a postura de “cautela” quanto ao Brasil, segundo a coordenadora de projetos do Centro de Estudos do Setor Externo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Cesex-Ibre/FGV), Lia Valls. Ela lembrou que a preocupação com o avanço da inflação não é privilégio do Brasil. “O medo da inflação não é peculiar somente ao Brasil. Com o aumento nos preços das commodities, há um temor generalizado no mundo em relação ao rumos da inflação”, disse. Segundo ela, o Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil, indicador calculado com base nas respostas apuradas para a Sondagem Econômica da América Latina, desacelerou levemente, de 6,8 para 6,7 pontos de outubro de 2010 para janeiro deste ano (em uma escala de até nove pontos, onde respostas acima de cinco pontos são consideradas positivas).

Ao mesmo tempo, o País, no mesmo período, desceu da 3ª para a 4ª posição no ranking de clima econômico dos 11 países latino-americanos, pesquisados pela Sondagem. O ranking é feito a partir do cálculo do ICE médio de cada país apurado nos últimos quatro trimestres. “Mas as pontuações do Brasil, tanto no ICE do trimestre quanto no ranking, continuam acima de cinco pontos, ou seja, em cenário positivo, mesmo com estes recuos”, comentou a especialista. Na sua análise , o mais correto seria encarar que as avaliações sobre o Brasil ainda estão “em compasso de espera”. Ela reiterou que a sondagem ouviu 143 especialistas em 18 países em janeiro e foi apurada antes do governo anunciar intenção de cortes de gastos públicos.

Fonte http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=938028

ANCHIETA DANTAS JR.
REPÓRTER

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