RUA JOSÉ AVELINO (12/7/2010)
Comerciantes afirmam que 95% dos feirantes que ocupam a Rua José Avelino possuem pontos nos galpões privados
Na tentativa de comercializar suas mercadorias, feirantes insistem em ocupar espaços públicos da cidade. Na semana passada, o jornal mostrou, em várias reportagens, que no entorno do Mercado Central e praças públicas estão tomadas por vendedores ambulantes. No entanto, muitos afirmam que chega a ser inviável conseguir uma vaga nos galpões, pois diante da grande procura, os proprietários cobram até R$3 mil por ponto. Muitos donos de bancas, chegam a cobrar até R$30 mil para revender o espaço.
“Temos que carregar a mercadoria e a bolsa pesada no ombro, pois não é permitido colocar nem a sacola no chão, ou estamos arriscando ter a mercadoria apreendida”, desabafa o feirante José Francisco Alves. Segundo ele, existe um comércio de revenda de pontos dentro dos galpões e os mais prejudicados são os que não têm condições financeiras para comprar.
Ele conta que há dois anos realizou uma inscrição na tentativa de conseguir um ponto em um dos galpões, mas nunca foi chamado pela Prefeitura.
De acordo com Alves, na época, só era preciso pagar R$ 150,00, mas hoje, com a grande procura, muitos feirantes estão vendendo pontos até por R$ 30 mil. “Somos obrigados a ir vender na rua, pois não temos como pagar por um espaço novo, muito menos por uma banca antiga”, ressalta o feirante.
Prejuízos
A vendedora Sílvia Dantas também se sente prejudicada com o comércio. Segundo ela, não tem outro meio para sustentar sua família, se não for vender nas ruas do Centro da Capital cearense. “Não somos ricos, não temos dinheiro para pagar essa quantia que nos cobram, queremos apenas trabalhar honestamente”, frisa Sílvia.
Por outro lado, os feirantes que possuem ponto nos galpões privados afirmam que a maioria dos vendedores que está nas ruas também possue espaço no galpão. Segundo Bartolomeu Cardoso, feirante há 15 anos, muitos deles se sentem prejudicados com as bancas localizadas na parte de traz dos galpões e vão para a José Avelino nos dias de segunda-feira e quinta-feira.
Ele reclama que o comércio ilegal prejudica os que pagam para manter seu espaço. “Apesar de eles quererem sobreviver, acho que estão atrapalhando nossas vendas. Se todos ficassem no seu lugar, essa bagunça não existiria”.
No entanto, o comerciante afirma que de fato há a venda de pontos nos galpões, há preços que variam em até R$30 mil. “Se eu fosse repassar a minha banca, jamais daria por um preço menor do que esse, seria injusto”, comenta.
Lei da oferta
Mas, para quem pensa que essa história é conversa de feirante está errado. O próprio administrador de uma dos galpões privados na Rua José Avelino, Francisco Nelson, confirma os relatos. Segundo ele, há pouco mais de um ano, na época da desocupação da Praça Dom Pedro II, conhecida como Praça da Sé (em frente à Catedral Metropolitana), os proprietários dos galpões chegaram a doar pontos, comprando apenas a mesa de ferro que compõe a banca no valor de R$150,00.
Porém, diante da grande procura de pontos foi necessário construir novos galpões e até ampliar outros. “Aqui vem gente de vários municípios do Ceará, inclusive pessoas que nunca foram feirantes. Não posso arcar com todas as despesas. É por isso que cobro o valor de R$ 3 mil por um ponto no novo galpão e R$25,00 por semana para manutenção”, justifica.
A respeito da revenda de bancas, ele reconhece que o fato existe com consentimento dos administradores. “Se o feirante está há mais de dez anos no mesmo ponto, creio que ele não repassará a banca por qualquer valor, alguns vendem por R$ 20 mil ou R$30 mil”, conclui.
CENTRO
Fiscalização é intensificada
Segundo o chefe de Fiscalização da Prefeitura de Fortaleza, Felipe Martins, 44 auxiliares, dois chefes de turno e dois fiscais fazem a segurança durante 24 horas no local, sobretudo para evitar a comercialização de feirante no espaço público.
Conforme Martins, a ação é integrada entre a Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), Secretaria Executiva Regional (SER) II, Guarda Municipal e Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC). Acrescenta que, além dos fiscais, cerca de 20 guardas municipais auxiliam na desocupação do espaço público no Centro.
“A nossa intenção é acabar com esse comércio ilegal”, promete. Ainda segundo o chefe da Fiscalização, não só a ocupação das calçadas e ruas está sendo combatida, como também a venda de produtos pirateados.
Conforme Martins, a multa para quem for pegue vendendo mercadoria em espaços públicos varia de R$52 a 250 reais e, dependendo da reincidência, o valor duplica.
Ainda segundo ele, dentro de 30 dias, a Secretaria Regional do Centro estará com um afetivo de 76 homens a mais, com o objetivo de fiscalizar as ruas da área central da cidade. Conforme o chefe da fiscalização, a empresa terceirizada já teria sido contratada pela Prefeitura. “A expectativa é que com esse novo efetivo, os feirantes deixem definitivamente de ocupar os espaços públicos”, acredita.
Indignada com a fiscalização, a feirante Marília da Silva diz que é um absurdo a forma como são abordados. “Não podemos nem descansar com as sacolas nas caçadas que eles nos pegam desprevenidos e levam a nossa mercadoria”, queixa-se.
O fiscal André Costa explica que está sendo respeitado o direito de ir e vir dos feirantes, mas a partir do momento que eles colocam a mercadoria na rua ou nas calçadas, impedindo o tráfego ou a passagem dos transeuntes, a obrigação deles é notificar e apreender a mercadoria. “Queremos apenas discipliná-los, alguns deles chegam a trazer 12 sacolas para a rua, mas não vamos mais permitir. A primeira ação é educar, depois notificar”, conclui.
Enquete
Incertezas e medo
Antônio Carlos Caetano
40 ANOS
Feirante
Há dez anos, vendo aqui nesse galpão, e posso afirmar que a maioria dos feirantes da rua tem ponto aqui dentro
Rafael Brasileiro
39 ANOS
Feirante
O pessoal da rua geralmente tem banca na parte de traz do galpão. Eles reclamam que não vendem muito e vão para a rua
Graça do Nascimento
62 ANOS
Feirante
Quando eu trabalhava na Praça da Sé, chegava a vender R$300,00, por dia. Agora, no galpão, vendo muito menos