CONSUMO X INADIMPLÊNCIA
Sete em cada dez brasileiros que pagam prestação do carro também têm dívidas no cartão de crédito
São Paulo Uma pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e divulgada ontem mostra que 68% dos brasileiros que pagam financiamento de um veículo também têm dívidas parceladas no cartão de crédito. O acúmulo de dívidas é visto como um alerta por prestadores de serviços de proteção ao crédito, que veem isso como fator que pode levar à inadimplência. A pesquisa ouviu 623 consumidores em todas as capitais brasileiras
Com o prazo final do benefício de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis marcado para 31 de outubro, a expectativa é de que haja uma corrida às concessionárias na próxima semana. A pesquisa aponta que 91% dos consumidores pretendem fazer um financiamento de automóvel nos próximos seis meses. Esse porcentual é ainda maior nas classes C, D e E (93%).
Os economistas do SPC orientam as famílias que não comprometam mais do que 30% da renda com parcelas para a compra do carro novo e gastos decorrentes do uso do automóvel. A instituição aponta ainda que os consumidores não levam em conta os custos de manutenção, imposto, combustível e seguro quando assumem dívida para a compra de um carro novo. “Mas ele (consumidor) deveria fazer uma análise do impacto desta prestação na própria vida financeira, caso ocorra algum imprevisto, como por exemplo, ficar desempregado”, afirmou, em nota distribuída à imprensa, Nelson Barrizzelli, economista do SPC Brasil.
Eletrodomésticos
O estudo analisou ainda as compras de eletrodomésticos da linha branca, também beneficiados pela redução do IPI. Cinco em cada dez produtos comprados são parcelados no cartão de crédito, com ou sem juros. Do total de compras de eletrodomésticos parceladas, 28% são feitas pelas classes C, D e E e 26%, pelas classes A e B. A maioria (54%) das pessoas das classes C, D e E que pagaram a prazo, usando o cartão, financiou a compra em seis ou mais parcelas.
Na maioria dos casos, contudo, o consumidor não sabe quanto paga pelos encargos financeiros. Apenas 15% dos consumidores de eletrodomésticos que parcelam as compras no cartão disseram saber a forma de calcular o custo efetivo total do produto.
O presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes de Lojas (CNDL), Roque Pellizzaro Jr., ressaltou, por meio de nota, que o cenário é de estímulo ao consumo, o que está possibilitando que as pessoas tenham acesso a bens que anteriormente não poderiam comprar caso precisassem pagar à vista. O dirigente, contudo, alerta: “A ânsia de consumir deve ser dosada com planejamento financeiro”.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Melhor opção é poupar para comprar à vista
Embora o percentual de endividamento do Brasil seja baixo em relação ao resto do mundo, o custo da nossa dívida é muito alto. O quanto da minha renda vai ser destinado ao pagamento de financiamentos é o problema. O brasileiro não estava acostumado a tomar crédito e está fazendo dívidas caras, muitas vezes de bens supérfluos, que poderiam ser adiados. No momento o nível de desemprego no País está baixo e os salários têm experimentado crescimento real, mas essa condição pode mudar. No caso de chegarmos a uma estagnação econômica, haverá o aumento d a inadimplência ao mesmo tempo em que não teremos o mesmo nível de ganho salarial dos últimos anos. O melhor seria poupar para comprar a vista, evitando dívidas insustentáveis como no cheque especial e no cartão de crédito.
Ênio Viana
Economista
Fonte: Diário do Nordeste