até 60% dos gastos
Com a alta carga tributária, família perde a possibilidade de poupar mais para viajar e melhorar a situação da casa
Dos gastos das famílias brasileiras, até 60% chegam a representar tributos, segundo especialistas. A família Lisboa, por exemplo, sabe calcular na ponta do lápis o peso da carga tributária, apesar da falta de informação discriminada nas contas do dia-a-dia. Uma das opções da família é ir à pizzaria no domingo a noite. Quando o garçom traz o valor das despesas, eles sabem muito bem que daqueles R$ 80,00 cobrados pelo estabelecimento, a fatia do imposto fica entre 40% e 50%, ou seja, o dinheiro daria para pagar duas despesas semelhantes não fosse a elevada taxação.
A matriarca da família, a analista de sistemas Hiana Carneiro Magalhães, revela que costuma calcular tudo. Na opinião dela, se houvesse uma redução significativa no montante final cobrado sobre cada produto, sobraria mais dinheiro para economizar ou dar uma qualidade de vida melhor para a família.
“Acho que o imposto muito alto onera o preço. Fica difícil sobrar. Pelo menos o que é de caráter básico deveria ter a alíquota reduzida. Quando há algum acontecimento atípico eu não consigo poupar para o outro mês”, conta.
Paga dobrado
Integrante da classe média, ela reclama de que acaba pagando os tributos duas vezes por causa da ausência de um retorno de qualidade da sua contribuição em benefícios em prol da população. E ela tem razão à medida que é dever do governo oferecer segurança, educação e saúde para o povo, que já paga por isso.
Quando a contrapartida governamental não é cumprida, ou melhor, quando compulsoriamente paga-se por uma coisa e não se recebe nada em troca, deve-se procurar uma outra fonte que preste o serviço.
Só que na segurança, educação e saúde privados também se paga impostos. Aliás, muitos desses serviços são caros por conta dessa cobrança.
A família Lisboa reconhece que esse fenômeno limita ainda mais a capacidade dos seus recursos. E o que daria para guardar com o fim de fazer a tão sonhada viagem com os filhos para o exterior acaba sendo dissolvido pelo sistema tributário brasileiro.
Como se isso já não fosse o pior – a coisa degringola de vez e fecha o ciclo, que atrasa um País inteiro, – quando tudo o que é arrecadado nas esferas municipais, estaduais e federais não são investidos de maneira eficiente, seja em virtude de incompetência dos governantes, seja por esquemas de corrupção camuflados por eles.
Sem retorno
“Eu não enxergo esse dinheiro voltando. Veja as ruas de Fortaleza, por exemplo. A impressão que dá é que eles quebram os asfalto ruim para colocar um mais horrível ainda. A sensação que se tem é a mesma de ver o nosso dinheiro escoando pelo ralo. Às vezes, é doloroso não ser alienada”, desabafa.
No ponto de vista de Hiana, a conta da pizza deveria vir pormenorizada com o montante final que está sendo cobrado só em impostos. “Em tudo que se compra deveria vir assim. Só dessa maneira, a gente poderia economizar, podendo ter o direito de escolher o tipo de mercadoria onde estivessem sendo aplicados menos tributos”, sugere, destacando que a variedade de percentuais em cada tipo de mercadoria é o que mais atrapalha na hora de tentar descobrir quanto do seu gasto foi para esse destino.
Planejamento
Uma das formas de conviver com a alta tributação é realizar planejamento, especialmente, no caso do início do ano, quando há um incremento dos impostos. Hiana e seu marido Francisco Lisboa, por exemplo, costumam antecipar as matrículas escolares e da universidade dos filhos para não acumular tudo em janeiro.
“A gente compra até o material escolar todo deles com o valor do 13º salário para aliviar a pancada do começo de ano”, conta a analista.
R$ 612,06 DO CEARENSE
Pagamento é igual a 2 cestas básicas
Até a última sexta-feira, à tarde, o cearense já tinha desembolsado mais de R$ 5,4 bilhões em pagamento de tributos no acumulado deste ano. A previsão do impostômetro é que a arrecadação chegue a R$ 7,4 bilhões – a maior na série histórica do último quadriênio. Se a estimativa for confirmada, o crescimento ante o ano anterior, que tinha batido os R$ 6,5 bilhões, será de 13,8%. Conforme o levantamento, no Estado, dividido pelo número de habitantes, o cearense pagou R$ 612,06 em tributos, o mesmo que duas cestas básicas. Com esse montante ele levaria 32 anos, três meses e sete dias para comprar uma casa própria.
Disparadamente, Fortaleza é a cidade que puxa a arrecadação no Estado. No acumulado do ano, o fortalezense já desembolsou R$ 4,0 bilhões. Isso representa mais de 70% do volume total do Ceará inteiro.
A projeção do impostômetro para Fortaleza ao fim de 2011 é de uma arrecadação de R$ 5,2 bilhões. Uma elevação de 13% sobre os R$ 4,6 bilhões registrados no ano passado.
De acordo com a estatística do site, cada cidadão da Capital alencarina já pagou R$ 1.574,05 em tributos (triplo da média do Estado), o equivalente a cinco cestas básicas, do início deste ano até a última sexta-feira. Além disso, com esse montante pode-se comprar a casa própria em 12 anos, seis meses e 17 dias. As informações do impostômetro confirmam a concentração na Capital de tudo o que é recolhido no Estado.
Procurar ajuda
Conforme a contadora e conselheira do Conselho Regional de Contabilidade (CRC), Claurea Andrea Moreira Tavares, o fato de famílias terem de contribuir com até 60% dos gastos só em tributações municipais, estaduais e federais, é preponderante para que, a cada ano, a arrecadação bata recordes seguidos.
Por isso, ela orienta o cidadão comum a procurar o profissional de contabilidade para ajudá-lo a, pelo menos, entender um pouco mais sobre o funcionamento da tributação no País.
“O contador é a pessoa mais qualificada para dar esse tipo de orientação. Existem muitos detalhes, impostos com efeito em cascata, cruzamento de informações, fragmentação de alguns tributos, entre outros detalhes. Realmente, não é simples nem para as empresas, imagine para o cidadão comum”, diz a especialista, ressaltando que a internet também é um excelente ferramenta de informação.(ISJ)
Apetite
7,4 bi de reais é a projeção do Impostômetro para os tributos recolhidos em 2012 no Brasil, nas três esferas de poder
ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTER
Fonte http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1050486