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O preço do desastre

By 24/11/2015No Comments

 Dessa vez, estaremos sós. Não haverá culpados externos. O relatório intitulado “Global Economics Analyst” assevera que o Brasil será o único país entre as 12 maiores economias do mundo que registrará queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016. O preço do desastre e da incompetência não será cobrado apenas imediatamente. A previsão é de uma década de estagnação.

Queremos ser otimistas, mas não há elementos estimulantes. Fonte primária de grande parte dos problemas e desequilíbrios, o Governo Federal se apresenta inerte. Não há um plano. Não há um conjunto de medidas capazes de gerar esperanças e boas perspectivas. O único flanco de trabalho firme do Governo é a articulação política para desmobilizar possíveis processos de impeachment da presidente.

Em que pé ficou a reforma administrativa cuja anunciada pretensão seria diminuir o tamanho paquidérmico do Estado? Ninguém, nem mesmo a oposição, toca mais nesse assunto que, sim, tem valor simbólico, porém sugestivo. Depois de desmontada parte da pauta bomba que tramitava no Congresso, o Governo vai se voltar agora para um só ponto: a aprovação da CPMF. Anotem.

Enquanto isso, o rio de lama em Minas Gerais nos serve de metáfora. A cada avanço das investigações no âmbito da Operação Lava Jato, mais rios de lama. Um rastro de sujeira e corrupção. Um fedor repugnante. Nauseabundo. As desculpas esfarrapadas se amontoam. Tratam-nos como imbecis.

Como uma decisão do STF retirou de Curitiba as extensões do esquema de corrupção, o foco da Operação Lava-Jato é somente o propinoduto da Petrobras. As investigações se aprofundam nesse ponto. A desastrada e criminosa compra da refinaria em Pasadena, nos EUA, está sendo esmiuçada. As descobertas são assombrosas.

Percebe-se que algumas decisões de grande relevo financeiro da estatal ocorreram motivadas pelo esquema de corrupção. Quanto mais negócios e mais exorbitantes os valores envolvidos, mais milionárias eram as propinas. Parecia ser esta a lógica que movia muitas das decisões da Petrobras.

Os fatos nos fazem crer que o espírito que regeu os negócios da Petrobras também deve ter regido a gestão do país. No mínimo, muita negligência e pouca competência. Deu no que está dando.

COMO EXPIAR AS CULPAS
Com formação de esquerda, o cientista político Marco Aurélio Nogueira escreveu artigo (Estadão) explorando com competência o agressivo debate que, muitas vezes, torna o ar irrespirável e, evidentemente, o pensamento turvo. O título do artigo já diz muito: “Ao estigmatizar os adversários como sendo ‘de direita’, esquerda perde credibilidade”. Pincei alguns pontos.

“No Brasil recente, descobrir ‘direitistas’ virou rotina de muitos militantes de esquerda, mais identificados ou menos com o PT, os governos petistas e os partidos que se pretendem senhores da esquerda. Cresceu uma espécie de ‘pensamento único’ de esquerda, segundo o qual existiria somente um caminho para a emancipação nacional, somente um governo justo, somente uma orientação adequada e somente uma liderança qualificada”.

“Tachar o adversário de ‘direitista’ significava interditá-lo como interlocutor. Bastava uma pequena divergência para que se sacasse do bolso a arma da estigmatização: ‘coxinha’, ‘reacionário’, ‘neoliberal’. A manobra buscava purificar os acusadores, expiando seus crimes e culpas. Para alargar o foco e aumentar sua contundência, enfiou-se no mesmo saco da ‘direita’ tudo o que não seria de ‘esquerda’: conservadores, centro, liberais, moderados, reformistas”.

“A base (dessa atitude) é simplória e dogmática. Nela, não se pensa a política de modo plural e dialético ou não se pode por em dúvida ‘verdades’ tidas como sagradas… Faz-se acusação reducionista, valendo-se algumas vezes da localização do adversário numa espécie de panteão negativo integrado pelas bestas-feras da direita mais militante e assumida”.

“Alguns destes justiceiros de esquerda são cínicos e sabem que estão somente jogando para a plateia, que no fundo não se distinguem daqueles que buscam estigmatizar. Muitos tiram o que podem da política, inclusive dinheiro. Tornam-se ricos e bem de vida. Para processar a angústia e a culpa (ou a vergonha) que sentem, para acalmar o ego da tensão em que se encontra, terminam por chegar a uma racionalização como mecanismo de defesa, passando a ver todos os que pensam diferentemente como sendo ‘de direita’.”

Noutro artigo, o analista tratou do comportamento da “direita”. Tratarei no próximo domingo.

CONCESSÃO DO AEROPORTO
O Governo Federal caminhou na concessão do Pinto Martins. Na quinta-feira passada, o Diário Oficial da União divulgou que o consórcio Brasil Aéreo fará os estudos para subsidiar a modelagem da concessão para a expansão, exploração e manutenção do terminal de Fortaleza. O mesmo consórcio fará também os estudos do aeroporto de Salvador. A empresa que vencer o leilão do Pinto Martins, previsto para maio de 2016, pagará R$ 7,13 milhões à Brasil Aéreo. Outra mudança: em busca de caixa, o Governo Federal estuda adotar medida que obrigará as empresas vencedoras do leilão a pagar antecipadamente, à vista, pela outorga das concessões. Ou seja, o preço vai cair e somente as grandes empresas ou consórcios terão recursos para bancar o negócio.

CENÁRIO
O meio político está andando às cegas no que diz respeito ao modo de financiamento das eleições do ano que vem. Pela regra em vigor, as empresas estão proibidas de doar para campanhas eleitorais. Sendo assim, como os comitês vão financiar as candidaturas a prefeito? Não há respostas fáceis. Nos bastidores, com fontes off, o raciocínio que mais se expõe é o seguinte: o caixa dois será a saída. Levanta-se uma questão: uma campanha vistosa, com muito material de propaganda e um programa de TV notoriamente mais caro que o dos concorrentes chamaria a atenção. Mas, o que se pode fazer quanto a isso? A Justiça Eleitoral não tem mecanismos para tratar desse ponto. Outra: com caixa dois, a tendência será trabalhar com dinheiro vivo nas mãos dos cabos eleitorais. Pior: caso as empresas rejeitem doar via caixa dois, a solução seria buscar dinheiro no mundo do crime.

EMBATE
O Jogo Político deste domingo coloca lado a lado o vice-líder de Camilo Santana na Assembleia Legislativa, Júlio Cesar Filho (PTN), e o deputado estadual de oposição, Capitão Wagner Souza (PR). O programa vai ar às 22 horas de domingo, nas TVs O POVO e Fortaleza. Na noite de segunda-feira, às 22 horas, a TV Assembleia também transmite a entrevista.

Fábio Campos
[email protected]

Fonte.: Jornal O POVO.